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Even quer se antecipar às novas exigências da CVM para relatos de sustentabilidade e clima

Even quer se antecipar às novas exigências da CVM para relatos de sustentabilidade e clima

A incorporação da sustentabilidade nos canteiros de obras e nas construções ainda é heterogênea e avança num ambiente culturalmente adverso, impulsionada pelos players financeiros

10 de julho de 2024

Mariza Louven

A adoção de padrões internacionais nos relatórios corporativos de sustentabilidade vai separar o “joio do trigo”, segundo o gerente de Obras, Qualidade e Sustentabilidade da Even Construtora e Incorporadora S/A, Rubens Anjos. A empresa planeja se antecipar às novas exigências da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para relatos corporativos de sustentabilidade e clima, obrigatórios a partir de 2026.

A Even é uma companhia com ações negociadas em bolsa que faturou R$ 1,9 bilhão no ano passado. Atua num setor em que a incorporação da sustentabilidade ainda é heterogênea e vem sendo impulsionada, principalmente, pelos players financeiros.

Os novos padrões de relato corporativo estão sendo instituídos, entre outras razões, para que os investidores disponham de informações mais precisas sobre o que as empresas estão de fato fazendo. Outra motivação é tornar os relatórios corporativos mais comparáveis e evitar o marketing vazio, também chamado de greenwashing.

Mais importante do que ostentar selos como net zero ou outros, segundo Anjos, é incorporar as práticas sustentáveis ao dia a dia. “Se isso não estiver na visão da companhia, dificilmente vai subsistir ao longo do tempo”, opina. Ele chama a atenção para a importância de o tema ser tratado estrategicamente, em nível de Conselho de Administração e permear todos os setores e processos.

A cultura da indiferença

Isso é necessário, também, porque a cultura da sustentabilidade ainda não é totalmente difundida na construção civil. Mesmo com o tema em pauta na Even desde 2007, pesquisa interna realizada pela empresa revelou que é desconhecido pela maioria dos colaboradores. Apenas 30% sabem bem o que é. “O problema são os 70% que não sabem e nem quiseram responder. O problema é essa indiferença dos que não sabem. Acho que essa é a barreira que a gente tem que furar.” Na avaliação dele, a proporção é mais ou menos a mesma entre os clientes, compradores dos imóveis.

“Hoje a sustentabilidade é parte do nosso planejamento estratégico e isso faz toda a diferença”, afirma. Ficou muito claro quando esta era uma área da empresa e depois passou a ser corporativo. “A mudança é drástica”, diz ele. A Even também criou um comitê multidisciplinar para tratar do assunto.

O que a construção civil precisa fazer para ser mais sustentável e contribuir para reduzir os impactos das mudanças climáticas nas cidades?

Para Anjos, na construção civil, em geral, é necessário o alinhamento entre o produto, desempenho do produto e aderência à legislação e normas. “Parece clichê, mas o setor é desnivelado. Ele não tem essa maturidade, ainda”, assinala. Na prática, Anjos faz uma distinção entre a sustentabilidade do canteiro de obras e do produto, sendo que a maior evolução do setor foi no primeiro.

Nos canteiros, pode ser adotada uma gestão eficiente dos resíduos, que correspondem, em média, entre 10% e 30% dos materiais utilizados. Na Even, o índice de reaproveitamento do entulho das obras é de 98%. Restos de tijolos podem, por exemplo, ser transformados em bloquetes ou em concreto de menor resistência.

Outra prática, que depende de decisão estratégica, é a utilização da cadeia produtiva local. O deslocamento de materiais aumenta muito a pegada de carbono, porque o transporte geralmente usa combustíveis intensivos na emissão de gases de efeito estufa.

Especificamente sobre a descarbonização, pode ser usado o concreto menos intensivo em carbono, que tem mais aditivos e menos cimento em sua composição, assim como a madeira de reflorestamento ou engenheirada. Entre as alternativas estão, ainda, materiais cuja matéria-prima seja composta de produtos reciclados e dispositivos que contribuem para a eficiência energética das construções, como lâmpadas de led.

Os projetos também podem prever a instalação de placas solares para o aquecimento da água, telhados e paredes verdes e áreas permeáveis maiores, que ajudem na captação da água da chuva – tanto para a irrigação de áreas verdes do empreendimento quanto para diminuir o acúmulo do líquido em casos de temporais, evitando que se transforme em enchentes.

No que diz respeito às emissões de gases de efeito estufa, apenas cerca de 5% ocorrem no canteiro de obras, que segundo ele são uma espécie de montadora. Os 95% restantes vêm na cadeia de produção. A Even já neutralizou cerca de 250 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) desde 2015 e, em 2023, definiu a meta de reduzir 5% das emissões de todos os insumos utilizados, até 2030.

A empresa compra créditos de carbono para compensar parte das emissões que não consegue reduzir. Em 2021, apostou na aquisição de créditos gerados pela captura do metano no aterro sanitário de São José dos Campos, São Paulo. De 2022 para cá, focou em projetos de geração de energia eólica. “A gente vai comprar créditos por um bom tempo, mas é importante buscar a redução das emmissões”.

Ouça o podcast com a entrevista completa com Rubens Anjos.