Calor, secas e ventos provocaram os incêndios “supercarregados” no maior pântano do mundo, segundo o primeiro estudo de atribuição realizado pelo WWA sobre o problema
08 de agosto de 2024
As mudanças climáticas tornaram as condições quentes, secas e ventosas 40% mais intensas e quatro a cinco vezes mais prováveis, o que impulsionou os incêndios catastróficos no Pantanal ocidental do Brasil, durante o mês de junho deste ano. A análise é do primeiro estudo de atribuição sobre o caso realizado pela World Weather Attribution (WWA), uma rede internacional de cientistas de clima com foco na produção de estudos de atribuição pouco tempo após sua ocorrência.
O aumento do risco de incêndio é impulsionado, principalmente, pelas altas temperaturas e pela diminuição da precipitação e da umidade relativa.
“Os incêndios no Pantanal deste ano têm o potencial de se tornarem os piores de todos. Esperam-se condições ainda mais quentes ao longo deste mês e dos próximos meses, e há uma ameaça considerável de que os incêndios possam queimar mais de três milhões de hectares”, alerta Filippe Lemos Maia Santos, um dos cientistas brasileiros que participaram do estudo.
“Infelizmente, incêndios massivos estão se tornando uma nova normalidade no Pantanal. A área do pântano submersa por águas de inundação está diminuindo à medida que as temperaturas aumentam, tornando a vegetação muito mais seca e inflamável”, completa. Filippe é pesquisador do Instituto de Ciências da Terra, Instituto de Investigação e Formação Avançada da Universidade de Évora, em Portugal, e colaborador da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O levantamento destaca a necessidade urgente de substituir os combustíveis fósseis por energia renovável, reduzir o desmatamento e fortalecer as proibições de queimadas controladas para enfrentar o impacto dos incêndios florestais na vida selvagem, comunidades indígenas e agricultores.
Dados do estudo
Com a análise foi possível confirmar que as mudanças climáticas potencializaram os incêndios no Pantanal, segundo Clair Barnes, pesquisadora do Grantham Institute – Climate Change and the Environment, Imperial College London, uma das cientistas do estudo. “À medida que as emissões de combustíveis fósseis aquecem o clima, o pântano está esquentando, secando e se transformando em um barril de pólvora. Isso significa que pequenos incêndios podem rapidamente se transformar em devastadores, independentemente de como são iniciados”, explica.
O Pantanal brasileiro, o maior pântano tropical do mundo, está vivenciando uma temporada devastadora de incêndios. Mais de 1,2 milhão de hectares (12.000 km²) são considerados queimados em 2024. Isso representa cerca de 8% do bioma, e uma área equivalente a quase metade do tamanho da Bélgica. Os incêndios começaram no final de maio, mais cedo que o comum, após uma temporada de chuvas extremamente seca.
No mês de junho o Pantanal viveu incêndios florestais devastadores, com uma estimativa de 440.000 hectares queimados, quebrando o recorde anterior de junho de 257.000 hectares e a média de junho de 8.300 hectares. O pico da temporada de incêndios normalmente ocorre em agosto e setembro.
O Pantanal é um hotspot de biodiversidade, lar de espécies ameaçadas e em perigo, como jaguares, lontras gigantes, lobos-guarás, macacos-pregos e cervos-do-pantanal. É provável que os incêndios deste ano já tenham matado milhões de animais – estima-se que 17 milhões de vertebrados tenham morrido na temporada de incêndios de 2020 no Pantanal, quando 3.900.000 hectares queimaram.
O estudo foi conduzido por 18 pesquisadores, como parte do grupo World Weather Attribution (WWA), incluindo cientistas de universidades e agências meteorológicas no Brasil, Portugal, Estados Unidos, Suécia, Países Baixos e Reino Unido.
O trabalho focou os incêndios florestais que ocorreram durante o mês de junho no Pantanal brasileiro e analisou o Daily Severity Rating (DSR), uma métrica que considera temperatura, umidade, velocidade do vento e precipitação para estimar a intensidade potencial de um incêndio e quão difícil será apagá-lo.