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Destinação de florestas para conservação pode reduzir perda de vegetação em 57%

Destinação de florestas para conservação pode reduzir perda de vegetação em 57%

Ferramenta indica que desmatamento acumulado entre 2020 e 2025 será de cerca de 50.000 km2, 35% maior do que quando se leva em consideração a governança e os fatores macroeconômicos

30 de abril de 2024

Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) criaram, em parceria com o Banco Mundial, uma plataforma em que é possível prever o risco de desmatamento e estimar as áreas futuramente desmatadas nos Estados da Amazônia Legal. A ferramenta divulgada nesta terça-feira combina os efeitos macroeconômicos com governança local para antecipar possível perda de vegetação nativa na região em três cenários.

No cenário “Business as usual”, ou seja, mantida a trajetória dos últimos anos, o desmatamento acumulado entre 2020 e 2025 será de cerca de 50.000 km², 35% maior do que quando se leva em consideração a governança e os fatores macroeconômicos. Nessa perspectiva, seriam desmatados 37.000 km² no período.

Nos três modelos, as áreas com mais risco de desmatamento são a região central do Pará e o sul do Amazonas, especialmente os locais próximos a estradas. Valores menores são observados na região entre Cerrado e Amazônia, uma das fronteiras agrícolas mais antigas da Amazônia e que possui florestas com extensas áreas desmatadas.

As florestas públicas não destinadas foram as áreas mais desmatadas nos cenários Business as Usual e Macroeconômico. Quando se prevê a destinação dessas florestas para a sua conservação (cenário macroeconômico com governança), é observada uma redução de 57% no desmatamento nesse tipo de área.

Mesmo no cenário macroeconômico com governança, caso não haja mecanismos de controle de vazamento do desmatamento, é previsto que o problema aumente, principalmente, em assentamentos de reforma agrária e propriedades rurais. Em menor quantidade, também em Unidades de Conservação.

Causas do desmatamento brasileiro

De acordo com o modelo da plataforma, o desmatamento brasileiro é fruto da relação entre fatores macroeconômicos, da governança ambiental e da vulnerabilidade das áreas de vegetação nativa. Enquanto os fatores macroeconômicos são usados para estimar a quantidade de desmatamento esperada, os fatores de governança e vulnerabilidade são usados para prever o local com maior risco de ser desmatado, assim como a possibilidade de vazamentos – quando o desmatamento não é eliminado, mas apenas “transferido” para outra região.

“Por exemplo, uma vez que as florestas são destinadas à conservação e os agentes de desmatamento se tornam menos encorajados a desmatar, é possível que os mesmos busquem outras oportunidades em outras áreas e, assim, o desmatamento é ‘vazado’ de uma área para outra. Por isso, também é muito importante que as políticas de controle de desmatamento sejam executadas como políticas multisetoriais em diferentes escalas, onde diferentes mecanismos são implementados em conjunto para evitar o desmatamento”, afirma Andrea Garcia, então pesquisadora do IPAM e uma das autoras do artigo.

O trabalho com o IPAM agora nos permite modelar o desmatamento ao longo do espaço e do tempo, a partir das nossas premissas macroeconômicas,” disse Marek Hanusch, economista líder do Banco Mundial.

Outro fator importante levado em consideração na criação dos modelos foi o mapeamento de áreas onde o desmatamento tem mais chance de ocorrer. “A projeção mostra a quantidade de desmatamento esperado, onde é provável que aconteça e quais fatores representam uma forte conexão com essa dinâmica. Dessa maneira, podemos pensar em estratégias mais direcionadas para o problema em questão. As projeções também são importantes para se estimar a eficácia dos mecanismos implementados em um curto espaço de tempo, assim como potenciais vazamentos oriundos das estratégias implementadas”, aponta Garcia.