Drones usados para fazer o levantamento do volume de biomassa em projetos na Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia agregam valor às iniciativas de restauração ecológica e diminuem custos
09 de fevereiro de 2024
Mariza Louven
A climate tech brasileira brCarbon está desenvolvendo projetos de restauração ecológica no Brasil que geram créditos de até US$80 por tonelada de carbono retirada da atmosfera. Este valor é mais alto do que os US$15 a US$20 pagos por títulos originados em iniciativas de desmatamento evitado, conhecidas como (REDD+).
Tem muita procura pelos raros créditos de remoção de CO2 disponíveis no mercado, informa ao Carbon Report o diretor Comercial da brCarbon, David Escaquete. No Brasil, existem atualmente apenas quatro projetos gerando esses créditos. A brCarbon está diretamente ligada a três deles. Muitas iniciativas estão em andamento, acrescenta, mas ainda não foram validadas.
Um desses três projetos é o Emas-Taquari, que abrange todo o bioma Cerrado, apesar de concentrado hoje nas divisas de Mato Grosso e Goiás. O outro é voltado para a restauração da Mata Atlântica e vem sendo desenvolvido em 14 municípios na área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi, na Bahia. O terceiro está focado em uma propriedade no Norte do Mato Grosso, já na Amazônia.
São projetos que comportam propriedades de todos os tamanhos. Elas compõem um mosaico de restauração voltado principalmente à recuperação da biodiversidade e das bacias hidrográficas. “Ali, os proprietários já colocaram dinheiro no bolso”, comemora.
O projeto em curso na Amazônia é tido como pequeno, mas a empresa já tem em processo de registro uma iniciativa para toda a região, com epicentro em Paragominas, no Pará, onde o plantio está sendo iniciado. “Tem muita mão de obra envolvida. Esses projetos são certificados com salvaguardas socioambientais e climáticas. Os benefícios são gerados e percebidos pelos envolvidos”, acrescenta.
Ao todo, os projetos da brCarbon retiram atualmente cerca de duas mil toneladas de carbono da atmosfera a cada cinco anos, numa área de aproximadamente 600 hectares. Ainda não atingiram todo o seu potencial, explica Escaquete. “A gente gostaria de plantar 20 mil hectares de floresta para remover 15 toneladas por hectare ano.”
O diretor da brCarbon explica o valor diferenciado dos créditos de remoção: no desmatamento evitado, a ação é para manter o estoque de carbono existente em uma área. Na restauração, a vegetação que é plantada passa a capturar mais carbono da atmosfera.
REDD+ ainda é o carro-chefe
O REDD+ é o carro-chefe da brCarbon, que atua em dois segmentos do desmatamento evitado: o planejado e o não planejado. O último está relacionado a áreas onde não se pode desmatar legalmente, como uma reserva legal, por exemplo. O primeiro é diferenciado porque abrange locais em que a vegetação pode ser suprimida, mas o proprietário opta por manter a floresta em pé. “Esta é uma modalidade interessante, que a gente tem explorado bem”, informa.
A brCarbon desenvolve esses projetos em parceria com os proprietários, que podem se agrupar por áreas, para reduzir custos e maximizar o resultado. No desmatamento evitado, até as consideradas pequenas extensões de terras são grandes, acima de mil hectares.
Retorno com a venda de créditos de carbono
Os projetos de desmatamento evitado geram créditos de menor valor do que os de remoção, que chegam a US$50 a US$80 a tonelada. No entanto, além do benefício direto da venda dos créditos, a regularização das propriedades com déficit de área de preservação permanente e de reserva legal pode melhorar os ratings junto a bancos e instituições financeiras.
“A regularização da propriedade possibilita a valorização do imóvel, um ganho direto”, diz ele. Tem ainda os benefícios ecossistêmicos, como de biodiversidade, aumento da disponibilidade de água e melhoria do solo, “muito sinérgicos com a produção agropecuária.”
Seja devido ao aperto na legislação, à conscientização ou ao incentivo financeiro do mercado de carbono, aumenta o número dos que dão os primeiros passos para regularizar suas propriedades. “Muita gente tem falado disso e é a pura verdade. Tem uma grande oportunidade econômico-financeira de regularização por trás disso.”
Segundo Escaquete, é comum o proprietário de terras questionar por que optaria por “perder” um pedaço de pastagem, uma área produtiva, para deixar crescer “mato”. A resposta, afirma, veio do incentivo econômico. “Ele pode, sim, valorizar a propriedade e ganhar dinheiro com isso, além de se adequar à legislação e ter uma condição ambiental melhor.”
Custo alto é o maior gargalo
Nos projetos de restauro, o maior desafio é o custo do plantio. No entanto, como hoje existe muito interesse de empresas e investidores em créditos de remoção de CO2, os projetos podem ser desenvolvidos de maneira que os proprietários não precisem desembolsar recursos.
Nos projetos implementados pela brCarbon, um arranjo tripartite permite o financiamento do plantio, por terceiros ou pela própria empresa. Nesse modelo, parte dos créditos fica com o investidor. “É como se ele comprasse créditos futuros e, com esse dinheiro, o reflorestamento acontecesse.”
O que fazer para começar
Os passos são diferentes, dependendo do tamanho e de onde a propriedade se localiza. Se estiver localizada num local onde a brCarbon tem um projeto, o caminho fica mais fácil, afirma Escaquete: “a gente pode conversar e fazer uma agenda positiva, para que essa área gere os créditos de carbono.
O primeiro passo, segundo ele, é elaborar o estudo que vai mostrar a viabilidade do projeto. O segundo é planejar o plantio.
“A gente tem essa disponibilidade, de fazer uma parceria de forma que ele não invista dinheiro. O investimento pode ser nosso e a gente pode ganhar juntos no sucesso.”
Escaquete sugere que os proprietários de áreas menores se organizem na região, em associações, em sindicatos, com vizinhos.
O drone é o novo bicho da floresta
Drones equipados com a tecnologia Lidar (Light Detection and Ranging) agregam valor aos projetos da brCarbon porque maximizam a geração de créditos de carbono e reduzem custos, informa. Entre as diversas finalidades desta tecnologia, estão principalmente a mensuração da biomassa da área, tanto em projetos REDD+ quanto de restauração.
A câmera emite um feixe de laser capaz de retratar uma floresta em 3D, permitindo que toda a informação visual seja transformada em dados para mensuração do carbono estocado ou capturado. Isso possibilita a visualização das espécies e do seu desenvolvimento.
“O primeiro projeto de REDD+ com uso de drone Lidar foi nosso”, apresentado na conferência da Agência Espacial Europeia sobre o mercado de carbono global (EO for Carbon Market Forum), realizada no fim do ano passado na Europa.
Valorização dos territórios
A brCarbon surgiu há quatro anos, com um grupo de sete sócios que trabalham juntos há 15 anos na área florestal, em consultoria e auditoria.
“Decidimos usar esse acúmulo de experiência no desenvolvimento de projetos com uma pegada disruptiva: rápidos e que possam maximizar volume de crédito de carbono e também salvaguardas socioambientais e climáticas, ou seja, com atributos que valorizam os créditos e, consequentemente, valorizam os territórios.”
A tecnologia, segundo ele, não é problema. “As pessoas não vão ser substituídas pelos drones, usados para o levantamento do volume de biomassa. A gente não usa drones para dispersar sementes, que é feito com equipamentos agrícolas.”