Fabricante de alumínio substitui diesel por energia renovável na mina de Juriti, na Floresta Amazônica
Mariza Louven
A mina de bauxita da Alcoa em Juruti, no Pará, hoje movida a combustível fóssil, passará a funcionar totalmente com energia elétrica renovável a partir de em maio de 2025. Este é um passo fundamental para acelerar a transição energética da companhia e lidar com as contradições do negócio que está no centro da economia de baixo carbono. Depois de pronta, a rede será disponibilizada para levar luz a comunidades do entorno.
“A nova matriz energética funcionará com compra de energia com lastro 100% renovável, que pode ser de origem hidrelétrica, eólica ou solar. A equipe de Energia da companhia ainda está definindo este ponto”, informa ao Carbon Report o diretor de Energia da Alcoa Brasil, Alfredo Duarte.
Thaíza Bissacot, diretora Regional de Meio Ambiente da empresa, acrescenta que a iniciativa eliminará o uso atual de diesel para a geração de energia, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa do escopo 1 da planta de Juriti em aproximadamente 37 mil toneladas de CO2 por ano. Isso representa em torno de 35% do total reportado em 2021. A meta global da Alcoa é diminuir a intensidade de emissão dos escopos 1 e 2, ou seja, da operação da empresa e da energia comprada de terceiros, em 30% até 2025.
“Estamos falando de uma iniciativa que dialoga diretamente com o processo de transição energética que o mundo está vivendo. Vamos migrar de energia fóssil para elétrica renovável porque estamos comprometidos com o desenvolvimento sustentável da região amazônica”, explica Duarte, reforçando que o projeto também contribui para frear as mudanças climáticas, de acordo com os compromissos assumidos a partir da adesão da companhia ao Pacto Global da ONU.
A conexão da mina de Juriti ao sistema elétrico será viabilizada pelo contrato assinado em maio deste ano com a Equatorial Energia para a construção de uma linha de transmissão de 51 km, que vai integrar a região ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e atender à mina e ao porto.
Enfrentando contradições
Como toda atividade de mineração, a extração do metal tem impactos ambientais e na comunidade em seu entorno. A energia, uma das responsáveis por boa parte das atuais emissões globais de gases de efeito estufa, também é componente importante do processo. A produção de alumínio é eletrointensiva, o que justifica o apelido dado ao seu produto de “barra de kilowatt”.
Onde está a contradição?
Sem o alumínio e outros metais, não são produzidos muitos itens fundamentais para garantir a transição da economia para o baixo carbono. De carros elétricos às baterias que estocam energias renováveis, passando pelos perfis de painéis solares e embalagens recicláveis de bebidas, o metal está em alta.
De acordo com o anuário da Associação Brasileira de Alumínio (Abal), a produção nacional de alumínio primário cresceu 5,1% em 2022, totalizando 810,9 mil toneladas no ano. Esse volume, somado ao total reciclado, atingiu a marca recorde de 905 mil toneladas ano passado.
Todos os números dessa indústria são superlativos. O faturamento do setor cresceu 14% em 2022, totalizando R$ 140 bilhões. O investimento atingiu a marca de R$ 1,9 bilhão, 58% acima do realizado no ano anterior, e o número de empregos chegou a 501 mil no ano, com expansão de 12%.
Esse boom não deverá ficar só no passado. A previsão do International Aluminium Institute (IAI) é de 40% aumento da demanda por alumínio primário até 2030, o que impulsionará a indústria global a produzir mais 33,3 milhões de toneladas do metal por ano.
A produção consolidada da Alcoa, em 2022, chegou a 2,2 milhões de toneladas de alumina e 6,1 milhões de toneladas base seco de bauxita, grande parte destinada à Alumar, onde o alumínio é produzido. A Alumar é um consórcio de empresas administrado pela Alcoa, que tem participação majoritária, junto com a Rio Tinto e a South.
Solução para a escassez de infraestrutura
A região Juriti não sofre só com escassez de energia elétrica, mas de infraestrutura geral. Por isso, a instalação que está sendo projetada para atender a mina e o porto por onde os produtos são escoados terá dupla função. Deverá beneficiar também cerca de 1,6 mil famílias que moram em mais de cem comunidades afastadas do centro urbano.
Além da conexão com a rede elétrica, a Alcoa está investindo em iniciativas para melhorar a qualidade de vida da comunidade e proporcionar mais sustentabilidade ambiental. São projetos elaborados a partir do diálogo com o poder público e a sociedade civil, por meio de parceria do Instituto Alcoa com o Instituto Juruti Sustentável (Ijus).
Uma delas é a Rede Amazônia + Conectada, que vai levar internet de alta velocidade a três mil pessoas. Outra é a Agenda Juruti +10, que visa a proporcionar melhorias para a região, como a construção de equipamentos públicos e infraestrutura necessária para a geração de renda para empreendedores.
Meta net zero
Segundo Duarte, mirando alcançar net zero nas operações de Refinaria e Smelter até 2050, a mineradora custeou nos últimos dois anos projetos sustentáveis que incluem o uso de fontes de energia renovável: a religação do Smelter na Alumar no Maranhão e a implementação do Filtro Prensa em Poços de Caldas, Minas Gerais, que transforma o resíduo úmido da extração de bauxita em pilhas secas e de fácil armazenagem, com menor uso de energia e reaproveitamento de água.
Nesses locais já existe conexão com a rede elétrica (GRID) e a Alcoa tem contratos de fornecimento de energia com lastro 100% renovável, acrescenta Bissacot. Nos últimos dois anos, o investimento nesses e outros projetos que visam a ampliar a sustentabilidade do negócio foi de R$ 1,3 bilhão.
Ao lado da rede de energia em Juruti, essas iniciativas compõem uma estratégia integrada que também beneficia a indústria do alumínio como um todo, uma vez que a Alcoa vende bauxita para o mercado interno e é a maior fornecedora de alumina para o exterior.
Ainda como parte da visão de reinventar a indústria do alumínio para um futuro sustentável, o projeto Refinaria do Futuro (Refinery of the Future) tem como objetivo atingir o refino de alumina com zero carbono por meio de uma série de novos processos e tecnologias. A empresa conta com uma equipe multidisciplinar, com integrantes de diferentes países, dedicada a projetar uma refinaria que elimine as emissões de carbono, reduza o uso de água potável e, por fim, elimine os resíduos de bauxita.
Segundo a Alcoa, grande parte do trabalho está acontecendo na Austrália, incluindo o desenvolvimento de duas tecnologias conhecidas como Recompressão Mecânica de Vapor (Mechanical Vapor Recompression – MVR) e calcinação elétrica. Quando combinados com uma rede descarbonizada, ambos podem reduzir as emissões de carbono de uma refinaria em cerca de 98% e o uso de água potável em até 70%.
Alumina brasileira emite menos
As aluminas produzidas pela Alcoa no Brasil se enquadram nos critérios do Eco Source Sustana, garantindo uma produção com metade das emissões de carbono, quando comparada à média da indústria global.
O Eco Source faz parte da família SustanaTM da Alcoa, uma linha de produtos com baixa pegada de carbono por ser a única a incluir alumina, alumínio primário e alumínio com conteúdo reciclado.
Foto/Alcoa: Mina de Juriti, no Pará