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NetZero anuncia certificação de sua fábrica de biochar em Minas Gerais

NetZero anuncia certificação de sua fábrica de biochar em Minas Gerais

Interesse de grandes empresas em financiar iniciativas de remoção de carbono para neutralizar emissões impulsiona a construção da segunda fábrica da green tech francesa no país, no ES

23 de janeiro de 2024

Mariza Louven

A green tech francesa NetZero anunciou, nesta terça-feira (23/1), que obteve certificação para emitir créditos de remoção de dióxido de carbono (CO2) em sua unidade de produção de biochar em Lajinha, Minas Gerais. Entre agosto e dezembro de 2023, foram removidas 480 toneladas de dióxido de carbono (CO2) no local, gerando créditos de carbono vendidos ao Boston Consulting Group (BCG) e ao banco Rothschild & Co, informou ao Carbon Report o cofundador e diretor-geral da NetZero, Olivier Reinaud.

Olivier Reinaud na esquerda e Pedro na direita
Olivier Reinaud, à esquerda, e Pedro de Figueiredo, à direita

O selo Puro Standard foi obtido pela unidade de Minas Gerais apenas um ano após a certificação da primeira fábrica de biochar da NetZero em Camarões, na África. A unidade mineira, com capacidade para remover anualmente mais de 6.000 toneladas de carbono, torna-se, assim, a maior produtora mundial de biochar a partir de resíduos agrícolas autorizada a emitir créditos de remoção de CO2 de alta permanência.

Nas últimas décadas, pesquisas têm apontado o potencial do biochar na agricultura e no combate às mudanças climáticas, uma vez que o processo evita emissões de gases de efeito estufa e ainda mantém o CO2 no solo permanentemente. Embora seja utilizado há vários anos em países como Estados Unidos, China e Alemanha, no Brasil a produção em larga escala começou apenas em 2023, com a NetZero.

O biochar é um tipo de carbono estável, que armazena o CO2 no solo, longe da atmosfera, melhorando também a fertilidade. Ambos os benefícios foram reconhecidos e são validados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) e pela Embrapa.

Fábrica de Lajinha MG
Fábrica de Lajinha MG

“Estamos muito orgulhosos dessa nova conquista, realizada em tempo recorde. Alcançamos exatamente os níveis de remoção de carbono que esperávamos e já estamos trabalhando em muitas melhorias para aprimorar ainda mais o desempenho de nossos projetos”, afirma Reinaud.

Os primeiros créditos de carbono emitidos em Lajinha já foram entregues aos clientes da NetZero, no contexto de um interesse crescente de grandes empresas em financiar iniciativas de remoção de carbono de alta qualidade para neutralizar suas emissões, acrescenta.

“Trata-se de um marco importante para a NetZero no Brasil, resultado do trabalho árduo de nossas equipes, em particular de P&D e Operações. Essa conquista é apenas a primeira de muitas outras, que estamos preparando ativamente para 2024 e para os próximos anos”, pontua Pedro de Figueiredo, cofundador e CEO Brasil da NetZero.

A green tech também recebeu, no ano passado, o registro do seu biochar como condicionador do solo pelo Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil. Isso a torna a primeira e única empresa no Brasil com biochar registrado.

Planos de expansão

A NetZero planeja construir centenas de instalações no país, com o objetivo de remover dois milhões de toneladas de CO2 por ano da atmosfera até 2030. Em julho do ano passado, apenas três meses após a inauguração de sua primeira unidade no Brasil, anunciou o início das obras de construção de uma nova fábrica no país, localizada em Brejetuba, no Espírito Santo, a 25 quilômetros de distância de Lajinha.

O projeto possibilitará ampliar a cooperação com a Coocafé, cooperativa que reúne mais de 10.000 cafeicultores e tem um forte foco em sustentabilidade, podendo desempenhar um papel essencial na promoção do modelo local e circular da NetZero, ao encorajar os agricultores a aderir ao projeto.

A nova fábrica estará operacional em 2024 e produzirá anualmente 4.500 toneladas de biochar, permitindo a remoção da atmosfera de mais de 6.500 toneladas equivalentes de CO2. Graças à parceria com a Coocafé, a NetZero vai transformar milhares de toneladas de resíduos da casca do café em biochar, usado como corretivo do solo pelos mesmos cafeicultores, melhorando sua produtividade e reduzindo o uso de fertilizantes sintéticos.

“Nosso modelo é totalmente adequado às necessidades e à realidade local, o que é um elemento-chave para o aumento de escala. Estamos muito satisfeitos em continuar nossa parceria com a Coocafé e seus produtores, que são pioneiros no uso do biochar em grande escala”, afirma Figueiredo.

Fundada em 2021 por Axel Reinaud, Jean Jouzel, Aimé Njiakin, Olivier Reinaud e Pedro de Figueiredo, a NetZero completou três anos no último dia 18 de janeiro e já se consolida como importante player mundial do mercado de descarbonização. Na África, possui uma usina de processamento de café a partir da qual também desenvolve um projeto-piloto de produção de biochar. A relação com a África está no fato de Aimé ser de Camarões.

Esponja de carbono que limpa o ar e aumenta a fertilidade do solo

O biochar é o resultado da transformação de resíduos de biomassa, como a palha de café e o bagaço de cana, em uma forma de carvão muito estável, por meio de um processo térmico denominado pirólise. Incorporado no solo, funciona como uma “esponja de carbono”, que ajuda terras agrícolas a reter água e nutrientes.

Na cultura do café, por exemplo, pode reduzir em 33% a aplicação dos fertilizantes e, ainda assim, aumentar em 14% a produtividade média. Esse movimento conjunto diminui em cerca de 30% as emissões de CO2 por quilo do grão, o que representa uma considerável mitigação de dano ambiental, mantendo uma alta produtividade. Pode ser produzido e utilizado a partir de outras culturas, como a cana-de-açúcar, coco e açaí.