Resíduos da fruta usada para fazer chocolates como o KitKat poderão gerar até 7.000 toneladas de fertilizantes de baixo carbono para agricultores da Inglaterra e Irlanda
A Nestlé do Reino e a Cargill anunciaram nesta segunda-feira que vão iniciar testes para avaliar o potencial das cascas do cacau na criação de um fertilizante de baixo carbono. O projeto, já em testes pela CCm Technologies, foi concebido para avaliar o desempenho do fertilizante na produção agrícola, na saúde do solo e na redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE).
Se for bem-sucedido, o projeto usará cascas de cacau provenientes de uma fábrica de confeitos sediada em York, na Inglaterra, e poderá resultar em até 7 mil toneladas de fertilizantes com baixo teor de carbono. O objetivo é oferecer o produto a agricultores da cadeia de abastecimento de trigo do Reino Unido. Esta quantidade de fertilizante é equivalente a cerca de 25% da necessidade desses agricultores.
A produção e a utilização de fertilizantes convencionais são responsáveis por aproximadamente 5% das emissões globais de gases de efeito estufa e por mais de metade da pegada de carbono do trigo cultivado no Reino Unido. A reciclagem de nutrientes oriundos de resíduos do sistema alimentar oferece uma oportunidade promissora para criar uma cadeia de abastecimento com emissões mais baixas, diz o comunicado.
A agricultura regenerativa é um elemento-chave do Plano do Cacau da Nestlé, que no Brasil anunciou, no início deste mês, a aquisição do Grupo CRM, proprietário das marcas Kopenhagen e Brasil Cacau.
As cascas do cacau são fornecidas pela Cargill, que processa a fruta nas instalações de York para uso como ingrediente-chave em produtos icônicos como os chocolates KitKat e Aero. Um volume experimental de casca de cacau foi processado e peletizado pela CCm Technologies, sediada em Swindon, da Inglaterra. Os testes estão sendo supervisionados pela Fera Science, com sede em York.
Atualmente, os testes estão sendo realizados em fazendas em Suffolk e Northamptonshire, também na Inglaterra. O objetivo é investigar o desempenho do fertilizante em termos de rendimento e qualidade do trigo e os impactos na biodiversidade do solo e nas emissões de carbono em comparação com produtos convencionais.
Para as empresas envolvidas, transformar cascas de cacau num fertilizante com baixo teor de carbono representa avanço no compromisso com a inovação, a colaboração e a criação de uma cadeia de abastecimento mais sustentável. “O projeto é um exemplo das soluções inovadoras que a Nestlé está investigando para ajudar a alcançar zero emissões líquidas até 2050. A Nestlé também se comprometeu a obter 50% dos seus principais ingredientes a partir de métodos agrícolas regenerativos até 2030”, afirma a empresa.
“Os agricultores encontram-se muitas vezes entre os primeiros grupos a serem expostos a questões globais, e esses riscos são suportados pelo sistema alimentar do qual todos dependemos. Encontrar formas de criar mais resiliência no sistema e otimizar a nossa utilização dos recursos naturais é uma parte crítica disto”, afirmou Matt Ryan, líder de Regeneração da Nestlé do Reino Unido e Irlanda. “Este projeto é um passo pequeno, mas muito significativo em direção a um futuro líquido zero, onde os agricultores, as empresas locais e a natureza podem beneficiar”, acrescentou.
“Terminamos agora a colheita e conseguimos cultivar com sucesso uma colheita de trigo de inverno utilizando este novo fertilizante. Comparamos duas partes do campo, uma que usou o fertilizante de casca de cacau e outra que usou o fertilizante convencional, e não há diferença significativa no rendimento, então podemos ver que funciona!”, disse Richard Ling, gestor Agrícola da Rookery Farm, Wortham em Norfolk, que fornece trigo à Nestlé Purina.
Sam Thompson, líder global de engenharia da Cargill Cocoa & Chocolate, afirmou que “a Cargill e a Nestlé trabalham juntas há mais de 60 anos na construção de cadeias de fornecimento resilientes nas comunidades onde ambas operamos. Estamos entusiasmados por continuar a desenvolver esta forte parceria através do nosso inovador teste de fertilizante de casca de cacau.”
A tecnologia da CCm permite dar uma segunda vida a resíduos gerados na produção rotineira de alimentos e torná-los um valioso fertilizante sustentável de baixa emissão. “Isto beneficia o agricultor, o cliente e o planeta”, disse Pawel Kisielewski, CEO da CCm Technologies.