De acordo com estudo que mapeia as áreas em alto mar com maior potencial e os principais setores a serem beneficiados, PI, CE, RN, RJ, ES e RS têm mais oportunidades
A energia eólica offshore pode ampliar em 3,6 vezes capacidade de geração do país, revela o estudo “Oportunidades e desafios para geração eólica offshore no Brasil e a produção de hidrogênio de baixo carbono”, divulgado nesta terça-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Nesta data, a entidade realiza o evento “Diálogo Pré-COP 28 – O papel de indústria na agenda de clima”. O objetivo do encontro é reunir o setor produtivo, o governo e a sociedade civil para debater assuntos da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que vai ocorrer em Dubai entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro.
De acordo com estudo que mapeia as áreas em alto mar com maior potencial e os principais setores a serem beneficiados, PI, CE, RN, RJ, ES e RS têm mais oportunidades. Até 30 de agosto, já havia 78 pedidos de licenciamento ambiental para esses projetos.
A CNI mapeou uma faixa costeira e identificou as regiões com maiores oportunidades de exploração. No Nordeste, é observada uma grande área de viabilidade na costa entre o estado do Piauí, do Ceará e no Rio Grande do Norte. Também há uma área de grande interesse no Sudeste, entre os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo; e, na região Sul, observa-se uma área no estado do Rio Grande do Sul, na Lagoa dos Patos.
Segundo a entidade, a consolidação dessa cadeia de valor no Brasil pode impulsionar a economia e facilitar a retomada da industrialização. Além de oferecer uma fonte de energia limpa e renovável, o setor vai atrair empregos e investimento, estimular o desenvolvimento tecnológico e científico e apoiar a promoção do hidrogênio de baixo carbono no país.
Potencial brasileiro
Globalmente, estima-se que 260 GW podem ser gerados até 2030, elevando o total global de instalações eólicas offshore para 316 GW ao final desta década. Para isso, estão previstos investimentos na ordem de US$ 1 trilhão. Os números globais ainda não repercutiram no Brasil, cujo aproveitamento do potencial energético offshore, de cerca de 700 GW (3,6 vezes a capacidade de energia já instalada no país), segue inexplorado.
Com cadeias de suprimentos maduras nos setores relacionados à energia eólica onshore, petróleo e gás, o Brasil tem bagagem e experiência para alavancar a produção offshore nesses estados, diz o documento. A ABEEólica, associação que reúne mais de 100 empresas do setor eólico no Brasil, tem 23 integrantes que estão alocados na categoria “Engenharia, Consultoria e Construção” e que poderão estender seus serviços para a indústria eólica offshore.
Além de ajudar o Brasil no cumprimento das metas definidas pelo Acordo de Paris, há a expectativa de que o setor eólico – onshore e offshore incluídos – empregue cerca de 2,2 milhões de pessoas até 2030 e mais 2,1 milhões até 2050 no mundo, segundo a Agência Internacional de Energias Renováveis.
A ampliação da produção de energia renovável é um meio para o Brasil reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 37% até 2025 e em 50% até 2030, frente a 2005, conforme compromisso firmado no âmbito do Acordo de Paris. No ano passado, o Brasil também se comprometeu a alcançar emissões líquidas neutras até 2050.
Segundo o estudo, o conhecimento desenvolvido sobre energias renováveis, a extensa costa e a localização privilegiada para acessar os mercados com as maiores demandas para importação do hidrogênio podem colocar o Brasil como um forte competidor na geração de energia eólica offshore. Essa modalidade, inclusive, integra a estratégia da CNI para uma economia de baixo carbono e impulsioná-la é uma das prioridades do Plano de Retomada da Indústria, apresentado pela Confederação ao governo federal neste ano.
Para que o Brasil ocupe um lugar de destaque no mapa mundial, é preciso um marco regulatório que traga previsibilidade e regras claras. Nesse sentido, tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que regulamenta o modelo de cessão de áreas, a cobrança de outorgas e os critérios para a realização dos leilões.
O decreto 10.946, de janeiro de 2022, trouxe o regulamento sobre a cessão de uso de espaços físicos e o aproveitamento dos recursos naturais em águas para o desenvolvimento da energia eólica offshore. Mas a natureza do ato não foi suficiente para trazer segurança jurídica aos investidores.
Hidrogênio de baixo carbono
Uma das questões levantadas pelo estudo da CNI é como o setor elétrico vai absorver toda essa expectativa de desenvolvimento e expansão da geração. O hidrogênio de baixo carbono, é um caminho para viabilizar os projetos.
O hidrogênio pode ser produzido a partir de diversas rotas. Hoje, a maior parte é produzida a partir de rotas fósseis, sendo cerca de 71% por meio do gás natural e 27%, da gaseificação do carvão. Apesar disso, o hidrogênio pode ser adquirido a partir da eletrólise com fontes de energia elétrica renovável, a exemplo da eólica offshore.
Ainda que o hidrogênio de baixo carbono provavelmente só tenha mercado consumidor em cerca de dois a três anos, a CNI avalia que é preciso iniciar acordos, memorandos de entendimento e desenvolvimento de infraestrutura para o país se posicionar no mercado.
De acordo com a entidade, entre os setores da indústria que mais podem ser beneficiados está a siderurgia. O hidrogênio de baixo carbono pode ser usado na produção de aço, gerando o chamado aço verde. Outra alternativa de descarbonização considerada muito potente é a produção de metanol usando hidrogênio de baixo carbono, com aplicações nos setores de transporte e de armazenamento de energia elétrica. Há ainda grande oportunidade de se utilizar o hidrogênio produzido a partir de energia eólica offshore para o desenvolvimento de fertilizantes. Em 2022, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) registrou que 45,6% dos fertilizantes e adubos compostos por nitrogênio foram importados pelo Brasil.