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Mulheres xavantes coletam sementes nativas do Cerrado para reflorestar terra indígena no MT

Mulheres xavantes coletam sementes nativas do Cerrado para reflorestar terra indígena no MT

Semêa tem foco em práticas regenerativas para ampliar ações e conhecimentos que estimulem a preservação do solo, floresta e água.

08 de março de 2024

Mulheres indígenas do povo xavante estão auxiliando o reflorestamento de uma área de 52 hectares da Terra Indígena Pimentel Barbosa, no município de Canarana (MT), por meio da coleta de sementes nativas. O projeto, liderado pela Fundação Bunge, busca recuperar a área com espécies do Cerrado e promover o adensamento com árvores como pequi e baru, para posterior extrativismo.

Entre os resultados esperados estão a produção de alimentos e geração de renda para a comunidade indígena da qual essas mulheres fazem parte. A ação faz parte do Semêa, projeto de agricultura de baixo carbono, com foco em práticas regenerativas para ampliar ações e conhecimentos que estimulem a preservação do solo, floresta e água.

Sementes coletadas pelas mulheres indígenas. Foto divulgação
Sementes coletadas pelas mulheres indígenas. Foto divulgação

Para o reflorestamento, foi utilizada a técnica de muvuca, que consiste na mistura de diversas sementes de espécies nativas, desde aquelas de início de sucessão até as tardias, junto com leguminosas de ciclo de vida curto, utilizadas como adubo verde, que garantem a cobertura do solo. A semeadura da muvuca foi mecanizada com apoio da prefeitura e utilizou sementes coletadas por comunidades tradicionais, apoiadas pela ONG Sementes do Xingu, e pelas mulheres xavantes da própria terra indígena, promovendo o fortalecimento do protagonismo feminino, sobretudo na cultura alimentar e na gestão do território.

Ritual de início do plantio, que foi feito de forma mecanizada. Foto dfr divulgação
Ritual de início do plantio, que foi feito de forma mecanizada. Foto dfr divulgação

“As próprias mulheres indígenas da Pimentel Barbosa fizeram a coleta de parte das sementes utilizadas para reflorestar essa área degradada. Elas aproveitaram para passar essa técnica ancestral para as novas gerações de mulheres indígenas do território. Antes da atividade de plantio, que foi feita de forma mecânica, elas fizeram um ritual de início da semeadura. Esta ação foi muito importante porque permitiu que o conhecimento fosse passado de geração para geração e trouxe renda para a comunidade”, afirma Cláudia Calais, diretora-executiva da Fundação Bunge.

O reflorestamento da área surgiu a partir de conversas entre a Fundação Bunge, Funai e prefeitura de Canarana que, por meio de diagnóstico, identificaram uma área com potencial para reflorestamento e geração de renda para aquele povo, com manutenção da floresta de pé e extrativismo de plantas nativas. “A Funai entrou com toda a articulação da comunidade e acompanhamento de todo processo, a Prefeitura com maquinário e assistência técnica, e a Fundação Bunge com a compra das sementes e insumos.”, explica a executiva.

Além do reflorestamento, o projeto Semêa também apoia brigadas indígenas das etnias de Xavante e Boe Bororo na região, com formação em georreferenciamento e doação de drones e tablets para a prevenção de incêndios florestais do território. Ao todo, três drones e três tablets já foram entregues a três brigadas, o que traz benefícios para uma população de 6.235 indígenas e um território de 635.714 hectares.

Como funciona o Semêa

Ao todo, 29 famílias de agricultores assentados, 13 pequenos produtores rurais, além dos povos de três Terras Indígenas, das etnias Xavante e Boe Bororo participam do projeto, realizado em Canarana (MT), que incentiva a formação e disponibilização de tecnologia de ponta em recuperação de nascentes, preservação e reflorestamento, além de práticas sustentáveis ligadas ao solo, como o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e polinização de lavouras por meio de abelhas. No total, a Fundação Bunge investiu R$1,6 milhão na fase inicial do projeto. Outros R$3 milhões devem ser investidos na expansão até 2025.

O projeto tem como premissas a integração de grandes e pequenos produtores rurais, agricultores familiares e povos tradicionais em uma visão sistêmica, a conexão desses públicos com políticas públicas e a fixação no território de agricultores familiares e povos tradicionais por meio da geração de renda de forma digna.