Redução pode estar relacionada à falta de confiança, mas a participação dos créditos de energia renovável aumentou para 45% do total. Já os de floresta e uso da terra diminuíram para 41%
18 de julho de 2024
O mercado voluntário de carbono encolheu no Brasil, segundo estudo do Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV). No ano passado, houve uma queda de 89% no volume de créditos emitidos e de 44% no volume de títulos aposentados, em relação ao ano de 2021, recorde da série histórica.
Em 2023, houve um pouco mais de 10 projetos que geraram 3,38 milhões de créditos, o menor número de iniciativas nos últimos três anos. No entanto, aumentou a taxa de créditos por projeto para 0,28 milhões, que supera grande parte das taxas observadas em todo o período, sendo a quinta maior.
De acordo com a pesquisadora do Centro de Bioeconomia da FGV e autora do estudo, Fernanda Valente, os resultados indicam que o mercado voluntário de carbono no Brasil, embora tenha mostrado potencial de crescimento, enfrenta desafios substanciais.
“A redução drástica no volume de créditos emitidos e no número de projetos entre 2021 e 2023 sugere uma instabilidade e falta de confiança no sistema atual. Um dos principais desafios é assegurar que os créditos de carbono realmente representem reduções reais, adicionais e permanentes de emissões de gases de efeito estufa. Isso requer padronização e transparência no processo de emissão e verificação dos créditos”, afirma Valente.
Segundo o estudo, do lado da oferta, as razões para o cenário observado refletem problemas como a dificuldade em garantir que os créditos de carbono representem reduções reais, adicionais e permanentes de emissões de gases de efeito estufa. Isso ocorre, principalmente, porque não há padronização e transparência no comércio desses títulos e os compradores não conseguem avaliar sua qualidade
Do lado da demanda, o problema está na incerteza sobre como as companhias usam os créditos adquiridos para atingir suas metas de zero emissões líquidas. Há pouca orientação sobre a melhor forma de usar os créditos de carbono, resultando em falta de transparência e necessidade de melhorar a credibilidade dos arranjos no mercado voluntário
Maioria dos projetos está no Norte e Nordeste
Por regiões, no ano de 2023 ante 2021, as regiões Norte e Nordeste ainda concentraram os maiores números de projetos, sendo 4 no Norte e 3 no Nordeste. Já o Centro-Oeste e Sudeste contaram com dois projetos cada e o Sul apenas um.
Nos últimos três anos (2021-2023), os estados do Mato Grosso, Amapá e Acre, que em 2021 eram casa para projetos de floresta e uso da terra, em 2023, passaram a não emitir mais créditos, dando lugar – de maneira mais tímida – aos estados de Goiás e Rondônia
Projetos de energia renovável lideraram
Analisando os setores, em 2021, créditos de energia renovável representavam 29% do total, enquanto projetos de floresta e uso da terra correspondiam a 65%. Em 2023, a participação dos créditos de energia renovável aumentou para 45%, enquanto os de floresta e uso da terra diminuíram para 41%.
Em energia renovável, em 2021, 10 estados abrigavam projetos geradores de créditos de carbono, entre eles, destaca-se Rio Grande do Sul e Piauí, responsáveis pelos maiores volumes no País. No entanto, em 2023, esse número cai pela metade, com o Rio Grande do Sul deixando de emitir créditos para o escopo de energia renovável.
Por sua vez, a gestão de resíduos é mais discreta no Brasil, concentrando-se, em 2021, apenas nos estados de Santa Catarina, Minas Gerais e Maranhão. Já em 2023, apenas Minas Gerais manteve projetos emitindo créditos nesse setor
Apesar do imenso potencial, projetos de geração de créditos de carbono no âmbito da agricultura ainda são escassos no Brasil. Em 2021, apenas o estado de São Paulo possuía projetos nesta área. No ano passado, apenas Mato Grosso do Sul passou a abrigar projetos deste escopo.