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Os desafios do relato de sustentabilidade e clima para pequenas e médias empresas

Os desafios do relato de sustentabilidade e clima para pequenas e médias empresas

Tecnologia pode ajudar a amenizar os custos, segundo os participantes do debate sobre “Relatórios de Sustentabilidade na Era Digital”

11 de setembro de 2024

Como não gerar mais custo do que benefícios para as pequenas e médias empresas devido ao avanço da regulação relacionada à gestão das informações sobre emissões de gases de efeito estufa? A resposta pode ser resumida na palavra proporcionalidade, segundo participantes do debate sobre “Relatórios de Sustentabilidade na Era Digital”, realizado nesta quarta-feira pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), com a presença de representantes do Banco Central, Comissão de Valores Mobiliários e Ministério da Fazenda.

A chefe adjunta do Departamento de Assuntos Internacionais do Banco Central, Cyntia Freitas Azevedo, disse que o custo da regulação no mercado financeiro brasileiro já é muito baseado no tamanho das instituições. A ideia é que isso também seja válido para outros tipos de regulamentações, como as relacionadas à aplicação das normas internacionais S1 e S2 da ISSB, que norteiam os relatos de sustentabilidade e clima – ainda em fase de adoção voluntária no Brasil e compulsórias a partir de 2026, para companhias abertas, securitizadoras e fundos de investimentos.

“No caso das pequenas e médias empresas, você não pode pedir o mesmo tipo de informação que você pede para uma empresa listada, por exemplo”, disse ela. A tecnologia pode ser uma aliada não só para quem está reportando, mas para quem vai usar os dados.

O desafio de adaptar os relatórios de sustentabilidade e clima para pequenas e médias empresas, incluindo as startups, é uma questão não só do Brasil ou de países emergentes. Segundo ela, esta é uma preocupação também nas economias avançadas, que estão tentando implementar esse tipo de relatório para pequenas e médias empresas.

Um relatório finalizado pelo Grupo de Trabalho de Finanças Sustentáveis do G20 traz os desafios mais comuns detectados e recomendações. Entre eles, estão a questão do custo, falta de infraestrutura de dados e de capacidade técnica, dificuldade de adaptação dos padrões às circunstâncias de cada país, confusão entre os padrões existentes e qual deve ser usado, custo das tecnologias que precisam ser adotadas e de treinamento.

A partir desse diagnóstico, foi construído um conjunto de recomendações que é adotar proporcionalidade, de acordo com o porte, um faseamento da adoção dos padrões para pequenas e médias empresas ou mesmo firmas maiores de economias emergentes. A lista inclui encorajar o uso de tecnologia e instrumentos digitais para endereçar a questão dos gaps de dados e de capital humano. Outra é que os padrões sejam interoperáveis, para que sejam comparáveis entre países, além de confiáveis.

Desafio é maior para os pequenos negócios

Aumentam as exigências internacionais para que as grandes empresas meçam não apenas as emissões de carbono de suas próprias atividades e da energia utilizada em seu negócio. A gestão do carbono em toda a cadeia de valor (escopo 3 do GHG Protocol), cria um tipo de efeito cascata que abrange empresas de todos os tamanhos. Pequenas e médias empresas têm enfrentado os desafios de atender às crescentes exigências por informações.

O evento, organizado pelo iCS em parceria com o Instituto Itaúsa e o Carbon Disclosure Project (CDP), com o apoio do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio) e do NZDPU, debateu as contribuições apresentadas pelo Policy Paper publicado pelo Grupo de Trabalho de Finanças Sustentáveis do G20.

No “Relatórios de Sustentabilidade na era digital: Superação de desafios para PMEs e EMEDs”, elaborado por ITS, FGV Direito SP, com apoio do iCS, dois pontos principais se destacam: como criar padrões de relatórios adaptados para PMEs e como utilizar tecnologias digitais para aumentar a qualidade e a acessibilidade dos relatórios de sustentabilidade.

De acordo com o estudo, o debate sobre o tema mudou. Atualmente, a discussão não é mais sobre a possibilidade ou não de se divulgar dados de sustentabilidade, mas sim sobre a melhor forma de fazê-lo. O estudo também ressalta que o escopo das medidas regulatórias vem se expandindo, tanto geograficamente quanto entre categorias de empresas, para alcançar as de menor porte.