Tecnologia da Stellantis para carros híbridos combina etanol com sistemas elétricos
A combinação de etanol, um velho conhecido dos brasileiros, com sistemas elétricos ultramodernos é a solução encontrada pela montadora Stellantis para a transição automotiva no Brasil.
Dona de marcas como Alfa Romeo, Chyrsler, Citroën, Fiat, Jeep e Peugeot, a companhia começará a produzir veículos híbridos de monopropulsão no país em 2024, com o objetivo de aumentar a participação dos híbridos e elétricos para 60% de suas vendas até 2030.
Bio-Hybrid é o nome da tecnologia de descarbonização da mobilidade desenvolvida pela Stellantis, compatível com diversos modelos de veículos produzidos pela companhia nas linhas de produção de suas três plantas localizadas em Betim (MG), Porto Real (RJ) e Goiana (PE).
A novidade está em linha com o plano de descarbonização do grupo, de cortar pela metade suas emissões de gases de efeito estufa até 2030 e atingir a neutralidade de carbono em seus processos e produtos em 2038.
A tecnologia Bio-Hybrid nasceu da plataforma Bio-Electro, que é um esforço de nacionalização de tecnologias. “Nossa prioridade é descarbonizar a mobilidade, mas queremos fazer isto de modo acessível para o maior número de consumidores e desenvolvendo tecnologias e componentes no Brasil”, afirmou Antonio Filosa, presidente da Stellantis para América do Sul, durante a apresentação da tecnologia, em Betim, Minas Gerais.
“Queremos potencializar as virtudes do etanol, como combustível renovável, cujo ciclo de produção absorve a maior parte de suas emissões, combinando a propulsão à base do biocombustível com sistemas elétricos”, complementou Filosa. Segundo ele, as novas tecnologias híbridas e elétricas devem constituir uma oportunidade de reindustrialização e de reconfiguração da indústria nacional de autopeças.
Quatro frentes de descarbonização no Brasil
A Stellantis desenvolveu quatro plataformas de baixo para aplicação no Brasil: Bio-Hybrid, Bio-Hybrid e-DCT, Bio-Hybrid PLUG-IN e BEV (100% Elétrica). São baseadas em tecnologias diferentes, que apresentam distintos graus de combinação térmica e eletricidade na propulsão do veículo.
Cada uma delas tem sua aplicação e, juntas, atendem a todas as faixas de consumidores, tornando acessíveis os sistemas híbridos baseados na combinação da propulsão térmica flex com a eletricidade, explica Marcio Tonani, vice-presidente do Tech Center da Stellantis na América do Sul.
As plataformas híbridas foram desenvolvidas pelo Tech Center Stellantis na América do Sul, em associação com fornecedores, pesquisadores e parceiros que constituem o ecossistema de inovação impulsionado pela empresa.
Transição verde e amarelo
A Stellantis entende que a propulsão elétrica é uma tendência dominante no setor automotivo mundial. No entanto, afirmou em comunicado, acredita que para se adequar ao cenário brasileiro, é necessária uma rota de transição.
“Devido à sua matriz energética, o Brasil tem a oportunidade de fazer uma transição mais planejada e menos onerosa, aproveitando-se da gradual redução dos custos decorrentes da massificação da tecnologia”, explicou João Irineu, vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis para América do Sul.
O tempo decorrente dessa estratégia de transição pode ser utilizado no amadurecimento do processo de reindustrialização de segmentos da cadeia produtiva nacional, altamente diversificada na produção dos itens mecânicos demandados pelos veículos térmicos. Por outro lado, de acordo com a empresa, a eletrificação traz uma demanda totalmente nova de componentes, sobretudo de sistemas elétricos de propulsão e eletrônicos de controle, atualmente produzidos fora do país.
Transição para o baixo carbono
Combinar o etanol com a eletrificação é uma alternativa competitiva de transição para uma mobilidade de baixo carbono. Para a Stellantis, a nacionalização dessa tecnologia é um desafio e também uma oportunidade para a indústria nacional.
Essa rota de transição é necessária para tornar a mobilidade sustentável e, ao mesmo tempo, acessível. Isso porque os veículos elétricos, apesar de eficientes no processo de descarbonização, ainda possuem um custo elevado, o que impede sua aquisição por grande parte dos consumidores de países em desenvolvimento com características de renda como as do Brasil.
Segundo a Stellantis, o etanol é uma alternativa competitiva para a descarbonização no país. Quando considerado no ciclo de vida completo do automóvel, o uso do etanol é extremamente eficiente em emissões de gases de efeito estufa, uma vez que a cana-de-açúcar, em seu ciclo de desenvolvimento vegetal, absorve dióxido de carbono (CO2), o que proporciona cerca de 60% de mitigação final do CO2 emitido quando comparado ao uso da gasolina.
Hoje a tecnologia flex fuel está presente em cerca de 80% a frota brasileira de veículos leves. A combinação do etanol com a eletrificação em propulsão híbrida é uma alternativa adequada de transição, pois permitirá o acesso de faixas maiores do mercado consumidor a tecnologias de baixa emissão.
Até por isso, a Stellantis também apresentou uma unidade térmica exclusivamente a etanol, que poderá estar presente em produtos da companhia nos próximos anos, incluindo nas plataformas Bio-Hybrid.
Testes multiplataforma
Recentemente, a Stellantis simulou um teste dinâmico com um veículo alimentado com quatro fontes distintas de energia, a fim de mensurar a emissão total de CO2 em cada situação. O automóvel foi abastecido com etanol e comparado, em tempo real, com a mesma situação de rodagem em três alternativas simuladas: com gasolina tipo C; 100% elétrico, abastecido com a mesma proporção de renováveis da na matriz energética brasileira; e 100% elétrico, abastecido na matriz energética europeia.
Na comparação, foram consideradas as emissões de CO2 associadas à propulsão do veículo durante o uso e as variáveis que incluem as emissões correspondentes à produção do combustível ou geração da energia utilizada.
A propulsão a etanol emitiu 18% menos CO2 do que um veículo elétrico abastecido com energia europeia, devido à sua geração baseada em fontes fósseis. Na comparação com gasolina, a redução das emissões é superior a 60%.
“Não se trata, portanto, de contrapor descarbonização e eletrificação. A descarbonização é o resultado desejado e necessário da reinvenção da mobilidade já em curso, enquanto a eletrificação é um dos caminhos para se alcançar a descarbonização da propulsão. O uso do etanol combinado com eletrificação é o caminho mais rápido e viável do ponto de vista social, econômico e ambiental para uma crescente eletrificação da frota brasileira”, conclui João Irineu, reforçando o compromisso da Stellantis com a descarbonização na região.
Foto de divulgação: Bio-Hybrid Stellantis