Relatório avalia que as alterações no clima podem contribuir para aumento de conflitos, instabilidade e violência devido a migrações de populações e insegurança alimentar em alguns locais
15 de julho de 2024
A maior instituição político-militar do mundo, Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), analisou pela primeira vez as mudanças climáticas do ponto de vista da segurança dos seus aliados e das respostas de adversários como a Rússia e a China. De acordo com o estudo “Mudanças Climáticas e Segurança”, divulgado no último dia 9, as alterações no clima levaram a 29 mobilizações militares internacionais em 2023 para responder a emergências em 14 países. O Brasil é considerado parceiro, mas não faz parte da OTAN.
O relatório cita como exemplo ações de combate a incêndios florestais no Canadá, envolvendo 2.214 militares, durante 131 dias de 2023. A Grécia também recebeu assistência dos aliados para debelar incêndios florestais, em julho do mesmo ano, que desencadearam a maior evacuação de pessoas da história do país. Já na Eslovênia, o apoio envolveu helicópteros e pontes flutuantes militares para ajudar a gerir as consequências de uma inundação em grande escala ocorrida em agosto.
Segundo o relatório, as alterações climáticas também têm o potencial de contribuir para níveis mais elevados de conflitos, instabilidade e violência devido a grandes migrações de populações e ao colapso da produtividade agrícola em alguns locais. A avaliação é de que tende a “alimentar uma rápida escalada de instabilidade e deslocamento (de pessoas) em regiões que já estão sofrendo estresse climático.”
As forças militares da aliança terão que lidar com condições climáticas mais extremas, como o calor, que desafia os limites operacionais dos sistemas de armas e infraestrutura de apoio, além da saúde das tropas. Temperaturas acima de 40 °C também podem fazer com que helicópteros navais não consigam gerar sustentação suficiente para decolar, principalmente os de carga pesada ou que transportam grandes tropas.
Desinformação inimiga
A OTAN diz ainda que os desafios ambientais são agravados pela desinformação. O relatório cita especificamente a Rússia, que seria responsável por espalhar desinformação relacionada ao clima e à transição energética para minar a vontade política para a ação climática em outros países.
Embora a Rússia reconheça que o aquecimento global apresenta um problema sério, diz o estudo, a sua resposta às alterações climáticas, até o momento, tem sido focada na adaptação aos impactos físicos das alterações climáticas, em vez de estratégias de mitigação que abordem causas raízes. A segurança climática está praticamente ausente no planejamento e pensamento militar russo, sem que ações concretas tenham sido tomadas para adaptar as forças armadas para os efeitos das mudanças climáticas.
China
O relatório da OTAN também analisa os efeitos das mudanças climáticas na China, destacando a questão da segurança alimentar. “Como o clima afeta cada vez mais os sistemas alimentares globais, alguns países (incluindo a China) estão trabalhando para adquirir grandes quantidades de terras agrícolas no exterior,
bem como desenvolver canais comerciais eficazes para comércio de produtos alimentares, para garantir a sua segurança alimentar a longo prazo e diversificar o abastecimento”, afirma o relatório.
A produção agrícola da China também alimenta aproximadamente 20% da população global, acrescenta o estudo, desempenhando um papel crítico na cadeia global de abastecimento. Assim, quaisquer impactos climáticos substanciais sobre o país terão implicações globais.
De acordo com o relatório, em resposta, a China enfatiza tanto a adaptação quanto medidas de mitigação, equilibrando desenvolvimento econômico com objetivos climáticos. O estudo destaca as iniciativas chinesas de eficiência energética e uso de combustíveis alternativos, bem como desenvolvimento de capacidades que possam simultaneamente fornecer ajuda humanitária em desastres, “mantendo ao mesmo tempo poder militar e prontidão.”