Primeiro programa de aceleração do WRI teve 84 municípios inscritos, dos quais Campo Grande (MS) e Maranguape (CE) foram os que mais evoluíram e estão entre os que conseguiram apoio financeiro
07 de agosto de 2024
As Soluções Baseadas na Natureza (SBN) representam oportunidade para as cidades brasileiras, principalmente de adaptação climática. No entanto, ainda não são adotadas em larga escala. A principal barreira é o financiamento, segundo o Acelerador de Soluções Baseadas na Natureza liderado pelo WRI Brasil, que publicou nesta quarta-feira (7/8) a compilação da primeira experiência de aceleração em municípios do Brasil.
Apesar de existirem boas ideias e vontade, destaca o WRI, faltam iniciativas estruturadas capazes de superar desafios técnicos, institucionais e, principalmente, financeiros. O Acelerador comprovou, porém, que esses obstáculos podem ser superados, mediante capacitação e apoio personalizado.
O Parque Pirapora, em Maranguape (CE), por exemplo, foi contemplado com R$ 37 milhões do Novo PAC para implementar parte significativa do projeto. A iniciativa “Verde Urbano” em Estrela (RS) também foi contemplada pelo PAC e terá aporte de R$ 17 milhões para execução. O Sistema de Infraestrutura Verde e Azul, de Sobral (CE), deverá receber R$ 9 milhões.
A importância da adaptação das cidades
Os eventos climáticos estão afetando a vida das pessoas, agravando a desigualdade e aumentando a vulnerabilidade, disse o gerente de Desenvolvimento Urbano no WRI Brasil, Henrique Evers, durante o webinar que marcou o lançamento da publicação. Ele participou a partir de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, lembrada como exemplo da importância da adaptação climática das cidades.
Entre 2013 e 2023, mais de quatro milhões de pessoas no Brasil perderam suas casas ou foram deslocadas devido a eventos climáticos extremos. O Acelerador busca a superação de desafios técnicos, institucionais e, principalmente, financeiros.
A publicação do WRI compila as informações levantadas durante o primeiro programa de aceleração para projetos urbanos de SBN no Brasil. A iniciativa teve 84 municípios inscritos, a maioria de porte médio, com população entre 100 e 500 mil habitantes: Camaçari (BA), Estrela (RS), Maringá (PR), Maranguape (CE), Raposos (MG), Santos (SP), São Carlos (SP) e Sobral (CE). Duas cidades de maior porte, São José dos Campos (SP) e Campo Grande (MS), também participaram.
A implementação das ações projetadas pelas cidades contempladas no primeiro Acelerador de Soluções Baseadas na Natureza poderia beneficiar três milhões de pessoas em todo o Brasil.
Em nove meses, entre dezembro de 2022 e agosto de 2023, o Acelerador levou três projetos do estágio de ideação (quando a ideia é apresentada) até a pré-viabilidade; quatro projetos foram levados à fase de estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental, e três para o nível de projeto básico.
Os municípios receberam capacitação, mentoria e apoio técnico para tirar projetos verdes do papel e para se conectar com potenciais financiadores. Os projetos que mais avançaram na viabilidade técnica, de Campo Grande e Maranguape, receberam apoio adicional até junho de 2024.
Localizado na Região Metropolitana de Fortaleza, o município de Maranguape foi destaque ao apresentar o projeto Parque Pirapora – de infraestrutura sustentável resiliente aos efeitos das mudanças climáticas. A cidade cearense foi uma das duas selecionadas para a fase final do programa, ao lado de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, com o projeto Parque dos Ipês.
Falta de projeto dificulta financiamento
As SBN são infraestruturas verdes, que recompõem processos naturais como a drenagem das águas e a regulação da temperatura, como os parques lineares, jardins de chuva e corredores ecológicos. De acordo com o WRI, essas iniciativas custam, em média, 50% menos do que a infraestrutura cinza tradicional e geram 28% a mais de valor agregado em termos de produtividade, benefícios socioambientais e geração de cadeias de trabalho resilientes.
Em 2021, as SBN receberam apenas 0,3% do investimento total em infraestrutura urbana no mundo. Em parte, isso aconteceu devido à escassez de projetos que conciliam a promoção da sustentabilidade com o atendimento a critérios financeiros, técnicos e legais necessários para serem aprovados por instituições financeiras e atrair investidores.
Entre as obras propostas pelas cidades selecionadas estão parques urbanos multifuncionais que combinam equipamentos públicos com soluções verdes para gerar resiliência climática, revitalização de rios urbanos, agricultura urbana, manejo sustentável de águas pluviais, unidades de conservação e corredores ecológicos. A maior parte dos projetos foi proposta por entidades do setor público, como prefeituras e secretarias municipais.
Além de obras e melhorias, a iniciativa do WRI Brasil gerou aprendizados sobre como elaborar projetos mais robustos e qualificados para aumentar as possibilidades de acessar financiamento. Dado o perfil e localização das cidades participantes, são lições replicáveis em um grande número de municípios brasileiros.
O Acelerador de Soluções Baseadas na Natureza em Cidades é uma realização do WRI Brasil, com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Conta com financiamento da Caterpillar Foundation e do Ministério do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido (Defra UK), e parceria da iniciativa Cities4Forests e da Aliança Bioconexão Urbana.
Maranguape, no Ceará. Foto: divulgação Prefeitura de Maranguape