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Desmatamento no Cerrado desacelerou em janeiro, mas ficou 10% acima de igual mês de 2024

Desmatamento no Cerrado desacelerou em janeiro, mas ficou 10% acima de igual mês de 2024

A fronteira agrícola composta por partes dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (Matopiba) continua sendo a que mais perdas no bioma, de 64% do total

29 de fevereiro de 2024

O Cerrado teve 51 mil hectares de vegetação nativa desmatada em janeiro de 2024, 48% a menos do que em dezembro de 2023, o melhor resultado dos últimos 11 meses. O número ainda é, porém, 10% maior do que em janeiro de 2023, quando foram derrubados 46 mil hectares. As informações foram divulgadas nesta quinta-feira (29/2) pelo Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), desenvolvido pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

Para Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM e coordenadora do SAD Cerrado, a desaceleração no desmatamento pode ser explicada, em parte, pela implementação de políticas públicas e pela chuva intensa que cai na região e afeta a detecção de novas áreas abertas. É necessário, segundo ela, que os esforços do governo para combate e controle do desmatamento estejam agora voltados para o Cerrado, assim como foram voltados para a Amazônia no ano passado.

“Essa diminuição na área de desmatamento detectada pode ser explicada, em parte, por políticas públicas implementadas recentemente no bioma. Apesar da redução neste mês, ainda não podemos afirmar se o desmatamento está de fato diminuindo em 2024. Estamos passando pelo período de chuvas no bioma, o que dificulta a detecção de alertas devido a alta cobertura de nuvens nessa época do ano”, comenta Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM e coordenadora do SAD Cerrado.

Matopiba lidera desmatamento

A fronteira agrícola composta por partes dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (Matopiba) continuou liderando o desmatamento da região, com 64% do total, totalizando 33 mil hectares perdidos.

No Tocantins, líder do ranking em janeiro, foram desmatados 10 mil hectares, 40% a mais do que o registrado em janeiro de 2023. O Piauí ficou em segundo lugar, com cerca de 10 mil hectares de vegetação nativa perdida, área desmatada similar à do primeiro mês de 2023. A terceira posição foi ocupada pela Bahia, que além de ter quatro dos dez municípios que mais desmataram em janeiro, perdeu 9 mil hectares de Cerrado, 2% a menos do que em janeiro passado.

Fora do Matopiba, Goiás registrou uma diminuição de 22% na área desmatada, equivalente a 4,5 mil hectares em janeiro de 2023 e a 3,5 mil em 2024. Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, no entanto, aumentaram a derrubada do Cerrado e somaram, juntos, 8 mil hectares perdidos, um aumento de 23% em relação a janeiro de 2023.

Desmatamento aumentou 224% em Cotegipe, na Bahia

Entre os municípios situados no bioma, Cotegipe, no oeste baiano, foi o líder do desmatamento em janeiro, com cerca de 2 mil hectares perdidos, um aumento de 224% em relação à área de vegetação nativa perdida em dezembro do ano anterior. O município não havia figurado entre os maiores desmatadores do Cerrado em 2023. A maioria dos alertas ( 99%) neste município de 13 mil habitantes foi registrada em áreas com cadastro ambiental rural privado.

“Esse mês observamos uma migração do desmatamento para municípios da região do oeste da Bahia onde antes não havíamos detectado grandes áreas desmatadas. Isso é um indicativo de que o desmatamento está expandindo para outros municípios da região, onde ainda existem grandes fragmentos de vegetação remanescente de Cerrado”, destaca Fernanda.

Vazios fundiários

A categoria com mais alertas continuou sendo a de áreas privadas, com mais de 74% da área derrubada, cerca de 38 mil hectares. Já os vazios fundiários – áreas sem posse ou mecanismos de governança definidos – foram a segunda categoria mais desmatada, correspondendo a 11% dos alertas.

Outro destaque foram as áreas desmatadas em Unidades de Conservação, que responderam por 9% do total em janeiro, totalizando 5 mil hectares perdidos. As principais áreas protegidas atingidas foram aquelas localizadas no Matopiba, como o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba e a Área de Proteção Ambiental Serra da Ibiapaba, localizada nos estados do Piauí e Ceará.

O Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado é um projeto de monitoramento mensal que utiliza imagens de satélites ópticos do sensor Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia. Fornece alertas de supressão de vegetação nativa para todo o bioma desde agosto de 2020 e funciona como ferramenta complementar a outros sistemas, como o DETER Cerrado, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil