Estudo indica que revolver fundo do mar leva a emissões atmosféricas de CO2 e à acidificação dos oceanos, mas a questão ainda é um desafio para políticas e mercados climáticos
18 de janeiro de 2024
A pesca de arrasto pode perturbar o carbono que levou milênios para ser aculado. De acordo com o estudo “Atmospheric CO2 emissions and ocean acidification from bottom trawling” (Emissões atmosféricas de CO2 e acidificação dos oceanos da pesca de arrasto), elaborado por uma equipe de especialistas em clima e oceanos, 55% a 60% do dióxido de carbono (CO2) libertado na água pelos arrastões no fundo do mar chegam à atmosfera em até nove anos e causam acidificação dos mares.
Uma das conclusões é de que as soluções baseadas nos oceanos são promissoras para limitar os aumentos da temperatura global a 1,5°C neste século, ao mesmo tempo que trazem benefícios como a preservação da biodiversidade e a segurança alimentar. No entanto, as atuais políticas e mercados climáticos exigem estimativas de emissões atmosféricas evitadas, colocando desafios para a identificação e implementação destas alternativas.
O estudo assinado por cientistas de diversas universidades foi publicado nesta quinta-feira (18/1) pela Frontiers. É baseado em imagens de satélite, modelos do ciclo do carbono e dados de instituições como a NASA, usando ainda dados de rastreio de navios processados pela Global Fishing Watch, que mostra onde ocorreu a pesca de arrasto nos oceanos entre 1996 e 2020 e em cenários futuros, bem como estima a fração de CO2 emitida para a atmosfera.
De acordo com os autores, acredita-se que os sedimentos marinhos sejam o armazenamento definitivo de carbono a longo prazo. Uma vez enterrado lá, o CO2 orgânico pode permanecer não mineralizado por milênios. No entanto, as perturbações do fundo do mar causadas pelas atividades humanas revolvem o fundo do mar e ameaçam a permanência do carbono marinho.
Dependendo da localização geográfica e da profundidade da água da pesca de arrasto, o CO2 fica exposto à superfície do mar dentro de meses ou pode levar séculos.
Para refinar as estimativas das emissões atmosféricas, diz o texto, é essencial que os estudos de campo abordem as incertezas ainda existentes de como a pesca de arrasto de fundo influencia os processos biológicos e físicos que governam a remineralização e preservação do carbono.
Além disso, a incorporação de modelos regionais de alta resolução, que resolvam processos de pequena escala, como as correntes locais, será fundamental para fornecer estimativas de emissões mais precisas em escalas pertinentes às considerações políticas locais. Por último, as conclusões enfatizam a necessidade de uma política evitar o foco exclusivo nas emissões atmosféricas evitadas, uma vez que os resultados mostram que a pesca de arrasto na água do mar pode ter implicações graves na acidificação local ou regional dos oceanos.
Para saber mais sobre o estudo, leia o artigo aqui.