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Brasil será um dos países com maiores perdas econômicas devido às mudanças climáticas

Brasil será um dos países com maiores perdas econômicas devido às mudanças climáticas

Cientistas do PIK concluíram que os danos provocados pelas mudanças climáticas poderão ser seis vezes maiores do que os custos de mitigação para limitar o aquecimento global a 2º C

17 de abril de 2024

Com o ClimaInfo

Mesmo que as emissões de CO2 fossem drasticamente reduzidas a partir de hoje, a economia mundial já está comprometida com uma perda de renda de 19% até 2050, devido às mudanças climáticas, aponta um novo estudo publicado na revista Nature. Os países mais pobres e de clima tropical serão os mais impactados com perdas financeiras, apesar de historicamente serem responsáveis por uma parcela muito pequena das emissões de gases de efeito estufa causadores das mudanças climáticas. O Brasil está entre os que sofrerão maior impacto em sua economia, com queda acima de 20%.

Com base em dados de mais de 1.600 regiões em todo o mundo ao longo dos últimos 40 anos, cientistas do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK) avaliaram os impactos futuros das condições climáticas em mudança no crescimento econômico e sua persistência. A análise mostra que os danos são seis vezes maiores do que os custos de mitigação necessários para limitar o aquecimento global a 2ºC.

O estudo destaca a considerável desigualdade dos impactos climáticos, com perdas financeiras em quase todos os lugares, porém mais concentrada nos países nos trópicos, por já serem os mais quentes. Aumentos adicionais de temperatura serão, portanto, mais prejudiciais nessas regiões.

Além do Brasil, a maioria dos outros países com danos projetados acima de 20% estão na África, no Oriente Médio e no sul da Ásia. Na América do Sul, entre os mais impactados estão o Suriname (24%), Guiana (24%) e Bolívia (21%), enquanto Argentina e Chile devem sofrer perdas abaixo da média global (13% e 8%, respectivamente).

Estes números não devem ser entendidos como uma perda global do PIB: o estudo trabalha com o PIB per capita, e os números sobre danos econômicos globais são a média ponderada da população de todas as perdas de PIB per capita em cada país. Em resumo, refletem a redução média de renda que os cidadãos do mundo irão suportar. Maximilian Kotz, cientista do PIK e primeiro autor do estudo, explica: “Descobrimos que as economias em todo o mundo estão comprometidas com uma perda média de renda de 19% até 2050 devido às emissões passadas. Isso corresponde a uma redução de 17% no PIB global.”

Leonie Wenz, cientista do PIK e autora principal do estudo: “Nossa análise mostra que as mudanças climáticas causarão enormes danos econômicos nos próximos 25 anos em quase todos os países ao redor do mundo, também nos altamente desenvolvidos, como Alemanha e EUA, com uma redução de renda projetada de 11% cada e na França com 13%.”

O estudo

As projeções indicam grandes reduções de renda para a maioria das regiões, incluindo América do Norte e Europa, com Sul da Ásia e África sendo as mais afetadas. “Isso é causado pelo impacto das mudanças climáticas em diversos aspectos relevantes para o crescimento econômico, como rendimentos agrícolas, produtividade do trabalho ou infraestrutura”, diz Kotz.

No geral, os danos anuais globais são estimados em US$ 38 trilhões, com uma faixa provável de US$ 19 a US$ 59 trilhões em 2050. Esses prejuízos resultam principalmente do aumento das temperaturas, mas também das mudanças na precipitação e na variabilidade da temperatura. Considerar outros extremos climáticos, como tempestades ou incêndios florestais, poderia aumentá-los ainda mais.

“Nossa análise mostra que as mudanças climáticas causarão danos econômicos massivos nos próximos 25 anos em quase todos os países ao redor do mundo, também nos altamente desenvolvidos, como Alemanha, França e Estados Unidos” afirma Wenz. “Esses danos a curto prazo são resultado de nossas emissões passadas. Precisaremos de mais esforços de adaptação se quisermos evitar pelo menos parte deles. E temos que reduzir de forma drástica e imediatamente nossas emissões – se não o fizermos, as perdas econômicas se tornarão ainda maiores na segunda metade do século, chegando a até 60% na média global até 2100. Isso mostra claramente que proteger nosso clima é muito mais barato do que não fazê-lo, e isso sem nem considerar os impactos não econômicos, como perda de vida ou biodiversidade.”