Combinação de mudanças climáticas, El Niño e queimadas pôs municípios da Amazônia à frente de grandes cidades de São Paulo, segundo o Relatório Mundial de Qualidade do Ar de 2023 da IQAIR
25 de março de 2024
O aumento da poluição do ar para níveis acima dos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) já não está concentrado só nas maiores cidades do país. Uma combinação de mudanças climáticas com queimadas e outros fatores tornaram o município de Xapuri, no Acre, o de atmosfera mais poluída em 2023, à frente de Osasco, em São Paulo. Manaus, no Amazonas, ficou em terceiro lugar. Os dados fazem parte do Relatório Mundial de Qualidade do Ar de 2023, divulgado no último dia 19/3 pela IQAIR, uma empresa de tecnologia especializada no monitoramento da qualidade do ar.
Os resultados para o Brasil estão profundamente interligados à seca extrema registrada no Norte do país no ano passado, ondas de calor, incêndios florestais significativos e o super El Niño (aquecimento das águas do oceano). Apesar de o desmatamento florestal ter diminuído na Amazônia em 26% em 2023, diz o relatório, a poluição atmosférica causada pelos incêndios florestais na região causou forte piora na qualidade do ar, aumentando os perigos para a saúde. Os dados são baseados em índices de concentração de poluentes (PM2,5) superiores aos indicados pela OMS, que recomenda média anual igual ou inferior a 5 microgramas por metro cúbico (µg/m3). O de Xapuri ficou 21 (excede de 3 a 5 vezes o parâmetro da OMS).
Manaus, a terceira pior em qualidade do ar, registrou 16,8 (3 a 5 vezes acima do parâmetro da OMS). Vale lembrar que, no dia 11 de outubro, a cidade teve a pior qualidade do ar no mundo. Na média do ano, na Amazônia, também se destacaram Acrelândia e outras cidades do Acre, como Senador Guiomard e Rio Branco , além de Porto Velho (Rondônia), todas com índices acima do recomendado pela OMS.
A poluição do ar urbano pode ser atribuída a uma variedade de fontes. Na cidade de São Paulo, maior metrópole do país, o problema é causado principalmente pelos gases de efeito estufa emitidos pelos veículos e pelas atividades industriais. Camaçari (Bahia), ficou em quarto lugar, seguida de cidades de São Paulo como Guarulhos, São Caetano, Rio Claro e Cubatão.
Setembro foi também o mês mais poluído para a cidade de Fortaleza, localizada no litoral nordeste do país, mas esta foi a única cidade do Brasil a atingir a diretriz anual da OMS em 2023.
O Brasil está longe de encabeçar a lista dos países com pior qualidade do ar no mundo, segundo o relatório, ficando na 83ª posição, entre os 134. No topo da lista estão Bangladesh, Paquistão, Índia, Tajiquistão e Burkina Faso. Apenas sete países cumpriram a diretriz anual da OMS : Austrália, Estônia, Finlândia, Granada, Islândia, Maurício e Nova Zelândia.
A maior parte (70%) dos dados em tempo real sobre a qualidade do ar na América Latina e Caribe provêm de sensores de baixo custo. A África continua a ser o continente mais sub-representado, com um terço da população ainda sem acesso a dados sobre a qualidade do ar.
O relatório completo pode ser acessado em https://www.iqair.com/us/world-air-quality-report-press-kit