O meteorologista Carlos Magno Nascimento, CEO do Climate Change Channel, diz ao Carbon Report que o problema não é falta de tecnologia para prever fenômenos climáticos de grandes proporções
10 de maio de 2024
Mariza Louven
O clima extremo vai continuar testando a capacidade de defesa das cidades. A questão não é se e onde ocorrerão situações como as que provocaram a tragédia no Rio Grande do Sul e sim como se proteger delas. Existe tecnologia para prever chuvas intensas e alagamentos de rios, afirma o meteorologista Carlos Magno Nascimento, CEO do Climate Change Channel. O que falta é entender que os eventos climáticos extremos serão cada vez mais intensos e frequentes, exigindo providências urgentes para adequação das áreas urbanas.
As previsões sobre o ocorrido no Rio Grande do Sul não falharam, acrescenta o profissional que trabalha há 30 anos com prognósticos climáticos. “O que aconteceu foi um volume de chuva extremo para pouco tempo, e isso provocou acúmulo de chuva no vale do Rio Taquari, que consequentemente foi terminar lá no Lago do Guaíba. E as comportas do Rio Grande do Sul, dimensionadas para a grande enchente que aconteceu em 1941, não deram conta do volume de água, de certa forma incrementado pelas mudanças climáticas.”
Além de tornar mais frequente a evacuação de cidades inteiras, episódios como o ocorrido no Sul devem forçar a adoção de medidas preventivas. “Provavelmente isso vai direcionar uma adequação do poder público para próximas comportas e de certa forma a orientação da ocupação das cidades em áreas de risco”, acrescenta.
Os efeitos de um El Niño potencializado pelas mudanças climáticas encontrou defesas insuficientes na região de Porto Alegre, provocando a catástrofe que resultou na confirmação de 113 mortes até agora, segundo a Defesa Civil do Rio Grande do Sul. O meteorologista explica que, devido ao El Niño (um fenômeno natural que ganhou intensidade com as mudanças do clima), uma frente fria bloqueada sobre o Rio Grande do Sul não avançou nem distribuiu a chuva, que ficou acumulada no estado.
O Rio Grande do Sul também contabiliza quase 70 mil pessoas forçadas a sair de casa devido às fortes chuvas que caem no estado desde o dia 29 de abril, segundo o boletim da Defesa Civil estadual desta sexta-feira. O documento também mostra que 337.116 pessoas estão desalojadas em todo o estado. O número de municípios gaúchos afetados pelos temporais chega a 435, o que representa 87,5% do total do estado (497). Ao todo, 1,916 milhão de pessoas (17,6% da população do estado) foram afetadas direta ou indiretamente pelos eventos climáticos.
Como lidar com o inevitável?
A prevenção vai exigir mais investimento em tecnologia, para criar sistemas de alerta para chuvas intensas e alagamentos, como já ocorre com deslizamento de encostas, mas de forma mais rápida e eficaz. “O monitoramento é essencial e precisa ser cada vez mais ativo, mas também é fundamental conscientizar a população sobre os riscos crescentes com uma comunicação intensiva.”
Na avaliação de Nascimento, o que pode ajudar a diminuir o tamanho da tragédia e prevenir desastres no futuro é os governantes ouvirem o que a ciência vem falando e se prepararem: “aproveitar essa reconstrução do Rio Grande do Sul de uma forma mais adequada à situação de mudanças climáticas, tirando as casas das áreas de ocupação de várzeas e também adequando as comportas para um volume de chuva suficiente para evitar esse tipo de catástrofe. De certa forma, se preparando para situações mais frequentes como essa.”
Segundo ele, só assim será possível evitar tragédias e perdas humanas nas proporções da ocorrida no Sul. “O primeiro passo, claro, é admitir que as mudanças climáticas já estão agindo sobre nós e conscientizar as pessoas da importância do tema”.