O relatório especial Redes Elétricas e Transições Energéticas Seguras, divulgado nesta terça-feira pela AIE, traz um balanço global inédito das redes mundiais de transmissão de energia
A Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou nesta terça-feira (17/10) o relatório especial Redes Elétricas e Transições Energéticas Seguras, que faz um balanço global inédito das redes mundiais de transmissão de energia. O documento indica que elas não estão acompanhando o ritmo da nova economia, com risco de se tornarem um ponto de estrangulamento da transição energética e da garantia de segurança elétrica.
De acordo com a AIE, pelo menos 3.000 gigawatts (GW) de projetos de energia renovável, dos quais metade em estágios avançados, aguardam em filas de conexão à rede elétrica. Isso é equivalente a cinco vezes a quantidade de energia solar fotovoltaica e eólica adicionada em 2022.
O número de projetos que aguardam ligação em todo o mundo é provavelmente ainda maior, uma vez que os dados disponíveis se referem apenas a países que representam metade da capacidade global de energia eólica e solar fotovoltaica.
Investimento nas redes ficou parado
Apesar de o investimento em energias renováveis ter aumentado rapidamente – quase duplicando desde 2010 – o total destinado às redes de transmissão praticamente não mudou, permanecendo estático em cerca de US$ 300 bilhões por ano. Para os países cumprirem suas metas climáticas, o total precisará quase duplicar até 2030, para mais de US$ 600 bilhões por ano, com ênfase na digitalização e modernização da infraestrutura de distribuição.
Segundo a AIE, é preocupante que as economias emergentes e em desenvolvimento, excluindo a China, tenham registado um declínio no investimento na rede nos últimos anos, apesar do crescimento robusto da procura de eletricidade e das necessidades de acesso à energia. Já as economias avançadas registaram um crescimento constante nesses investimentos, mas o ritmo ainda precisa de ser acelerado para permitir transições rápidas para energias limpas.
Será preciso adicionar ou renovar um total de mais de 80 milhões de quilômetros de redes até 2040 em todo o mundo, extensão equivalente à existente hoje, para descarbonizar o fornecimento de eletricidade e integrar eficazmente as energias renováveis.
Os atrasos no investimento e na reforma das redes aumentariam substancialmente as emissões globais de dióxido de carbono (CO2), retardando as transições energéticas e colocando o objetivo de conter o aumento da temperatura global a 1,5 °C fora de alcance.
Eólica e solar representarão 80% do aumento de capacidade
Num cenário em que as metas energéticas e climáticas dos países sejam cumpridas na íntegra, a energia eólica e a energia solar fotovoltaica representam mais de 80% do aumento total da capacidade energética global nas próximas duas décadas, frente a menos de 40% nos últimos 20 anos. Essa participação chega a 90% até 2050, para alcançar emissões líquidas zero de carbono.
A aceleração da implantação de renováveis exige a modernização das redes de distribuição e o estabelecimento de mais corredores de transmissão para ligar recursos renováveis – como projetos solares fotovoltaicos no deserto e turbinas eólicas offshore no mar – que estão longe de centros de procura como cidades e áreas industriais, diz a AIE. As redes expandidas são fundamentais à medida que o mundo adota mais veículos e sistemas elétricos ou produz hidrogênio pela eletrólise.