Entre os principais desafios para a adoção de energia limpa mais barata e confiável estão o alto custo inicial de instalação e a resistência de setores mais tradicionais da economia
23 de maio de 2024
Por Leandro de Abreu*
No Brasil, o custo residencial de energia elétrica é um dos mais altos do mundo quando comparado à renda per capita. Essa constatação, baseada em uma análise da Agência Internacional de Energia sobre dados de 2022 e envolvendo 34 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), revela um cenário em que o peso dos gastos com energia é desproporcionalmente maior no orçamento das famílias brasileiras. Esse impacto é mais acentuado no Brasil do que em economias de alta renda, como os Estados Unidos e a Espanha e supera, inclusive, o observado em nações emergentes como Chile e Turquia.
Diante dessa realidade, em que muitas famílias frequentemente se veem obrigadas a escolher entre pagar a conta de luz ou outras despesas essenciais, lançamos um desafio: seria possível zerar a conta de luz dos brasileiros? A análise dessa possibilidade revela uma série de complexidades, desafios e oportunidades entrelaçadas na ambiciosa jornada de transição energética para fontes de energia mais sustentáveis e de transformação do comportamento de consumo.
Atualmente, a matriz energética brasileira depende fortemente de hidrelétricas, uma fonte renovável que, apesar de seus benefícios, enfrenta desafios significativos como a variabilidade climática e questões ambientais. Essa dependência torna o sistema altamente vulnerável a mudanças, afetando diretamente a estabilidade dos custos de energia. Além disso, uma elevada carga tributária sobrecarrega o sistema, aumentando ainda mais o custo da energia para o consumidor final.
A transição para outras fontes de energia sustentáveis, como a solar e a eólica, emerge como soluções viáveis e cada vez mais necessárias. Com seu vasto potencial em energia limpa, o Brasil tem a oportunidade de liderar uma mudança significativa na produção e no consumo de energia. Em conjunto com iniciativas do governo, as empresas também podem diversificar suas práticas de sustentabilidade, oferecendo benefícios cumulativos e assinaturas verdes aos consumidores para proporcionar descontos significativos nas contas de luz.
Essas ações não só têm impactos socioambientais, permitindo que famílias brasileiras economizem com a conta de luz e redirecionem suas economias para áreas como educação e saúde, mas também contribuem para a redução das emissões de gases de efeito estufa pela substituição de fontes fósseis por renováveis. Contudo, é crucial que essa transição seja bem gerenciada para evitar desequilíbrios no fornecimento de energia e para prevenir novos problemas ambientais.
Entre os principais desafios para a adoção de energia limpa estão o alto custo inicial de instalação e a resistência de setores mais tradicionais da economia. Além disso, é necessário mudar nossa perspectiva sobre como nos relacionamos com o meio ambiente. Atualmente, diversas ações incentivam um modelo de vida mais sustentável e fortalecem nosso vínculo respeitoso com o planeta. Contudo, é essencial superar várias barreiras — sejam elas políticas, fiscais ou culturais — e repensar o modelo de pensamento para priorizar um estilo de vida que favoreça a sustentabilidade.
Zerar a conta de luz do brasileiro é uma meta ambiciosa, mas possível através de um movimento de coalizão. A transição energética representa uma chance de repensar não apenas como produzimos energia, mas também como garantimos que seu acesso seja justo e sustentável. Mais do que uma questão técnica ou econômica, é uma transformação social que pode trazer benefícios duradouros para todos os brasileiros. Assim, mais do que uma possibilidade, a redução total da conta de luz poderia simbolizar uma verdadeira revolução verde no Brasil, marcando o início de uma era de maior conscientização, impactos sociais e responsabilidade ambiental.
*Leandro de Abreu é CEO da Prospera, climatech que fornece soluções globais de sustentabilidade.