Num ano marcado pela seca, redução da produção hidrelétrica foi compensada pelo aumento na geração de carvão, levando a uma expansão de 1% nas emissões globais de carbono do setor de energia
11 de julho de 2024
As energias renováveis ultrapassaram pela primeira vez, em 2023, a marca de 30% do total global, impulsionadas principalmente pelo crescimento de 13,4% da geração solar e de 0,2% da eólica. Com o avanço da energia de baixo carbono, o ano provavelmente foi o de pico das emissões de gases de efeito estufa no setor. A China foi o país que mais contribuiu para este resultado, seguida do Brasil, o destaque no G20. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira pela Ember, uma instituição internacional de estudos do setor.
A energia solar foi a que registrou o crescimento mais rápido pelo 19º ano consecutivo, mantendo-se como a maior fonte de nova eletricidade pelo segundo ano consecutivo. O aumento recorde nas instalações no final de 2023 significa que 2024 está definido para um aumento ainda maior na geração solar.
Hidrelétrica caiu para o nível mais baixo em cinco anos
A liderança da China e do Brasil
A China respondeu por 51% da geração solar global adicional e 60% da nova geração eólica. Já o Brasil veio logo depois, com o segundo maior aumento anual de geração eólica e solar do mundo, de 36 TWh. De acordo com a Ember, a expansão das renováveis no Brasil permitiu que o país atendesse sua crescente demanda por eletricidade na última década com energias de baixo carbono, resultando em emissões de gases de efeito estufa do setor de energia significativamente reduzidas.
O Brasil também é líder em eletricidade renovável dentro do G20, com 89% de suas fontes de origem limpa, três vezes mais do que a média global de 30%. Segundo a Ember, o restante do G20 pode seguir o modelo bem-sucedido do Brasil e liderar a transição global para um futuro de energia sustentável. Durante os 12 meses de março de 2023 a abril de 2024, a energia solar gerou 9,1% da eletricidade do Brasil, notavelmente maior do que a média do G20 (6,4%), enquanto o vento resultou em 14% da eletricidade – acima da média de 8,7% do G20.
O sucesso do Brasil em atingir uma parcela tão alta de renováveis é atribuído, principalmente, à sua robusta base hidrelétrica e à rápida expansão da energia solar e eólica nos últimos anos. A parcela da hidrelétrica flutuou de ano para ano na última década, em meio a condições climáticas variáveis, ficando em 60% da eletricidade do Brasil em 2023, em comparação com 63% em média desde 2013.
Já a proporção de eólica e solar tem crescido rapidamente nos últimos anos, atingindo 21% em 2023, um aumento substancial de quatro pontos percentuais em relação aos 17% de 2022 e de apenas 5,8% em 2016.
Ponto de virada nas emissões de carbono
O ano de 2023 pode ter marcado o pico das emissões de gases de efeito estufa do setor. A expansão da capacidade limpa teria sido suficiente para resultar numa queda nas emissões globais do setor de energia em 2023. No entanto, a seca reduziu a produção hidrelétrica, criando um déficit que foi atendido em grande parte pelo carvão, combinado com a energia nuclear.
Os países do G20, incluindo o Brasil, já estão pelo menos cinco anos após o auge das emissões. Como resultado, a intensidade de dióxido de carbono (CO2) da geração global de energia atingiu um novo recorde de baixa, 12% menor do que seu pico em 2007.
Seca prejudicou a geração hidrelétrica
O ano também foi marcado pela seca, que reduziu a produção hidrelétrica. Em condições normais, a capacidade limpa adicionada durante o ano teria sido suficiente para permitir uma queda de 1,1% na geração fóssil. No entanto, o déficit na energia hidrelétrica foi atendido por um aumento na geração de carvão, o que levou a um aumento de 1% nas emissões globais do setor de energia. 95% do aumento da geração de carvão em 2023 ocorreu em quatro países que foram severamente afetados por secas: China, Índia, Vietnã e México.
Demanda explode na China
A demanda global por eletricidade atingiu um recorde em 2023, com um aumento de 627 TWh, o que equivale a adicionar toda a demanda do Canadá (+607 TWh). No entanto, o aumento foi de 2,2%, abaixo da média dos últimos anos, devido a uma queda acentuada na procura em países da OCDE, principalmente nos EUA (-1,4%) e na UE (-3,4%).
Já a demanda na China (+6,9%) foi equivalente ao crescimento global total da demanda em 2023. Mais da metade do aumento da demanda por eletricidade em 2023 foi de cinco tecnologias: veículos elétricos (VEs), bombas de calor, eletrolisadores, ar condicionado e data centers. A disseminação dessas tecnologias acelerará o crescimento da demanda por eletricidade, mas a demanda geral por energia diminuirá, pois a eletrificação é muito mais eficiente do que os combustíveis fósseis.
Geração fóssil tende a cair
A Ember prevê que a geração fóssil cairá ligeiramente em 2024, levando a quedas maiores nos anos subsequentes. Espera-se que o crescimento da demanda em 2024 seja maior do que em 2023 (+968 TWh), mas o crescimento da geração limpa deve ser ainda maior (+1300 TWh), levando a uma queda de 2% na geração fóssil global (-333 TWh).
A quinta Global Electricity Review anual da Ember fornece a primeira visão geral abrangente das mudanças na geração global de eletricidade em 2023. O relatório analisa dados de eletricidade de 215 países, incluindo informações de 2023 para 80 países que representam 92% da demanda global de eletricidade.