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Empresas querem se antecipar às novas regras da CVM para relato de sustentabilidade e clima 

Empresas querem se antecipar às novas regras da CVM para relato de sustentabilidade e clima 

Pesquisa realizada pela Deloitte, em parceria com o IBRI, revela que a falta de padronização de dados é apontada como o principal desafio para monitorar indicadores ESG

04 de julho de 2024

Mais da metade das empresas brasileiras consultadas por pesquisa divulgada nesta quinta-feira (4/7) pretende aderir antecipadamente aos padrões internacionais para reportes de sustentabilidade e clima  já em 2025. As  novas normas são obrigatórias apenas em 2026, segundo a Resolução 193 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 

Para as companhias de capital aberto, o percentual chega a 68%, segundo o estudo “O protagonismo estratégico do RI: Como a comunicação, as novas regulações de ESG e a Inteligência Artificial podem influenciar o valor das empresas”. O levantamento foi conduzido pela Deloitte, em parceria com o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI). Considerou 51 empresas, das quais 37% são listadas na B3 e 18% no exterior, que responderam questionários on-line aplicados entre 4 de abril e 31 de maio de 2024. 

Entre os respondentes, 36% ocupam cargos executivos e 22% são membros de Conselho. Entre as áreas de atuação, 36% são de Relações com Investidores e 24% de Controladoria/Financeiro. Participaram do levantamento empresas dos setores de Infraestrutura (26%), Serviços (22%), Serviços financeiros (20%), Tecnologia da Informação e Telecomunicações (10%), Bens de consumo (8%), Agronegócio (6%), Comércio (6%), e Mineração, Petróleo e Gás (2%).

Os relatórios corporativos de sustentabilidade e ESG deverão ser elaborados de acordo com os padrões internacionais IFRS S1 e  S2, desenvolvidos pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), um órgão sob o guarda-chuva da Fundação IFRS. A CVM deteminou que as duas normas já podem ser adotadas voluntariamente por companhias abertas, fundos de investimento e securitizadoras no Brasil, mas em 2026 serão obrigatórias. Um dos objetivos é distinguir o fato e o fake nessas publicações e prevenir o greenwashing.

Principal dificuldade é vincular relatórios de sustentabilidade e financeiros

No panorama geral, segundo a pesquisa, as novas regulações são  vistas como benéficas aos negócios, mas seu processo de adoção apresenta obstáculos. Um deles é como vincular o relatório de sustentabilidade e ESG aos financeiros (67%). Outros são os custos associados às modificações sistêmicas para realizar essas interações (53%) e a determinação de métricas materiais para apresentação no reporte (51%).

De acordo com as respostas, Ainda que haja o amadurecimento das empresas com relação ao monitoramento de indicadores ESG, os desafios relacionados a eles – e que impactam diretamente no desenvolvimento de relatórios – estão relacionados à falta de padronização de dados (60%), às informações pulverizadas (58%), dificuldade de mensurar impactos financeiros (52%) e falta de equipe especializada (42%).

Os principais benefícios apontados pelos respondentes quanto à~ies adoção dos novos padrões estão maior clareza e comparabilidade entre relatórios (73%), auxílio no desenvolvimento de políticas de controle (64%), e mitigação de riscos como greenwashing (que são declarações enganosas ou exageradas sobre suas práticas ambientais) e outras práticas (51%).

A importância da comunicação com os investidores

O estudo inclui uma análise sobre a comunicação com investidores, a adoção de novas tecnologias e os desafios enfrentados pelos profissionais nesses aspectos. A estruturação da área de Relações com Investidores (RI) nas organizações está ganhando cada vez mais relevância, posicionando-se como um pilar fundamental para o crescimento sustentável e a maximização do valor das empresas.

Nesse sentido, 76% dos respondentes da pesquisa indicaram que suas organizações já têm uma área de RI estruturada atualmente, sendo que 51% delas implementaram essa estrutura nos últimos cinco anos, evidenciando um movimento crescente de estruturação nos últimos anos. 

Maioria vê necessidade de regulação da atuação dos “finfluencers”

De acordo com a pesquisa, 84% dos respondentes concordam que as redes sociais se tornaram uma fonte relevante de informação sobre economia e investimentos para o investidor. No entanto, apesar de concordarem com a relevância das redes sociais enquanto fontes de informação, as empresas ainda valorizam mais lives e teleconferências na comunicação com investidores.

Para 55% dos participantes, o aumento de investidores pessoas físicas deve-se à presença dos “finfluencers” – influenciadores digitais do mercado financeiro -, que atuam como formadores de opinião e referências populares sobre o mercado financeiro. Inclusive, 37% enxergam positivamente o impacto dos influenciadores no mercado de investimentos, apontando a democratização da educação financeira (81%), engajamento direto com investidores (75%), e compartilhamento de experiências (63%) como os principais motivos para essa conclusão.

Já os que discordam (18%), apontaram a comunicação inadequada dos fatores de risco e foco excessivo em tendências de curto prazo (88%) e falta de transparência sobre as informações apresentadas (75%) como motivos para enxergar de forma negativa os influenciadores digitais do mercado financeiro. Quase metade (45%) das organizações afirmaram enxergar a popularização dos finfluencers como neutra no mercado de Relações com Investidores.

Entretanto, 82% das empresas concordam que a CVM e a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) devem adotar regulações mais rígidas para mediar a relação entre finfluencers e investidores. Essa regulação deve fiscalizar, principalmente, analistas de investimentos e educadores financeiros, tendo em vista que o mercado de renda variável e outros ativos mais sofisticados oferecem maiores riscos aos investidores menos experientes.

IA e GenAI já são gradualmente aplicadas

Embora mais da metade das empresas considere a adoção de novas tecnologias uma prioridade, apenas 17% já implementam ferramentas de Inteligência Artificial ((AI, na sigla em inglês) e Inteligência Artificial Generativa (GenAI, na sigla em inglês) em suas atividades, como leitura e análise de dados (50%), produção de relatórios (38%), e personalização de conteúdo (25%). No entanto, 35% planejam adotar a ferramenta no próximo ano, refletindo uma tendência de modernização e inovação na área, com o objetivo de transformar a comunicação com investidores e aprimorar a eficiência e a capacidade de resposta às mudanças do mercado.

O uso da IA e da GenAI tem impactado significativamente os profissionais de RI em três áreas principais: automação e sofisticação na construção de relatórios com análise de dados avançados (81%), análise financeira mais aprofundada (69%), e elaboração de comunicação com investidores (63%). Essas tecnologias economizam tempo e recursos, fornecendo informações e insights mais eficientes e relevantes para os investidores.

Os principais desafios referentes ao uso da ferramenta incluem a necessidade de investimento em capacitação (70%) e garantia de transparência e segurança de dados (53%). Esses fatores destacam a complexidade enfrentada pelas empresas na incorporação de novas tecnologias.