A editora do Carbon Report, Mariza Louven, faz parte do grupo de dez jornalistas selecionados pela Climate Tracker para reportar os desafios ambientais das cidades da região
07 de maio de 2024
“Um zoom no desmatamento urbano da Amazônia” é o primeiro de seis vídeos produzidos pela editora do Carbon Report, Mariza Louven, para o projeto “Amazônia Urbana”, da Climate Tracker. Ela é uma entre dez jornalistas de países com territórios na Amazônia que estão produzindo uma série de conteúdos audiovisuais para veiculação em redes sociais, com o objetivo de chamar a atenção dos internautas para os desafios ambientais das cidades situadas dentro da maior floresta tropical do mundo.
O vídeo aborda o contraste entre o imaginário da floresta e a realidade das grandes cidades, como Manaus, que segundo o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem mais de 2 milhões de habitantes e cresce num ritmo mais acelerado do que a média do país. De acordo com os últimos dados disponíveis do IBGE, a cidade ficou na terceira pior posição entre as capitais com vias menos arborizadas do país (23,9%), em 2010, atrás apenas de Belém (22,3%), no Pará, e de Rio Branco (13,8%), no Acre, onde a falta de árvores nas ruas e avenidas era ainda maior.
Estudos mais recentes, como o Mapa da Desigualdade entre as Capitais Brasileiras, publicado pelo Instituto Cidades Sustentáveis, com base em informações de 2022 do Ministério das Cidades e do MapBiomas, confirmam que a situação continua crítica nos municípios da Amazônia. De acordo com esta publicação, a região tem quatro das cinco capitais mais desflorestadas do país: Macapá, no Amapá; Rio Branco, no Acre; Porto Velho, em Rondônia; e Boa Vista, em Roraima.
As prefeituras de Manaus, Belém e Rio Branco foram procuradas, mas nenhuma concedeu entrevista sobre o tema. A assessoria de comunicação da Prefeitura de Rio Branco enviou imagens de uma ação de arborização recente, incluída no vídeo. Já o diretor de arborização da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Mudanças Climáticas (Semmasclima) de Manaus, Deyvson Braga, confirmou que o problema existe e que a prefeitura está se mexendo, mas não chegou a agendar a entrevista solicitada. Não foi possível o contato com a prefeitura de Belém.
Segundo a Climate Tracker, o tema Amazônia Urbana foi escolhido porque a região costuma ser abordada pelo ângulo das grandes extensões de floresta tropical intacta, sem intervenção humana e, acima de tudo, sem sociedades vivendo nela. A Climate Tracker é uma organização internacional sem fins lucrativos focada em apoiar, formar e promover o jornalismo climático.
O contraste entre a cidade e a floresta
Única que não vive na Amazônia, no grupo de dez jornalistas selecionados pela Climate Tracker para reportar os desafios ambientais das cidades da região, a jornalista Mariza Louven contou com a ajuda de sua rede: “um amigo me apresentou a uma amiga e assim começou a apuração”, que inclui depoimento do estudante de Comunicação Fabrício Mendes, morador do Centro de Manaus. Ele falou sobre a sensação de calor no bairro, segundo ele maior do que em áreas mais arborizadas da cidade.
Concentração de construções, tráfego de veículos e atividades humanas, como no Centro de Manaus, criam as chamadas ilhas de calor urbanas, como em qualquer cidade, afirma no vídeo o meteorologista Diego Souza, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Segundo ele, o que chama a atenção é a diferença de 3º ou 4º entre as áreas mais densamente construídas e a floresta. A tese de doutorado dele foi sobre as ilhas de calor de Manaus e Belém.
A situação é agravada pelas queimadas e pelas mudanças climáticas, que pioram a qualidade do ar e ameaçam o futuro de locais como Belém. A capital do Pará pode se tornar uma das cidades mais quentes do mundo, com sensação de calor elevadíssima, segundo o meteorologista Carlos Nascimento, do C3 TV.
O vídeo não inclui este dado, mas diversas instituições têm apontado os riscos das mudanças climáticas para Belém, a cidade que vai sediar a Conferência do Clima da ONU do ano que vem (COP30). Uma delas é o Woodwell Climate Research, que quantificou o número de dias com temperatura acima de 28º Celsius em Belém, medida pelo critério de bulbo úmido, que considera a umidade.
A projeção é de que, nas próximas décadas, poderá ser impossível ficar do lado de fora na cidade de Belém, nas horas mais quentes do dia, informa a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do Woodwell Climate Research, Ludmila Rattis. Um outro resultado deste estudo é que os meses mais quentes do ano vão ficar ainda mais quentes e a temporada de queimadas mais longa, até o fim deste século.
“A temperatura de bulbo úmido é a que a gente sente, a sensação térmica. Quando ela está acima de 28º C, quer dizer que é perigosa para nós. E é muito difícil trabalhar a céu aberto, como na construção civil, ou praticar esportes, por exemplo”, explica Rattis.
O vídeo também chama a atenção para este ser um ano de eleições municipais em todo o Brasil: “as pessoas deveriam ficar de olho nos planos dos candidatos para a arborização das áreas urbanas, na Amazônia ou em qualquer lugar do Brasil”, conclui Louven.
A identidade visual remete à arte de rua (street art), que tem presença forte nas cidades da Amazônia. O vídeo começa e termina com grafites de artistas da Amazônia. O do início é de Anderson Ghasp, do Pará (@ghasper_PA), e o do encerramento é de Ester Anedino, do Acre (@esagraffitiac). O fundo musical, disponível no Soundcloud com a licença Creative Commons, é da composição Conori, do álbum da cantora amazonense Márcia Siqueira.
https://www.instagram.com/reel/C6q789OOGMe/?igsh=MW1mYTNsbTFzZm42cQ==