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Como realizar o potencial do Brasil em energia renovável e a transição para o baixo carbono?

Como realizar o potencial do Brasil em energia renovável e a transição para o baixo carbono?

As áreas mais promissoras são as de combustível de aviação sustentável (SAF), hidrogênio verde, energia eólica, energia solar e biocombustíveis, segundo o CEO da Aya, Eduardo Aranibar

04 de setembro de 2024

A transição energética e a bioeconomia devem ser os dois grandes vetores para um crescimento adicional do PIB brasileiro de US$ 230 bilhões a U$ 430 bilhões, segundo o CEO da Aya Earth Partners, Eduardo Aranibar. A energia, sozinha, representaria 20% dessa riqueza adicional, com um potencial de reduzir as emissões de gases de efeito estufa do país em até 50 megatoneladas de CO2 equivalente até 2030. O ganho adicional seria a geração de 1,4 milhão de novos empregos.

As projeções foram apresentadas por Aranibar durante o evento “Caminhos para a Transição Energética”, realizado pela Aaya nesta terça-feira (3/9). O debate teve foco na discussão sobre como realizar todo o potencial do Brasil em energias renováveis e viabilizar a transição para uma economia de baixo carbono.

Segundo Aranibar, as áreas mais promissoras para o Brasil são as de combustível de aviação sustentável (SAF), hidrogênio verde, energia eólica, energia solar e biocombustíveis. No entanto, com a transição energética norteando a geopolítica mundial, o potencial protagonismo do país pode esbarrar nos grandes investimentos feitos nessas áreas pelos Estados Unidos, União Europeia e China, além de emergentes como a Índia, que está concorrendo no setor de etanol, e a Arábia Saudita, com a maior planta de H2 verde do mundo.

“O Brasil é uma democracia estabelecida que dialoga com países do Sul e Norte Global, não tem guerra com ninguém, é conhecido por ser diplomático, então possui vantagens geopolíticas, regulatórias e econômicas incomparáveis,” disse a diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática (BNDES) Luciana Costa. “Somos capazes de garantir a nossa segurança alimentar e fornecer segurança alimentar para o mundo, mas entramos atrasados nessa discussão e precisamos avançar com o arcabouço regulatório verde”, acrescentou Costa.

Os biocombustíveis, incluindo o SAF, são uma grande promessa para o Brasil, que é o segundo maior produtor do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Além disso, enquanto em alguns países com pouca área disponível para plantio os biocombustíveis possam concorrer com os alimentos, aqui a estimativa é de que haja até 100 milhões de hectares de áreas degradadas por pastagens que poderiam ser recuperadas para isso.

A principal novidade é o biometano, que em 2022 representou apenas 0,8% da oferta de gás nacional. O país não produz nem 1% do seu potencial, estimado em 100 milhões de m3 por dia, mas pode quadruplicar a produção até 2027 e passar a ser o quinto maior do mundo nesta indústria.

Outro destaque, no Brasil, são as energias eólica e solar. O país terminou o ano de 2023 com 1.007 usinas eólicas, que representaram um incremento na produção de 18,79% na produção em relação ao ano anterior. Considerando a eólica offshore, as vantagens são “gritantes”e podem levar o segmento a representar 20% da matriz elétrica brasileira, além de promover o desenvolvimento social, principalmente no Nordeste (onde estão 92% das usinas). Os 97 projetos que aguardam aprovação de licenciamento já devem adicionar 230 GW ao sistema.

O mesmo ocorre com relação à energia solar fotovoltaica, cuja produção cresceu 56% de 2023 para 2024, tornando-se a segunda maior fonte de energia elétrica do país. “Somos uma superpotência em energia solar no mundo. Quando comecei, nossa matriz elétrica solar fotovoltaica era de 0,1%, ninguém falava do Brasil. Já no ano passado chegamos ao posto de terceiro maior mercado do planeta. Isso só foi possível graças ao desenvolvimento de boas políticas públicas, que foram imprescindíveis para que pudéssemos avançar nessa tecnologia”, disse Rodrigo Sauaia, CEO da Absolar.

O Brasil também está bem posicionado em relação ao hidrogênio verde, com potencial de escala e preços mais baixos do mundo. Ainda assim, segundo ele, as projeções indicam que quem vai dominar este mercado, provavelmente, são os Estados Unidos, China e Europa, com até 80% da produção total até 2030. Isso porque estão mais avançados no pipeline de projetos e têm políticas mais claras para o setor.

Energia mais cara do mundo

O Brasil está em posição de destaque para atender à demanda global por energia limpa e renovável, mas ainda tem a energia mais cara do mundo, segundo a cofundadora da AYA Earth Partners Patricia Ellen.

O evento contou com a presença de autoridades como a Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática (BNDES) Luciana Costa, representantes da Volkswagen, ABBéolica e GranBIO que discutiram temas de grande repercussão na agenda da transição energética. O evento também contemplou uma agenda fechada, exclusiva, para falar sobre biocombustíveis e eletrificação da frota, minerais críticos e hidrogênio verde. Entre os participantes estava o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, atualmente presidente do Conselho Consultivo da divisão brasileira GFANZ e Christian Doetsch, Head of Institute Fraunhofer UMSICHT.

A sócia da Deloitte Maria Emilia Peres também comentou o potencial do Brasil, alertando para a necessidade de estudos que viabilizem os negócios nesse mercado. “Sempre que falarmos de transição energética, é preciso pensar em perenidade e inovação,” comentou. “As oportunidades no Brasil em minerais críticos é imensa, mas temos escassez de dados robustos e bem estruturados para investir nisso.”