Descarbonização é apontada como oportunidade para a indústria, segundo pesquisa da Fundação Arymax, B3 Social, Instituto Golden Tree e Instituto Itaúsa que focou quatro setores prioritários
30 de abril de 2024
A transição sustentável do país deve contemplar oportunidades de inclusão produtiva digna, especialmente para a população em vulnerabilidade socioeconômica. A conclusão é do estudo “Inclusão Produtiva e Transição para a Sustentabilidade: Oportunidades para o Brasil”, da Fundação Arymax, B3 Social, Instituto Golden Tree e Instituto Itaúsa, divulgado nesta terça-feira (30/4). O trabalho foi desenvolvido pelo Instituto Veredas, com apoio técnico do Instituto Cíclica.
O estudo se concentrou em analisar 19 áreas prioritárias em quatro setores econômicos: sistemas alimentares e de uso da terra; indústria; energia e cidades; e infraestrutura. Foram mapeados os desafios e oportunidades em cada setor e elencadas as principais recomendações.
Para fomentar a geração de emprego e renda na transição sustentável, o estudo recomenda que as empresas identifiquem novas habilidades e competências que serão necessárias a partir da própria transição no nível organizacional; que atuem pelo desenvolvimento sustentável dos territórios em que estão inseridas; que seja exigida a apropriação justa dos benefícios pelos envolvidos nos diferentes elos das cadeias produtivas; e que sejam mais inclusivos os arranjos produtivos fomentados pelas corporações, permitindo a inserção de micro e pequenas empresas.
Já para os governos, a recomendação do estudo é de que liderem a formulação de um direcionamento estratégico de transição para a sustentabilidade do país, com atenção à inclusão produtiva; adotem critérios claros no processo de tomada de decisão sobre os investimentos ou sobre as tecnologias que visam desenvolver; criem ambiente favorável para que diferentes setores possam somar esforços no processo de transição; constituam um sistema de desenvolvimento de capacidades que antecipe e responda às demandas da transição; e avancem na adoção de uma abordagem adaptativa para a proteção social do país.
De acordo com a superintendente da Fundação Arymax, Vivianne Naigeborin, não é possível pensar em sustentabilidade no país sem olhar para a exclusão e a desigualdade social. “A inclusão produtiva da população em vulnerabilidade social é uma urgência quando pensamos no país que estamos construindo, especialmente em termos de desenvolvimento sustentável.”
Fabiana Prianti, Head da B3 Social, ressalta a urgência da educação no contexto da crise climática e da inclusão produtiva na transição para a sustentabilidade. “As consequências das mudanças climáticas sobre nossas comunidades escolares e as estruturas das escolas exigem ação imediata. Se não enfrentarmos esses desafios agora, enfrentaremos um custo muito mais alto no futuro. E de forma desigual.” afirma Prianti.
Marcelo Furtado, head de sustentabilidade da Itaúsa e diretor do Instituto Itaúsa, acredita que é preciso criar caminhos de apoio a um processo estruturado de transição justa. “Esse estudo traz direcionadores importantes para gestores públicos e empresas privadas como forma de estimular essa jornada coletiva. Acreditamos que o desafio do Brasil passa por uma economia inclusiva, produtiva e positiva para o clima, natureza e pessoas, proporcionando uma nova era de oportunidades econômicas com redução das emissões, conservação da biodiversidade e enfrentamento da desigualdade social”.
Para o Instituto Golden Tree, “a inclusão produtiva não é apenas uma questão econômica, mas também uma questão de dignidade humana. Ao promover oportunidades iguais, respeitar a diversidade e combater a exclusão, a inclusão produtiva contribui para formação de uma sociedade mais justa, inclusiva e equânime.”
Sistemas alimentares e de uso da terra
Compreendem atividades como produção, processamento, distribuição e consumo de alimentos, foram identificadas oportunidades potenciais que podem impactar positivamente a inclusão produtiva. Entre elas, estão o emprego de mão de obra qualificada nos campos da biotecnologia, genética, aprendizado de máquina e big data; crescimento de estabelecimentos agrícolas com produtos de maior valor agregado.
No entanto, aparecem como pontos de atenção aspectos como a redução de demanda por mão de obra em atividades impactadas pela automação; o alto custo tecnológico que pode afastar pequenos produtores; exclusão de produtores agropecuários especializados em proteína animal; afastamento de pequenos produtores por conta de custos ou especificações das certificações, entre outros.
Para não desperdiçar oportunidades de inclusão produtiva, o estudo recomenda que algumas áreas sejam priorizadas: agroindústria e grandes redes de comercialização; cadeias de agroecologia; pecuária regenerativa de pequena escala; cadeias de socioeconomia e restauração florestal.
Descarbonização é oportunidade na indústria
Três iniciativas que tendem a contribuir com a transição para atividades mais sustentáveis: descarbonização, biomanufatura e certificações socioambientais.
Os potenciais impactos positivos em inclusão produtiva a partir dessas atividades passam, principalmente, pela economia circular e energias renováveis; negócios inovadores; desenvolvimento de cadeias produtivas locais; e oportunidades nas áreas de gestão ambiental, responsabilidade social, auditoria e consultoria ambiental, por exemplo.
Já entre os pontos de atenção estão redução de empregos nos setores ligados ao uso de combustíveis fósseis; possibilidade de terceirização devido ao avanço da digitalização; exclusão das micro e pequenas empresas que não forem capazes de acompanhar a transição; risco de monopolização do conhecimento tradicional sobre o uso da biodiversidade; e inclusão produtiva não ser considerada um critério de avaliação das empresas.
O estudo recomenda que sejam priorizadas as áreas de apoio às micro e pequenas empresas (MPE’s), economia circular, biomanufatura e Complexo Econômico e Indústria da Saúde (CEIs).
Energia
Empreendimentos hidrelétricos, novas fontes de energia renovável, bioenergia e eletrificação da frota são os mais promissores. No entanto, a geração de empregos tende a ser de baixa qualidade e curta duração; exclusão produtiva de grupos vulneráveis em comunidades locais; limitação de inclusão produtiva a partir de monoculturas; entre outros.
Para melhor aproveitar as oportunidades, a pesquisa recomenda que sejam priorizadas ações de inclusão produtiva nas áreas de petróleo e gás, energia eólica, na cadeia produtiva de eletromobilidade, de energia solar distribuída e bioenergia.
Isso exigiria diversificação das atividades com o investimento em energias limpas e compensação das emissões; investimentos nas habilidades dos profissionais para ocuparem postos de trabalho ao longo das cadeias produtivas de energias renováveis; estímulo de produção nacional de componentes tecnológicos estratégicos; construção de sistemas locais de produção de energia elétrica, com capacitação em manutenção dos sistemas para a comunidade local; investimento coordenado das agências de fomento à pesquisa nacional; criação de incentivos e de um ambiente normativo adequado para o setor; investimentos em modernização das redes; modernização de marcos regulatórios para trazer segurança aos atores e remover barreiras burocráticas; entre outros.
Cidades e infraestrutura
Os potenciais impactos positivos envolvem aspectos como regularização de ocupações relacionadas à gestão de resíduos sólidos, à digitalização da gestão pública, a partir da expansão de empresas de tecnologia e na produção de infraestrutura em áreas vulneráveis; fomento ao empreendedorismo local a partir da economia solidária; entre outros.
Já os pontos de atenção são a possibilidade de eliminação de ocupações informais sem efetivamente criar novas oportunidades; empregos gerados serem temporários ou precários; exclusão de pessoas em vulnerabilidade social; entre outros.
Para potencializar oportunidades, recomenda focar nas áreas de construção civil e adaptação de infraestrutura, desenvolvimento local, economia criativa, do cuidado e digital.