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Governo do ES deve publicar este mês decreto com arcabouço do mercado capixaba de CO2

Governo do ES deve publicar este mês decreto com arcabouço do mercado capixaba de CO2

Estado vai destinar R$200 milhões em incentivos à produção de biogás, informa ao Carbon Report o secretário de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos capixaba, Felipe Rigoni

Mariza Louven

O Espírito Santo está finalizando um decreto para estabelecer a governança do mercado local de créditos de carbono. Enquanto aguarda a regulamentação federal, o estado finaliza seu arcabouço regulatório local para impulsionar o comércio voluntário de CO2. A informação é do secretário de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos capixaba, Felipe Rigoni. Segundo ele, o texto deverá ser publicado ainda este mês.

Em entrevista ao Carbon Report, o ex-deputado federal (União Brasil/ES) diz que não está prevista a criação de uma bolsa ou plataforma para negociação de créditos de CO2 no estado. A ideia é atuar no mercado voluntário por meio de certificadoras como a Verra, GFH Protocol e Low Cabon (LCBA).

Felipe Rigoni

Escolhemos não fazer REDD+ porque o Reflorestar gera um crédito de carbono de altíssima qualidade, ao impulsionar projetos de reflorestamento em áreas devastadas. No REDD+ o crédito seria muito barato”, diz o engenheiro formado pela Universidade Federal de Ouro Preto e mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford e primeiro deputado federal cego da história do Congresso Nacional.

Segundo Rigoni, o Espírito Santo tem o maior programa de Pagamento por Serviços Ambientais do Brasil, o Reflorestar, com mais de quatro mil produtores envolvidos. “Já reflorestamos mais de 10 mil hectares e mantemos de pé outros 10 mil hectares de florestas”, afirma.

Um dos pontos altos do Reflorestar é a crescente adesão dos agricultores ao sistema agroflorestal. No Reflorestar, hoje, mais de 60% das propriedades que entram no programa já adotam o sistema agroflorestal. Não é uma proporção pequena em relação ao Reflorestar, que reúne produtores de pequeno porte. Em média, no programa, um produtor refloresta dois hectares da sua propriedade. Hoje em dia, a média de reflorestamento continua a mesma, mas com introdução do sistema agroflorestal.

Um projeto ainda incipiente, mas que segundo ele vai acontecer, é o de plantio de florestas nativas para fins comerciais. “Podem ser para corte da madeira, manejo sustentável só para captura de carbono. Além disso, tem toda a nossa estratégia de sistema agroflorestal”. O desenvolvimento dessas iniciativas está ocorrendo em parceria com a Secretaria de Agricultura, o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) e outros órgãos.

O estado já tem uma unidade da Suzano, que faz um serviço de captura de carbono em suas plantações de eucalipto. A empresa ainda não comercializa créditos gerados em seus projetos no estado, mas o secretário diz que “eles estão preparando isso.”

Apoio ao reflorestamento, agrofloresta, geração de biogás, produção de hidrogênio e aumento da eficiência energética faz parte da estratégia de descarbonização do estado. Estas e outras iniciativas visam alcançar a meta de descarbonização prevista no Plano de Descarbonização e Neutralização das Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) do Espírito Santo. “Conseguimos estabelecer 22 diretrizes e 50 estratégias que podem nos levar à meta de ser net zero em 2050.”

Estado vai liberar R$200 milhões para incentivos à produção de biogás

O Espírito Santo tem um potencial de produzir mais de 580 milhões de metros cúbicos de biogás por ano. Por isso, de acordo com Rigoni, foi o primeiro estado do Brasil a regulamentar a injeção de biometano no gasoduto comum.

“Isso é muito importante para induzir demanda. Agora, estamos estudando, junto com o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (BANDES) e a Secretaria de Desenvolvimento um baita projeto de financiamento de plantas de biogás e de biometano.”

Vamos ter mais de R$ 200 milhões para isso, em recursos do Bandes. Queremos induzir a produção de biogás. Dinheiro, segundo ele, não é problema. “Somos um estado muito organizado, temos recursos para investir.”

O potencial do estado vem de diversas atividades. Um diferencial é a concentração de insumos num mesmo local: “A região de Santa Maria de Jetibá tem a maior concentração de granjas do país e produz uma quantidade de resíduos gigantesca. A concentração vai facilitar a instalação de plantas de biogás.”

Rigoni informa que duas unidades de produção já estão registradas e em processo para começar a serem instaladas. Queremos alavancar muito, porque tem muita coisa aqui que dá para fazer biogás.” O cluster pode gerar ainda subprodutos como fertilizante.

ES também vai incentivar produção de hidrogênio

O biogás também é estratégico para a produção de hidrogênio, que e depende de muita energia limpa para ser considerado verde. Além do potencial de produção do biogás o potencial eólico offshore e o interesse de empresas locais em descarbonizar suas atividades favorecem a produção de H2 sustentável no estado.

Um deles é o potencial eólico offshore. Outro, é a sinalização de siderúrgicas localizadas no Estado, como a Arcelor Mittal, a Sideral e a CBF, em investir na utilização de processos de redução direta baseados em hidrogênio.

No fim de junho, o estado publicou decreto instituindo o Gerar Hidrogênio, o primeiro passo para incentivar a produção, armazenamento e o uso (sistema CCS) no estado. “A ideia é dar incentivos fiscais para a produção de hidrogênio e, quanto mais carbono neutro ou negativo for o projeto, mais incentivo terá”, revela. “Aqui, vamos conseguir fazer muito hidrogênio com biogás e energia eólica offshore”.

A energia do vento produzida em alto mar ainda não é explorada no estado que está mais avançado no projeto do biogás. Mas, de acordo com Rigoni, existem projetos offshore da Petrobras no estado e de outros empreendedores. “O que não tem é a regulamentação federal. Os projetos estão prontos, as empresas querem fazer, mas falta a regulamentação do governo federal para saírem.”

De acordo com o deputado, a regulamentação está para sair nos próximos meses, mas ele sabe que isso pode demorar: “Eu já estive lá e sei como é.”