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Agricultura sustentável no Cerrado poderia gerar mais US$ 72 bilhões por ano para o Brasil

Agricultura sustentável no Cerrado poderia gerar mais US$ 72 bilhões por ano para o Brasil

Novo relatório da Aliança para Florestas Tropicais do Fórum Econômico Mundial e da Systemiq diz que desmatamento da maior savana do mundo pode causar escassez de alimentos em todo o planeta

28 de fevereiro de 2024

Um novo modelo de crescimento econômico no Cerrado poderia gerar US$72 bilhões por ano para a economia do Brasil, equilibrando as medidas de proteção ambiental e, ao mesmo tempo, impulsionando a produção sustentável de alimentos, aumentando o emprego e o turismo e aproveitando as indústrias verdes. A previsão é do relatório “O Cerrado: produção e proteção”, publicado pelo Fórum Econômico Mundial.

Os dados foram levantados por iniciativa da Aliança para Florestas Tropicais do Fórum Econômico Mundial, em colaboração com a Systemiq, uma consultoria internacional focada em soluções para as empresas resolverem problemas sistêmicos complexos, como a entrada na economia de baixo carbono.

O estudo foi baseado na análise de diversos dados e na perspectiva de restauração de terras degradadas e do aumento da quantidade de áreas protegidas no Cerrado.

O Cerrado é um celeiro global, responsável por 60% da produção agrícola do Brasil e 22% das exportações globais de soja. No entanto, recebe significativamente menos atenção e proteção legal do que a floresta amazônica, resultando num aumento de 43% na desflorestação no Cerrado no ano passado, em comparação com uma queda de 50% na Amazônia, de acordo com dados do governo.

Metade da vegetação nativa do Cerrado já foi destruída pelo desmatamento para a produção agrícola, diz o texto. Se as tendências atuais continuarem, o comércio de soja, gado, cana-de-açúcar e milho no Brasil sofrerão, causando escassez de alimentos em todo o mundo e danos econômicos extensos.

À medida que o Brasil se prepara para acolher a reunião do G20 neste fim de ano e para sediar a COP30, em 2025, está bem posicionado para atuar como um líder climático, liderando uma abordagem equilibrada que apoia o setor agrícola e, ao mesmo tempo, salvaguarda o Cerrado, diz o texto.

Segundo Jack Hurd,diretor executivo da Tropical Forest Alliance, o Cerrado é a maior e mais biodiversa savana do mundo, o que o torna um dos ecossistemas mais importantes do planeta. No entanto, recebe pouca atenção e menos proteção legal do que necessita. Isto resultou numa degradação e exploração significativa dos solos, o que representa uma grande ameaça aos sistemas alimentares dos quais dependem milhares de milhões de pessoas em todo o mundo, acrescentou.

Este relatório visa iniciar uma discussão muito necessária entre os formuladores de políticas, o agronegócio e outros tomadores de decisão importantes do Brasil sobre como podemos implementar um novo modelo agrícola na região – um que simultaneamente aumente a produção, melhore a biodiversidade e garanta os benefícios dos ecossistemas para as gerações atuais e futuras e protege as comunidades indígenas e locais”, acrescentou.

Com base em pesquisas abrangentes e entrevistas com especialistas brasileiros, o artigo propõe diversas soluções, incluindo métodos de produção sustentáveis, como a agrossilvicultura e a agricultura regenerativa, que criarão condições mais saudáveis ​​para o crescimento alimentar, aumentarão a produtividade e resultarão em maiores lucros e mais empregos.

Celeiro também tem grande potencial para produzir bioenergia

Além de ser uma potência agrícola, o Cerrado também tem um enorme potencial para a bioenergia – energia derivada de plantas e outros recursos naturais – e já abriga um terço das instalações de biogás do Brasil. Com a bioenergia definida para desempenhar um papel fundamental no futuro sistema energético global, o relatório descreve como a indústria poderia ser expandida de forma sustentável no Cerrado, o que poderia abrir oportunidades para o Brasil em mercados em crescimento, como combustível de aviação sustentável e hidrogênio verde.

O estudo alerta, porém, que existe o risco de isso também abrir a porta para mais desmatamento e conversão e, como tal, investimentos e outras medidas devem ser tomadas para proteger o Cerrado.

Chama a atenção, ainda, para o fato de o novo modelo exigir maior colaboração e ação dos setores público e privado em toda a indústria alimentícia, incluindo decisores políticos, empresas, instituições financeiras e empresas tecnológicas.

Com os olhos do mundo voltados para o Brasil no período que antecede o G20 e a COP30, o país tem uma oportunidade única de se posicionar como líder em clima e natureza ação integrando a agenda de segurança alimentar e proteção da natureza no Cerrado, um dos biomas mais importantes do mundo”, disse Patricia Ellen da Silva, sócia e chefe do escritório no Brasil da Systemiq.

Segundo ela, o Cerrado deve estar no centro da transformação global dos sistemas alimentares e da produção de energia, bem como das estratégias e tecnologias de conservação da natureza.