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Por que temos só dois anos para salvar o mundo, segundo o chefe do clima da ONU

Por que temos só dois anos para salvar o mundo, segundo o chefe do clima da ONU

Tom dramático foi adotado em discurso em Londres, para enfatizar a emergência climática, a necessidade de alavancar recursos para os países em desenvolvimento e de mobilizar a sociedade

11 de abril de 2024

Os próximos dois anos são essenciais para salvar o planeta, afirmou nesta quarta-feira (10/4) o secretário executivo da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell, em discurso na Chatham House, em Londres, Inglaterra. O prognóstico, como ele mesmo disse, “excessivamente dramático. Melodramático, até”, foi para chamar a atenção do mundo para os atuais efeitos das mudanças climáticas, a necessidade de um “salto quântico” no financiamento climático ainda em 2024 e a mobilização da sociedade em contraponto à “agenda de gabinete” focada no custo.

Simon Stiell, na Chatham House, em Londres. Foto: Jon Linden | Divulgação ONU
Simon Stiell, na Chatham House, em Londres. Foto: Jon Linden | Divulgação ONU

Além de destacar o papel que o G20 pode ter, Stiell enfatizou a importância de um novo acordo na próxima Conferência do Clima da ONU (COP). “Este ano, na COP29 em Baku, precisamos de chegar a acordo sobre uma nova meta para o financiamento climático que responda às necessidades dos países em desenvolvimento. Na visão dele, é preciso um novo acordo sobre financiamento climático, entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.”

Stiell disse ainda que há sinais de que a acão climática está escorregando nas agendas de gabinete. “Há uma desconexão – porque nas salas de estar de todo o mundo, os impactos e custos climáticos estão subindo rapidamente na lista de preocupações domésticas. A única maneira infalível de colocar o clima na agenda do gabinete é se um número suficiente de pessoas levantarem a voz.”

Quatro principais explicações para a fala dramática

O calor recorde e os enormes danos causados às economias, bem como o início da atual corrida que determinará os maiores vencedores de uma nova economia de energia limpa, foram as duas primeiras explicações dadas por ele para a fala contundente. “E com o índice global dos padrões de vida em constante mudança, as respostas climáticas de cada país serão fundamentais para saber se ascendem ou descem na hierarquia.”

A terceira foi o fato de que muitos países só serão capazes de implementar novos planos climáticos fortes se houver grande aumento no financiamento climático em 2024. Stiell lembrou que os planos climáticos nacionais – chamados Contribuições Nacionalmente Determinadas ou NDCs – no seu conjunto, dificilmente reduzirão as emissões até 2030. “Ainda temos uma oportunidade de fazer cair as emissões de gases com efeito de estufa, com uma nova geração de planos climáticos nacionais. Mas precisamos desses planos mais fortes agora. E embora cada país deva apresentar um novo plano, a realidade é que as emissões do G20 representam cerca de 80% das emissões globais.” Por isso, segundo ele, a liderança do G20 deve estar no centro da solução financeira para o cumprimento das NDCs.

O chefe do clima da ONU disse ainda que todos os cidadãos de todos os países têm a oportunidade de fazer parte desta transição. “Cada voz faz a diferença. Este ano e no próximo, precisaremos de cada voz mais do que nunca.”

Clima e economia

Os próximos dois anos podem realmente contar, disse ele. Para isso, os ​​planos climáticos nacionais devem funcionar como alavanca para o emprego e trampolim econômico para melhoria global dos padrões de vida. Citou ainda uma ação climática diante das secas que destroem mais colheitas, para reduzir as emissões e ajudar os agricultores a se adaptarem, garantindo a segurança alimentar e diminuindo a fome.

Reduzir a poluição por combustíveis fósseis, segundo ele, também significará melhor saúde e enormes poupanças tanto para os governos como para as famílias.

Disse ainda que a menos que a crise climática seja controlada, não será possível acabar com a pobreza, a fome, as pandemias ou melhorar a educação; e nem alcançar nenhum dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

“A manutenção do status quo irá consolidar ainda mais as desigualdades flagrantes entre os países e comunidades mais ricos e mais pobres do mundo, que os impactos climáticos não controlados estão agravando muito”, afirmou.

Para atacar o que ele chamou de cancro global da desigualdade, são necessários novos planos climáticos nacionais ousados para proteger as pessoas, aumentar o emprego e impulsionar o crescimento econômico inclusivo, já no início do próximo ano. “A próxima geração de planos climáticos nacionais deve ser composta por planos de investimento para economias fortes e sustentáveis”, ressaltou.

O salto quântico alcançável

De acordo com ele, o salto do financiamento climático é alcançável. Um novo acordo no âmbito da COP29 deveria ser costurado este ano, com quatro componentes principais. O primeiro é mais financiamento concessional. Especialmente para os países mais pobres e vulneráveis. O segundo, são novas fontes de financiamento climático internacional, em linha com o que o G20, a Organização Marítima Internacional e outros estão trabalhando.

Em terceiro lugar, reformar os bancos de desenvolvimento para que funcionem melhor para os países em desenvolvimento, incorporando o clima em sua tomada de decisões e construindo um sistema financeiro adequado para o século XXI.

O quarto ponto seria o alívio da dívida para os países mais pobres, para lhes dar espaço fiscal para o investimento climático. Os países em desenvolvimento gastaram mais de quatrocentos bilhões de dólares no serviço da dívida no ano passado.

“Os especialistas demonstraram que, se fizermos tudo isto em conjunto, poderemos satisfazer as necessidades dos países em desenvolvimento, mobilizando centenas de milhares de bilhões de dólares.”