Para mitigar os impactos sobre a rentabilidade, que pode ser comprometida pelas indenizações mais frequentes e onerosas, setor está investindo crescentemente em tecnologia
06 de setembro de 2024
Mariza Louven
No início do ano foram as enchentes no RS. Agora é a seca na Amazônia e os incêndios em todo o país. O clima extremo está provocando perdas e prejuízos cada vez maiores e mais frequentes a pessoas, empresas e cidades. O setor de seguros vem sendo diretamente afetado pelo crescimento da demanda por apólices que cobrem esse tipo de ameaça e pelo aumento dos prêmios, registrando ainda uma atuação maior das resseguradoras, empresas que assumem os riscos excedentes.
“Os impactos climáticos têm aumentado significativamente os riscos associados às atividades que dependem dos ecossistemas, tanto na produção quanto na logística envolvida. Este cenário não apenas intensifica a demanda por seguros específicos, mas também eleva os valores dos prêmios, que são ajustados de acordo com os potenciais danos associados a essa nova realidade climática”, afirma o gerente sênior da Peers Consulting & Technology, Heitor Marin.
Segundo ele, para mitigar os impactos sobre a rentabilidade, que pode ser comprometida pelas indenizações cada vez mais frequentes e onerosas, as seguradoras e resseguradoras estão investindo de forma crescente em tecnologia. O objetivo é refinar os modelos de mensuração de risco, utilizando de maneira ainda mais intensiva dados obtidos por meio de imagens capturadas por drones e satélites, bem como simulações climáticas avançadas.
A tecnologia permite diagnósticos mais precisos e eficientes, contribuindo para uma gestão de riscos mais eficaz em face dos desafios impostos pelas mudanças climáticas.
Aumento da demanda
A demanda por apólices de seguros e, consequentemente, por resseguros, tem aumentado de maneira significativa, impulsionada pelos altos valores das apólices e pela dinâmica de riscos compartilhados entre seguradoras e resseguradoras. “Este crescimento é diretamente influenciado pela crescente frequência dos desastres naturais, que têm se mostrado cada vez mais intensos e recorrentes”, diz ele.
Um exemplo dessa tendência foi o ocorrido no estado do Rio Grande do Sul, que, após ter sido severamente afetado por uma enchente no Vale do Taquari, no segundo semestre de 2023, voltou a ser impactado por um desastre ainda mais grave em menos de um ano.
Em um contexto global, grandes empresas do setor de resseguros, como a Swiss Re e a Munich Re, também têm registrado um aumento expressivo na procura por coberturas para desastres naturais, especialmente no que se refere a produtos de seguros voltados para propriedades e atividades agrícolas. Esses segmentos, particularmente vulneráveis às variações climáticas, têm visto uma elevação na demanda por apólices que possam garantir a segurança financeira frente aos riscos cada vez mais imprevisíveis e severos impostos pelas mudanças climáticas.
De acordo com Marin, existe um reconhecimento crescente, tanto no Brasil quanto no exterior, da necessidade de uma gestão de riscos mais robusta e proativa, capaz de responder aos desafios impostos por um ambiente natural em constante transformação.
Que tipo de seguro climático está sendo mais demandado?
Assim como ocorre em diversas partes do mundo, no Brasil, os produtos de seguros mais demandados estão fortemente concentrados no setor agrícola. Essa procura se dá, sobretudo, pela necessidade de cobertura contra perdas de produção decorrentes de condições climáticas adversas, como secas prolongadas, chuvas excessivas e outros eventos extremos que afetam diretamente a capacidade produtiva do campo.
“Também há uma significativa procura por produtos voltados à proteção de propriedades rurais e urbanas, que buscam resguardar os bens contra os danos causados por enchentes, incêndios e outras catástrofes naturais”, acrescenta.
O setor de energia renovável é outro que tem se mostrado cada vez mais interessado na aquisição de seguros para cobertura contra os impactos de eventos climáticos extremos, que podem afetar de maneira significativa a geração de energia a partir de fontes como a solar e a eólica.
O preço do seguro climático aumentou?
O aumento da frequência dos eventos climáticos extremos tem exercido uma influência direta e substancial sobre os preços das apólices de seguros. Esse impacto é exacerbado pela crescente severidade desses eventos, que têm se tornado mais intensos e devastadores.
“Diante desse cenário, seguradoras e resseguradoras são obrigadas a assumir riscos consideravelmente maiores, o que se traduz na necessidade de cobrir perdas financeiras de grande magnitude. Esse aumento nos custos potenciais de sinistros resulta em prêmios de seguros mais elevados, refletindo a maior exposição ao risco que essas empresas enfrentam”, afirma. “Assim, o setor de seguros, para se adaptar e manter sua sustentabilidade financeira, ajusta seus preços para refletir a nova dimensão dos riscos que enfrenta, garantindo que possa continuar a oferecer proteção adequada em um cenário de incertezas crescentes”.
Onde e como o resseguro atua?
De modo geral, as empresas de resseguros assumem os riscos excedentes que ultrapassam a capacidade das seguradoras em suas apólices. “No contexto dos eventos climáticos, essas resseguradoras tornam-se ainda mais essenciais na gestão desses riscos, uma vez que a frequência e a intensidade desses desastres têm aumentado significativamente”, assinala Marin.
Ao absorver parte substancial dos riscos, as resseguradoras auxiliam as seguradoras, especialmente em situações onde há um aumento expressivo no volume de sinistros, garantindo que essas empresas possam cumprir suas obrigações financeiras junto aos segurados.