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Cerrado perde 1,1 milhão de hectares e supera desmatamento da Amazônia pela primeira vez

Cerrado perde 1,1 milhão de hectares e supera desmatamento da Amazônia pela primeira vez

O Maranhão teve a maior área desmatada entre os estados, uma delas de 6,6 mil hectares; já o Distrito Federal registrou o maior crescimento, de 2022 para 2023: 613%

28 de maio de 2024

O desmatamento no Cerrado aumentou 68%, atingindo mais de 1,1 milhão de hectares em 2023 e superando, pela primeira vez, as perdas registradas na Amazônia. A área equivale a 61% de todo o desmatamento registrado no Brasil no ano passado e equivale a quase 2,4 vezes o que foi verificado na floresta amazônica.

Os dados foram publicados nesta terça-feira (28/5) pelo RAD (Relatório Anual de Desmatamento) e produzidos por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) na Rede MapBiomas. Entre 2019 e 2023, foram 8,5 milhões de hectares de vegetação nativa desmatados no Brasil, sendo 52% na Amazônia e 39% no Cerrado.

Apenas no ano passado, os dois biomas, que cobrem cerca de 73% do país, perderam juntos cerca de 1,5 milhão de hectares – 85% de todo o desmatamento mapeado em 2023. Na lista dos 50 municípios que mais perderam vegetação nativa no período, 33 estão inseridos total ou parcialmente no bioma Cerrado.

Apesar de o desmatamento no Cerrado ter disparado, o total no Brasil registrou queda de 12% em 2023, passando de pouco mais de 2 milhões, em 2022, para 1,8 milhões de hectares, em 2023. Caatinga e Pantanal foram outros biomas que registraram aumentos, de 43% e 59%, respectivamente. Já Mata Atlântica e Pampa reduziram sua área desmatada em 60% e 50%.

“Combater o desmatamento no Cerrado se torna um desafio a mais em um contexto onde a legislação é permissiva no bioma. Por isso, precisamos ter mais transparência e controle sobre a questão da legalidade para que se possa aprimorar e desenhar politicas públicas e privadas que acabem com o desmatamento ilegal e desincentive o desmatamento legal, visando um uso mais eficiente das áreas já desmatadas”, alerta Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.

O desmatamento no Cerrado também repetiu o mesmo perfil registrado nos anos anteriores – cerca de 65% de toda a área foi perdida em alertas de grande porte, com mais de 100 hectares. Foi no Cerrado que pesquisadores registraram o maior alerta de desmatamento de todo o Brasil: 6,6 mil hectares foram desmatados em uma única área, no município de Alto Parnaíba (MA). O município de Baixa Grande do Ribeiro (PI), por sua vez, teve o desmatamento mais veloz do Brasil, derrubando 944 hectares, o equivalente a 8 parques do Ibirapuera, em apenas 8 dias.

Maior pressão foi da agropecuária

A agropecuária, através da abertura de áreas para pastagens e lavouras, foi o vetor de pressão de pelo menos 98% de toda a área desmatada no Cerrado. Além disso, as formações savânicas do bioma – caracterizadas por suas árvores tortuosas e grande presença de arbustos – sofreram 74% de todo o desmate.

O Matopiba – região composta pelo Tocantins e partes dos Estados do Maranhão, Piauí e Bahia – concentrou 74% de todo o desmatamento no Cerrado, com 826.805 hectares abertos. Cerca de 47% de toda a vegetação nativa suprimida no Brasil, durante em 2023, está concentrada no Matopiba. O desmatamento na região foi quase duas vezes maior do que o registrado em toda a Amazônia.

Todos os 10 municípios que mais desmataram no Cerrado, estão no Matopiba. São Desidério (BA), líder isolado do desmatamento em 2023, derrubou mais de 40 mil hectares de vegetação nativa – um aumento de 9% em relação a 2022. Balsas (MA), segundo colocado no ranking, aumentou seu desmatamento em 33%, chegando a mais de 37 mil hectares derrubados.

Estados e municípios

Dos 13 estados com áreas de Cerrado, 10 registraram aumento no desmatamento em 2023, sendo que Maranhão (111%), Tocantins (182%), Goiás (125%), Pará (270%) e Distrito Federal (613%) mais do que dobraram a área de vegetação perdida em comparação com 2022.

Maranhão, estado com o maior desmatamento registrado dentre todas as unidades da federação, e Tocantins, derrubaram cerca de 320 mil e 229 mil hectares de vegetação, respectivamente, totalizando 50% de tudo que foi suprimido no bioma no ano passado.

“A falta de fiscalização do desmatamento, além de poucas políticas e incentivos para conservação em áreas privadas favorece o desmatamento em todo o bioma, cuja vegetação nativa remanescente está majoritariamente localizada em áreas privadas, principalmente na região do MATOPIBA”, destaca Júlia Shimbo, pesquisadora do IPAM.

O maior alerta de desmatamento de todo o Brasil foi registrado em Alto Parnaíba, no Maranhão. Atingiu 6,6 mil hectares e foi detectado pelo SAD Cerrado. (Fonte: Planet Imagens, MapBiomas Alerta, IPAM)