O primeiro projeto de créditos de biodiversidade em comunidades indígenas do Brasil vai adotar a metodologia do Instituto Life, informa a fundadora do Movimento Nova Economia, Carla Hoffmann
05 de setembro de 2024
Mariza Louven
A InCarbon, startup integrante do Movimento Nova Economia, vai lançar o projeto “Biocréditos Parintintin” durante a Conferência das Partes da Convenção de Diversidade Biológica da ONU (COP16), mês que vem, na Colômbia. A iniciativa é a primeira relacionada a créditos de biodiversidade em comunidades indígenas do Brasil, segundo a fundadora do Movimento Nova Economia, Carla Hoffmann.
Segundo ela, o projeto piloto está sendo desenvolvido com metodologia do instituto Life nos territórios indígenas 9 de Janeiro e Ipixuna. A Incarbon é uma empresa patrocinadora do Movimento Nova Economia.
O projeto contempla a totalidade dos indígenas da etnia Parintintin, sendo 419 indígenas diretamente beneficiados, em um território que contempla 444 mil hectares, no sul do Amazonas. A associação indígena é a dona do projeto e a expectativa é de que a receita da venda dos títulos assegure a soberania alimentar, segurança e desenvolvimento de novas cadeias de bioeconomia pelos indígenas.
“Esses ‘etnobiocréditos’ fazem parte de um programa mais amplo, desenvolvido pela startup Meu Pé de Árvore, com o apoio da Kanindé – Associação de Defesa Etnoambiental, que reconhece o potencial da economia extrativista das comunidades tradicionais e o impulsiona com o apoio da tecnologia”, afirma. Segundo ela, a bioeconomia pode integrar a preservação da biodiversidade com o desenvolvimento econômico, tornando-se uma ferramenta crucial para a reindustrialização sustentável do Brasil e a proteção de seus ecossistemas.
A conexão da bioeconomia com o combate às mudanças climáticas é direta: ao adotar práticas sustentáveis, essas atividades protegem os recursos naturais ao mesmo tempo que reduzem a pegada de carbono da economia, contribuindo para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
O que é o mercado de créditos de biodiversidade?
Os créditos de biodiversidade ainda estão engatinhando no mercado, mas começam a despontar como alternativa para financiar iniciativas que demonstram benefícios mensuráveis para a conservação da natureza. Os primeiros títulos estão sendo vendidos no mercado voluntário entre US$ 5 e US$ 25 a unidade.
Segundo Hoffmann esses créditos têm despertado o interesse de empresas que estão obrigadas a reportar o impacto dos seus negócios na natureza, por exigências corporativas internacionais, como as da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD) e a Carbon Disclosure Project (CDP).
Diferentemente do mercado de créditos de carbono, em que só se mensura o volume de gases do efeito estufa emitidos ou capturados, para a emissão dos créditos de biodiversidade são consideradas diversas interações ecológicas essenciais à vida e o impacto de ações de conservação, explica. Por isso, as metodologias que dão lastro aos créditos de biodiversidade são diferentes (e independentes) daquelas direcionadas ao mercado de carbono, destaca.
O protagonismo da bioeconomia
“A nova economia a que nos referimos é um modelo econômico que prioriza a sustentabilidade, a inovação e a inclusão social. Ao invés de focar exclusivamente no crescimento econômico tradicional, busca integrar práticas que minimizem o impacto ambiental, promovam a igualdade social e incentivem a inovação responsável ao mesmo tempo que são negócios rentáveis, viáveis economicamente”, destaca Hoffmann.
Segundo ela, a bioeconomia é protagonista na nova economia porque oferece soluções concretas e sustentáveis para diversos setores, desde a agricultura até a indústria. “Ela permite que recursos biológicos sejam utilizados de maneira eficiente e renovável, promovendo o desenvolvimento econômico sem sacrificar o meio ambiente. Além disso, cria oportunidades de inovação e emprego em áreas como biotecnologia, agricultura sustentável, e produtos biodegradáveis, que são fundamentais para uma transição para uma economia mais verde e resiliente”, acrescenta.
A bioeconomia também tem uma forte ligação com a economia circular, a partir de processos inovadores de coprocessamento de resíduos que podem gerar, por exemplo, energia limpa e insumos para diversas indústrias. Assim, contribui para proteger recursos naturais a partir do reuso de resíduos já disponíveis.
Principais desafios
De acordo com Hoffmann, os principais desafios para impulsionar a bioeconomia no Brasil incluem a necessidade de maior investimento em pesquisa e desenvolvimento, a criação de políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis, e a construção de uma infraestrutura adequada para a produção e distribuição de produtos bioeconômicos. Além disso, é essencial promover a conscientização e a educação sobre os benefícios da bioeconomia, tanto para a sociedade quanto para o meio ambiente.
“Para a bioeconomia ganhar força, precisamos de um alinhamento mais eficaz entre o setor público, o setor privado e as comunidades locais. Isso inclui desde incentivos fiscais até programas de capacitação e suporte para empreendedores que desejam inovar nesse setor”, complementa.
“As perspectivas são promissoras, especialmente considerando o potencial natural do Brasil e a crescente demanda global por soluções sustentáveis. Se bem estruturada, a bioeconomia pode se tornar um dos pilares do desenvolvimento econômico do país, com benefícios que se estendem para além do crescimento econômico, promovendo também a justiça social e a preservação ambiental”, conclui.