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Mudança climática está aumentando intensidade e frequência de ondas de calor no mundo

Mudança climática está aumentando intensidade e frequência de ondas de calor no mundo

Relatório traz estudos de caso no Brasil segundo os quais parques e áreas cobertas de árvores podem melhorar a qualidade do ar nas cidades, absorver carbono e reduzir temperaturas

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou nesta quarta-feira o seu Boletim de Qualidade do Ar e Clima de 2023, relativo aos dados coletados em 2022. A terceira edição do documento destaca que as mudanças climáticas estão aumentando a intensidade e a frequência das ondas de calor em todo o mundo. O documento inclui estudos de caso no Brasil – no Parque do Ibirapuera e no Parque do Ipiranga, em São Paulo – indicando que parques e áreas cobertas de árvores nas cidades podem melhorar a qualidade do ar, absorver dióxido de carbono e reduzir as temperaturas, beneficiando assim os habitantes.

“Este Boletim de Qualidade do Ar e Clima refere-se a 2022. O que estamos assistindo em 2023 é ainda mais extremo. Julho foi o mês mais quente já registado, com calor intenso em muitas partes do Hemisfério Norte, e isto continuou em agosto”, afirmou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

De acordo com a OMM, as ondas de calor desencadearam incêndios florestais no Noroeste dos Estados Unidos e as ondas de calor acompanhadas por poeira do deserto, na Europa, levaram a uma piora perigosa da qualidade do ar em 2022.

“As ondas de calor pioram a qualidade do ar, com repercussões na saúde humana, nos ecossistemas, na agricultura e, na verdade, na nossa vida quotidiana”, disse Taalas. “As alterações climáticas e a qualidade do ar não podem ser tratadas separadamente. Elas andam de mãos dadas e devem ser enfrentadas em conjunto, para quebrar esse ciclo vicioso”, complementou.

Segundo a OMM, existe um consenso científico crescente de que as ondas de calor aumentarão o risco e a gravidade dos incêndios florestais. “Ondas de calor e incêndios florestais estão intimamente ligados. A fumaça dos incêndios florestais contém uma mistura de produtos químicos que afeta não apenas a qualidade do ar e a saúde, mas também danifica plantas, ecossistemas e colheitas – e leva a mais emissões de carbono e, portanto, a mais gases de efeito estufa na atmosfera”, disse Lorenzo Labrador, membro da OMM e oficial científico da rede Global Atmosphere Watch, que compilou o Boletim.

Ano quente

O verão de 2022 foi o mais quente já registrado na Europa. Centenas de locais de monitoramento da qualidade do ar excederam o nível de diretriz de qualidade do ar de ozônio da Organização Mundial da Saúde (OMS). Isto ocorreu primeiro no Sudoeste da Europa, passando mais tarde para a Europa Central e finalmente atingindo o Nnordeste, na sequência da propagação da onda de calor por todo o continente.

Durante a segunda quinzena de agosto de 2022, houve uma intrusão incomum elevada de poeira do deserto sobre o Mediterrâneo e a Europa, diz o documento. A coincidência de altas temperaturas e grandes quantidades de aerossóis afetou a saúde e o bem-estar das pessoas.

Ilhas de calor urbanas

Nas ilhas de calor urbanas, diz o documento, as diferenças de temperatura, em relação às áreas ruais próximas pode atingir até 9 °C à noite. As zonas urbanas consistem frequentemente em edifícios e infraestruturas que atingem alturas iguais ou superiores a 100 metros, o que influencia os padrões de vento e temperatura em comparação com as zonas rurais circundantes. Este efeito é geralmente referido como ilha de calor urbana. 

O efeito ilha de calor urbana, combinado com as alterações climáticas, tem muitos impactos, incluindo stress térmico adicional à noite.
Isto é importante porque grande parte da população vive ou trabalha nas cidades. A exposição a altas temperaturas pode aumentar a morbidade e a mortalidade, especialmente durante ondas de calor e à noite.

Tanto as medições de temperatura quanto de CO2 dos parques do Ibirapuera e do Ipiranga indicaram que o efeito de ilha de calor urbana é reduzido, assim como as emissões de carbono são parcialmente mitigadas, pela incorporação de mais espaços verdes nas cidades. Os autores recomendam as soluções baseadas na natureza para as alterações climáticas.

A Região Metropolitana de São Paulo compreende 39 municípios com população superior a 22 milhões habitantes. Situado numa zona caracterizada por intricados topografia e influenciada pela brisa marítima, esta região apresenta um caso único para investigar temperaturas e, portanto, o efeito ilha de calor urbana. Considerando o rápido crescimento das áreas urbanas nos trópicos, é crucial reconhecer as implicações potenciais dos efeitos da ilha de calor urbana nessas regiões, diz o relaatório.

À medida que o estudo da camada de dossel urbano evoluiu, mais atenção tem sido dada ao papel da vegetação como uma solução baseada na natureza para enfrentar ilhas de calor emissões de CO2, e para ajudar na mitigação de o impacto das cidades como fontes de gases de efeito estufa.

A vegetação desempenha um papel crucial na redução desses efeitos, através de vários mecanismos. Por exemplo, vegetação pode reduzir as temperaturas da superfície, fornecendo sombra, interceptando a radiação solar e facilitando a evaporação resfriamento, reduzindo assim localmente a intensidade da ilha de calor urbana.