21 de janeiro de 2024
Mariza Louven
O Rio de Janeiro continua sendo castigado por temporais cada vez mais frequentes e avassaladores. Uma semana depois das enchentes que causaram mortes e inúmeros prejuízos no estado, as chuvas torrenciais da madrugada deste domingo (21/1) voltaram a alagar ruas e transtornar a vida das pessoas, principalmente, dos moradores de áreas mais pobres da Zona Norte e Baixada Fluminense.
Para a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, o efeito desproporcionalmente avassalador nas comunidades mais carentes tem nome: racismo ambiental. “Quando dizem que favelas e periferias são quinze vezes mais atingidas que outros bairros, não é natural que em alguns municípios, bairros, periferias e favelas sofram com consequências mais graves da chuva do que outros”, afirmou a ministra em seu perfil em uma rede social.
“Isso acontece porque uma parte da cidade, do estado, não tem a mesma condição de moradia, de saneamento, de estrutura urbana do que a outra. Também não é natural que esses lugares tenham ali a maioria da sua população negra. Isso faz parte do que a gente chama e define de racismo ambiental e os seus efeitos nas grandes cidades”, completou.
O que pode ser feito para mitigar o racismo ambiental e os efeitos das mudanças climáticas nas cidades? Um caminho é levar o tema para dentro das casas dos cidadãos comuns, que são os mais afetados pelas mudanças climáticas.
As eleições municipais deste ano são uma oportunidade de engajar os eleitores no debate sobre a necessidade de agir para frear os efeitos das mudanças climáticas e as políticas públicas necessárias.
Temporais, calor muito intenso e secas persistentes, como as que afetaram a região Norte do Brasil este ano, também têm efeitos sobre a saúde e levam a aumentos de preços dos alimentos e da energia. Cada cidade pode encontrar o caminho mais conveniente, que algumas já estão buscando há um pouco mais de tempo.
Neste domingo, um artigo publicado no site The Buffalo News defende a aprovação de um plano de justiça climática para a cidade de Nova York. Este ano, diz o texto, as comunidades locais assistiram a uma aceleração da crise climática. Quase 50 pessoas morreram após a nevasca histórica do ano passado e, neste verão, um calor recorde cobriu a megalópole com o fumo tóxico de incêndios florestais, levando a um aumento vertiginoso nas visitas hospitalares por asma e agravamento de outras doenças crônicas.
O artigo comenta que o estado de Nova York está tentando implantar a Lei do Clima de Nova York (NY’s Climat Act) segundo a qual, até 2030, deverá obter 70% da sua eletricidade proveniente de fontes renováveis; até 2040, toda a eletricidade viria de fontes de energia limpa, como a eólica e a solar.
“Garantir que a Lei do Clima seja implementada é um esforço popular. Graças aos esforços do movimento estadual pela justiça climática, no ano passado, Nova York criou um fundo estatal dedicado ao clima, o Fundo de Ação Climática (CAF).”
A coalizão NY Renews também apresentou um Orçamento Popular para Justiça Climática de US$1 bilhão, destinado a apoiar comunidades necessitadas este ano. Desenvolvido por e para os nova-iorquinos, o orçamento descreve programas críticos de justiça climática e ambiental que a governadora Kathy Hochul, do Partido Democrata, deverá incluir no seu orçamento executivo neste inverno (verão no Brasil), diz o artigo.
“Ao aprovar o Orçamento Popular para a Justiça Climática, Nova York pode começar a enfrentar a crise climática em grande escala, atualizando a nossa rede energética, tornando as nossas casas mais seguras, reduzindo as nossas faturas de energia e melhorando as estradas e os transportes públicos vulneráveis à subida dos mares e ao agravamento das tempestades.”, diz o texto.
Nova York precisa de um plano de justiça climática. Mas, que cidade não precisa?
*Alagamento no Rio. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil