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Meta do país de recuperar 12 milhões de hectares esbarra no déficit de 600 milhões de mudas por ano

Meta do país de recuperar 12 milhões de hectares esbarra no déficit de 600 milhões de mudas por ano

Um dos maiores problemas para a expansão da produção demudas e sementes é a falta de financiamento, afirma ao Carbon Report o presidente da Nativas Brasil, Rodrigo Ciriello

Mariza Louven

“Existem muitos projetos para recuperar milhões de hectares de florestas e reservas legais com espécies nativas, mas ninguém quer reservar as mudas com antecedência mínima de seis a oito meses”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes e Mudas Nativas (Nativas Brasil), Rodrigo Ciriello. Este é o prazo que um viveirista associado à entidade precisa para atender a um grande pedido, cada vez mais frequente. O Brasil tem uma meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030, mas o déficit anual pode ser de aproximadamente 600 milhões de mudas por ano, calcula.

“Para você ter uma ideia, a Monbak, pretende restaurar um milhão de hectares com o objetivo de gerar créditos de carbono. Esta empresa está comprando mudas de espécies da Amazônia dos nossos associados localizados na Mata Atlântica. As sementes vêm da Amazônia para cá, a gente produz as mudas aqui e depois leva para lá”, explica.

Pensamos em montar um viveiro na Amazônia, com viveiristas locais, mas para isso seria necessário um contrato de garantia de compra por dez anos, para compensar o investimento.

Atualmente, alguns dos maiores projetos de reflorestamento em curso são os da Monbak, re.green, Black Jaguar e Biomas (Vale, Suzano e outras). Juntos, somam cerca de 7 milhões de hectares.

Conta que não fecha

Mesmo que nem todos os 12 milhões de hectares que o Brasil precisa restaurar sejam reflorestados com mudas, seriam necessárias ao menos 6 bilhões dessas plantas 2030, prevê Ciriello. A conta considera o uso de mudas para o reflorestamento de apenas 30% da meta total do país. Segundo ele, se os associados da Nativas Brasil produzissem em sua capacidade total a partir de agora, teriam 60 milhões de mudas por ano.

Ainda que o número real de viveiros existentes no país possa ser três vezes maior do que o de associados da Nativas Brasil, calcula Ciriello, eles só entregariam algo em torno de 200 milhões de mudas por ano. Este número não é preciso, porque as informações não são centralizadas. De todo modo, mesmo considerando as estimativas mais otimistas, estaria longe do necessário até 2030.

Financiamento é a maior limitação

Uma das principais limitações é o fato de os investimentos terem que ser feitos com recursos próprios. “Não existe financiamento nem para o custeio.” O Banco Central tem uma orientação para os bancos, sobre o financiamento de investimentos em viveiros, mas nenhuma linha de crédito está disponível para isso.

“Os bancos não criaram essa linha de crédito. Tem para cana, café, soja, boi, mas não para viveiros de mudas. Nem mesmo no BNDES. O Programa ABC dispõe de montantes muito baixos por CPF, insuficientes para comprar até o substrato necessário em grandes projetos”, diz ele.

A Nativas Brasil foi criada em 2012, para tentar estruturar esse setor que também enfrenta uma forte demanda, mas é “extremamente desorganizado: um fica brigando com outro por preço de muda e no fim das contas falta tudo: muda, semente, equipe, incentivos ficais e financeiros.

Os 60 associados estão em todos os biomas, mas no Pampa e no Pantanal, por exemplo, só tem um associado cada. São poucos também na Caatinga, no Serrado e na Amazônia. A maioria está na Mata Atlântica.

A Nativas Brasil reúne e representa os produtores de sementes e mudas de espécies vegetais nativas dos biomas brasileiros, uma das bases da cadeia da restauração ecológica e produtiva como a silvicultura de espécies nativas. Criada em 2021, tem como objetivo organizar o setor, fortalecê-lo para ampliar a oferta de espécies nativas de alta qualidade e diversidade.

O estabelecimento de uma nova realidade para o segmento que se dedica à restauração ecológica no país implica a constituição de marco legal específico, incentivos técnicos e econômicos, defende a entidade. Políticas públicas dirigidas à criação de infraestrutura, incentivo à pesquisa e formação de uma Câmara Setorial para o setor são as principais bandeiras da Nativas Brasil.