carbonreport.com.br

Cada tonelada de sucata fornecida pelo Grupo Qualy à siderurgia gera 1,5 crédito de carbono

Cada tonelada de sucata fornecida pelo Grupo Qualy à siderurgia gera 1,5 crédito de carbono

O consumo de metal reutilizado pela indústria brasileira pode originar o equivalente a 18 milhões créditos de CO2 por ano, disse ao Carbon Report o CEO da recicladora, Carlos Tobias Junior

04 de dezembro de 2023

Mariza Louven

A reciclagem é uma mina de ouro para o Grupo Qualy, que está vislumbrando possibilidades “infinitas” de faturar também com o mercado de carbono. Enquanto a regulamentação do comércio desses títulos tramita na Câmara dos Deputados, os créditos de reciclagem já estão sendo usados pelas indústrias siderúrgicas para originar compensações turbinadas de gases de efeito estufa.

Carlos Paiva Júnior, CEO da Qualy
Carlos Paiva Júnior, CEO da Qualy

Cada tonelada de sucata fornecida pela Qualy à siderurgia contribui para o setor deixar de emitir 1,5 tonelada de dióxido de carbono (CO2). Numa economia como a brasileira, que recircula o equivalente a 12 milhões de toneladas de metal em suas indústrias por ano, o potencial da reciclagem desse tipo de material é de gerar 18 milhões em créditos de CO2, calcula o CEO da Qualy, Carlos Tobias de Paiva Junior.

Isso é possível pelo fato de o uso da sucata metálica, em si, reduzir as emissões de carbono das indústrias siderúrgicas e ainda servir para compensar os gases de efeito estufa que não podem ser evitados e continuam sendo lançados na atmosfera. A proporção no setor é, em média, de uma tonelada de sucata metálica para 1,5 tonelada equivalente de carbono. O cálculo é feito pelo setor siderúrgico com base na metodologia da Associação Mundial da Siderurgia (World Steel Association).

Melhor do que isso? Segundo ele, só mesmo com a aprovação do mercado regulado de carbono, que valorizará os créditos de CO2 hoje transacionados no comércio voluntário. A expectativa é de que isso também puxe para cima o valor dos créditos de reciclagem.

A Qualy ainda não emite créditos de carbono diretamente, pela ausência de regulação no Brasil. Gera certificados de reciclagem que têm a equivalência de um para um: cada tonelada de sucata vale um crédito de reciclagem que, por sua vez, pode originar um crédito de carbono. O processo passa pela Eureciclo, uma certificadora de créditos de reciclagem.

“Estou vendo muitas iniciativas, principalmente das siderúrgicas do Brasil e de outros países, direcionando para essa nova forma de produzir. Com o projeto de lei do mercado de carbono em tramitação, caminhamos para tornar esse mercado ainda mais atrativo”, disse ele.

O mercado regulado é uma necessidade para o aprimoramento do comércio de carbono, opina Tobias Junior. “Precisamos, entre aspas, através de iniciativas em bloco dos recicladores, pressionar para que este mercado seja aprovado.”

No momento, a receita da Qualy com os créditos de reciclagem é pequena, mas a empresa vê grandes possibilidades de alavancar recursos no mercado de carbono. A recicladora fornece por ano 250 mil toneladas de materiais como metal, papelão e plástico, que depois de coletados e processados voltam a fazer parte do ciclo produtivo das indústrias. Segundo ele, em tese, se esse total fosse todo de sucata metálica, poderia gerar créditos equivalentes à captura de 375 mil toneladas de carbono.

Para tornar este novo negócio ainda mais atraente, a empresa planeja iniciar o projeto “Sucata mais limpa”, também chamado por ele de “Sucata verde”, que inclui a instalação de sistemas de energia solar em suas unidades de produção. “Hoje somos credenciados a ter uma receita extra sobre algo que já fazíamos. Não foi nada fora do escopo de trabalho da Qualy. A adequação foi mínima, burocrática, porque o processo operacional já existia”, afirma. O uso de energia solar vai ajudar ainda mais.

Estímulo à compra de créditos e redução do ISS visam estimular cadeia produtiva
Prefeitura do Rio lança edital do ISS Neutro para estimular mercado de créditos de carbono carioca

A Qualy começou a planejar em 2022, para implantação em cinco anos, a partir de 2024, a mudança de sua matriz energética. “Nossa primeira unidade vai ser instalada em Uberlândia e a segunda em São Paulo. “Isso é uma inovação. Somos a única empresa de reciclagem que está fazendo isso.” Outra medida que está no radar é passar a utilizar álcool na frota, com diminuição de 25% nas emissões.

Um negócio bom para todo mundo

O mercado de reciclagem é bom para a Qualy, para as indústrias que precisam reduzir a sua pegada de carbono, para o meio ambiente e para a sociedade. Considerando que para retirar uma tonelada de carbono da atmosfera são necessárias sete árvores, durante 20 anos, precisaríamos de um projeto de manejo de 2,5 milhões de árvores para ter o mesmo efeito do nosso trabalho “, acrescenta.

Do total de recicláveis produzidos pela Qualy, cerca de um quarto vão para o mercado internacional, mas esta proporção varia, dependendo dos preços dessas commodities. Em alguns períodos, a empresa já chegou a exportar 50% do total. Atuamos por meio de uma trading, que vende para países como a Índia, Bangladesh, Vietnã e Turquia. “Fecho um lote no mercado spot para atender a indústrias de várias partes do mundo.”

Com unidades próprias em 11 estados do Brasil e cerca de 200 empregados diretos, a empresa agrega ainda, sazonalmente, mais três a cinco mil pessoas. O faturamento anual é de aproximadamente R$400 milhões, de acordo com o balanço de 2022.

A Qualy leva seus fardos de sucata prensada para o exterior pelos portos marítimos. Como Porto Velho não tem mar, os materiais processados no estado saem de lá por meio fluvial até Manaus, de onde vão para o mundo. Do carvão mineral à energia renovável A Qualy começou a trabalhar com sucata metálica em 2009, quando Tobias Junior diversificou as atividades da empresa, fundada em 2001. "Queria atender ao mercado e via futuro na reutilização de produtos", afirma o engenheiro civil que já atuava no reaproveitamento da moinha de carvão mineral, um resíduo da atividade carvoeira que até então era deixado na natureza, contaminando o meio ambiente. "Passamos a fornecer a moinha, também chamada de fino de carvão mineral, para indústrias que precisavam de energia, como a siderúrgica e a cimenteira. Depois, substituímos o carvão mineral pelo vegetal oriundo de reflorestamento, produzido por um processo de manejo." Inicialmente por demanda do Grupo Gerdau, Tobias Junior começou a trabalhar com a sucata metálica usada no processo siderúrgico, passando a atender outras empresas depois. Quando entrou nesse segmento, ele diz que viu um "futuro infinito", porque os números da reciclagem no país ainda são muito baixos. "O Brasil recicla muito pouco em relação ao seu potencial. Tem trabalho para cem, duzentos anos, porque o mundo hoje necessita da energia renovável e do reaproveitamento de matérias-primas para ajudar a diminuir as emissões de gases de efeito estufa." Tobias Junior comenta que, quando fez essa "mudança de chave", percebeu que o céu é o limite. O contexto é de valorização da reciclagem. Diversas indústrias como a Gerdau, a ArcelorMittal, a Simec e a Ternium já estão se antecipando às exigências legais, de utilizar reciclados equivalentes a um mínimo de 22% do peso dos produtos colocados no mercado. Esta exigência entra em vigor em 2024 e será progressiva, aumentando nos anos seguintes com o objetivo de estimular a economia circular, que evita o desperdício e valoriza os recursos naturais. O mesmo está acontecendo com empresas que usam muita embalagem plástica, como as de refrigerantes, ou que produzem papel, como a Klabin. Economia circular Os certificados de crédito de reciclagem são documentos que seguem a mesma lógica dos créditos de carbono e ambos estão ligados ao conceito de compensação ambiental. O mercado de créditos de reciclagem foi regulamentado no Brasil pelo Decreto 11.044, publicado em abril de 2022, substituído pelo Decreto Federal 11.413/2023. Esta iniciativa instituiu três tipos de certificados como instrumentos de comprovação do cumprimento das metas de logística reversa: Certificado de Crédito de Reciclagem de Logística Reversa (CCRLR); Certificado de Estruturação e Reciclagem de Embalagens em Geral (CERE); e Certificado de Crédito de Massa Futura. A Política Nacional de Resíduos Sólidos regulamenta o funcionamento da logística reversa no Brasil. É baseada na obrigatoriedade de reciclar materiais conforme o volume de resíduos gerados e o risco potencial de dano ao meio ambiente e aos cidadãos. Pela lei, são obrigados a implementar a logística reversa fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos como agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas, eletrônicos, produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro, entre outros.

A Qualy leva seus fardos de sucata prensada para o exterior pelos portos marítimos. Como Porto Velho não tem mar, os materiais processados no estado saem de lá por meio fluvial até Manaus, de onde vão para o mundo.

Do carvão mineral à energia renovável

A Qualy começou a trabalhar com sucata metálica em 2009, quando Tobias Junior diversificou as atividades da empresa, fundada em 2001. “Queria atender ao mercado e via futuro na reutilização de produtos”, afirma o engenheiro civil que já atuava no reaproveitamento da moinha de carvão mineral, um resíduo da atividade carvoeira que até então era deixado na natureza, contaminando o meio ambiente.

“Passamos a fornecer a moinha, também chamada de fino de carvão mineral, para indústrias que precisavam de energia, como a siderúrgica e a cimenteira. Depois, substituímos o carvão mineral pelo vegetal oriundo de reflorestamento, produzido por um processo de manejo.”

Inicialmente por demanda do Grupo Gerdau, Tobias Junior começou a trabalhar com a sucata metálica usada no processo siderúrgico, passando a atender outras empresas depois. Quando entrou nesse segmento, ele diz que viu um “futuro infinito”, porque os números da reciclagem no país ainda são muito baixos.

“O Brasil recicla muito pouco em relação ao seu potencial. Tem trabalho para cem, duzentos anos, porque o mundo hoje necessita da energia renovável e do reaproveitamento de matérias-primas para ajudar a diminuir as emissões de gases de efeito estufa.” Tobias Junior comenta que, quando fez essa “mudança de chave”, percebeu que o céu é o limite.

O contexto é de valorização da reciclagem. Diversas indústrias como a Gerdau, a ArcelorMittal, a Simec e a Ternium já estão se antecipando às exigências legais, de utilizar reciclados equivalentes a um mínimo de 22% do peso dos produtos colocados no mercado. Esta exigência entra em vigor em 2024 e será progressiva, aumentando nos anos seguintes com o objetivo de estimular a economia circular, que evita o desperdício e valoriza os recursos naturais. O mesmo está acontecendo com empresas que usam muita embalagem plástica, como as de refrigerantes, ou que produzem papel, como a Klabin.

Economia circular

Os certificados de crédito de reciclagem são documentos que seguem a mesma lógica dos créditos de carbono e ambos estão ligados ao conceito de compensação ambiental. O mercado de créditos de reciclagem foi regulamentado no Brasil pelo Decreto 11.044, publicado em abril de 2022, substituído pelo Decreto Federal 11.413/2023.

Esta iniciativa instituiu três tipos de certificados como instrumentos de comprovação do cumprimento das metas de logística reversa: Certificado de Crédito de Reciclagem de Logística Reversa (CCRLR); Certificado de Estruturação e Reciclagem de Embalagens em Geral (CERE); e Certificado de Crédito de Massa Futura.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos regulamenta o funcionamento da logística reversa no Brasil. É baseada na obrigatoriedade de reciclar materiais conforme o volume de resíduos gerados e o risco potencial de dano ao meio ambiente e aos cidadãos.

Pela lei, são obrigados a implementar a logística reversa fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos como agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas, eletrônicos, produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro, entre outros.