Ministro Fernando Haddad, diz que plantio de sementes de cana tem potencial de dobrar a produção nacional e que o H2 verde de cana talvez tenha impacto maior do que o do carro elétrico no país
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira, em Nova York, que o plantio de cana-de-açúcar por meio de sementes pode dobrar a produção brasileira. Segundo ele, o hidrogênio (H2) verde de cana, em estudo pela Universidade de São Paulo (USP), talvez tenha um impacto maior do que o carro elétrico no Brasil.
“Ficaram todos espantados aqui com o desenvolvimento da semente de cana, que vai dobrar a produtividade por hectare da produção de cana no Brasil. Já imaginou se a gente dobra a produção de cana e consegue fazer o hidrogênio verde a partir do etanol e abastece os carros com o hidrogênio verde? É uma coisa que talvez tenha um impacto maior do que o próprio carro elétrico”, comentou, durante conversa com jornalistas.
Durante a entrevista, o ministro citou as providências legislativas de dimensão ecológica que estão sendo propostas pelo governo, em que incluiu a reforma tributária, além de ações setoriais: tem os leilões de linha de transmissão para transmissão de energia eólica, de R$ 8 bilhões, que já está em curso; a parceria da Petrobras com a Weg, sobre energia eólica; e a parceria da Universidade de São Paulo (USP) sobre hidrogênio verde a partir de etanol.
Haddad também abordou as conversas com o governo Biden com o objetivo de o Brasil se beneficiar das medidas (e recursos) contidas no Inflation Reduction Act (IRA), o plano com a dupla função de combater a inflação e mitigar os efeitos das mudanças climáticas nos Estados Unidos.
“Nós estamos estudando o IRA atentamente e detalhadamente, e buscando verificar em que condições e que regras o Brasil poderia estabelecer parcerias com os Estados Unidos nos valendo dessa aproximação e das vantagens competitivas que o Brasil tem. Penso que pode ser um jogo de ganha-ganha se essa parceria ambiental for feita no âmbito do IRA”, explicou.
Sementes de cana podem dobrar produção
O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), uma entidade privada, foi citado pelo ministro ao comentar que o setor privado vem fazendo a sua parte. O CTC trabalha no desenvolvimento de uma nova tecnologia de plantio, de cana baseada no uso de sementes obtidas por técnicas de clonagem.
Entre os benefícios esperados estão as elevadas taxas de multiplicação, diminuição de custos de produção, simplificação operacional, aumento da eficiência de plantio e liberação da área de viveiros para plantio comercial.
O CTC é uma organização global líder em ciência de cana-de-açúcar, que busca inovação constante na área de melhoramento genética, seja por meio de técnicas convencionais, da biotecnologia ou do modo de plantio. Tem um dos maiores bancos de material genético de cana-de-açúcar do mundo, com mais de quatro mil variedades. Nos laboratórios em Piracicaba (SP) e Saint-Louis (Missouri-EUA), desenvolve produtos utilizando técnicas de engenharia genética.
O que isso tem a ver com descarbonização?
A tendência é de o etanol ser uma das maiores estrelas da descarbonização brasileira. Para garantir a oferta necessária à ampliação de uma frota de veículos de baixo carbono, será necessário dobrar a média atual de 32 bilhões de litros por ano até 2030. Para estimular a produção e o uso de biocombustíveis, o RenovaBio, um programa federal, estabelece metas anuais de emissão de Crédito de Descarbonização (CBIO).
Cada CBIO equivale a uma tonelada de dióxido de carbono (tCO2e) que deixa de ser emitida. Ou seja, o CBIO é um crédito de carbono com um uso específico.
As distribuidoras de combustíveis são obrigadas a comprar uma quantidade determinada de CBIO todos os anos. Quem emite esses CBIOs são os produtores de biocombustíveis como etanol, biodiesel e biometano.
A Resolução nº 13/2020 do Conselho Nacional de Política Energética do Ministério das Minas e Energia definiu as metas compulsórias anuais de redução de emissões de gases de efeito estufa para a comercialização de combustíveis em 37,47 milhões em 2023.
Hidrogênio verde de cana
Em agosto deste ano a USP anunciou uma parceria com empresas do setor de combustíveis, para desenvolver tecnologia capaz de transformar etanol em H2 verde, uma fonte de energia sustentável de baixíssima emissão de carbono. O projeto envolve investimento de R$ 50 milhões e conta com o apoio da Shell Brasil, Raízen, Hytron, Toyota e Senai.
Essas instituições assinaram um acordo de cooperação para desenvolvimento de duas plantas de produção de (H2) a partir do etanol em São Paulo. O combustível de baixo carbono será testado em ônibus que circularão pela Cidade Universitária.