Em entrevista ao Carbon Report, a gerente de Sustentabilidade da empresa, Taisa Costa, informa que a previsão era engajar produtores em 188 hectares, mas total chegou a 1.400 hectares
Mariza Louven
O carbono costuma ser citado como o vilão do clima. Mas, e o metano, um gás de efeito estufa muito mais poderoso do que o CO2? A Danone investe na agricultura regenerativa para reduzir as emissões deste e de outros gases causadores do efeito estufa em sua cadeia de valor. O Projeto Flora, iniciado como piloto em 2019, já conta com a participação de 33 fazendas que ocupam 1.400 hectares, uma área quase 650% maior do que a prevista para este ano, de 188 hectares.
A adesão de mais de 10% das fazendas parceiras da empresa no Brasil ao Projeto Flora é resultado do esforço para incentivar a produção agrícola de baixo carbono, que traz outros benefícios além do climático. “A produtividade é três vezes maior do que a média do Brasil e as práticas trouxeram uma redução de 26% de CO2 equivalente nas fazendas participantes”, informa ao Carbon Report a gerente de Sustentabilidade da Danone Brasil, Taisa Costa.
Primeira empresa global a estabelecer uma meta de redução das emissões de metano em sua cadeia de produção de leite fresco, a Danone registrou queda de 14% na liberação desse gás em sua operação no Brasil, entre 2018 e 2020. O objetivo é subtrair 30% desse gás nas atividades da companhia até 2030, o que corresponderia a um corte de 1,2 milhão de toneladas equivalentes a dióxido de carbono (tCO2e).
Segundo ela, a agricultura regenerativa é fundamental para o progresso desta e de outras ambições da empresa relacionadas ao clima, que incluem melhor uso da água, combate ao desmatamento e apoio ao progresso social. Para isso, a gigante do setor de alimentos quer ter 30% dos principais ingredientes que adquire vindos diretamente de fazendas que começaram a transição para a agricultura regenerativa até 2025.
“Os sistemas alimentares têm um papel essencial a desempenhar no combate à crise climática. Como empresa líder no setor de alimentos e bebidas, a Danone está comprometida em descarbonizar toda a sua cadeia de valor, em linha com a meta de global de limitar o aquecimento do planeta a no máximo 1,5°C (Science Based Targets – SBTi), promovendo sistemas resilientes, equitativos e regenerativos”, diz ela.
A empresa reduziu em 8,3% os gases de efeito estufa liberados em suas atividades relacionadas às florestas, terra e agricultura (Forest, Land and Agriculture – Flag), que no Brasil são responsáveis por 80% do total emitido pelo país.
Trabalhando junto com os agricultores e outros parceiros, a empresa aplica as práticas de agricultura regenerativa e projetos de redução de metano na produção de leite em 14 países, incluindo o Brasil. A empresa investiu R$ 2,3 milhões no país, desde 2020, em ações de capacitação de produtores, em fazendas no Sul de Minas Gerais.
Além da migração para a agricultura regenerativa, a Danone está atuando na descarbonização das suas operações, incluindo logística e fornecedores, e redução do consumo de energia.
O metano vai para os balanços financeiros
No início deste ano, a companhia anunciou sua meta de diminuir as emissões de metano e o compromisso de passar a reportar a quantidade desses gases nos seus balanços financeiros. A iniciativa é alinhada à ambição do Compromisso Global de Metano lançada na Conferência do Clima da ONU de 2021, a COP26.
O objetivo de conter o lançamento de metano na atmosfera é provocar um impacto imediato e positivo no clima que as reduções de CO2 não conseguem por si só, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), explica Costa. De acordo com o Fundo de Defesa Ambiental, o metano tem mais de 80 vezes o poder de aquecimento do dióxido de carbono durante os primeiros 20 anos depois que atinge a atmosfera.
Isso tem um peso maior na produção de laticínios, que representa cerca de 8% do total das emissões desse gás causadas pelo ser humano.
Para cumprir sua meta, a Danone está concentrada em trabalhar com agricultores para implementar práticas leiteiras regenerativas e desenvolver soluções inovadoras. Atua também junto aos governos com o objetivo de melhorar as políticas, dados e relatórios sobre o metano.
70% dos fornecedores são pequenos produtores
“No Brasil, trabalhamos de forma muito próxima aos produtores parceiros, com iniciativas que vão desde a escolha de fornecedores exclusivos e auditados, até a capacitação e programas para garantir a excelência do produto. São quase 300 fazendas parceiras, fornecedoras de leite, nossa principal matéria-prima”, informa. Atualmente, 70% da base de fornecedores da Danone é formada por pequenos produtores de leite e o impacto econômico, social e ambiental que geramos foi reconhecido pela certificação B Corp.
“Produtores capacitados, além de mais produtivos, geram outros impactos positivos na cadeia: entregam um leite com melhor qualidade, porque valorizam o bem-estar animal e preservam o meio ambiente.”
As ações são norteadas a partir de três pilares, que juntos, reforçam a sustentabilidade do negócio: proteção do solo e biodiversidade, com gestão integrada que inclui uso sustentável da água e de todos os recursos vivos, para garantir a sua conservação, proteção à biodiversidade e captura de carbono.
De acordo com Taisa Costa, a empresa reconhece sua responsabilidade e quer ser a principal parceira do produtor rumo à transição para a sustentabilidade. Por isso, atua pautada em desenvolvimento e treinamento. Investe em programas de desenvolvimento econômico e sustentável para os produtores, com foco na formalização do negócio (Gota Verde), capacitação (Educampo), assistência técnica (ComQuali), e apoio na compra de insumos (Central de Compras).
“Temos um modelo de parceria formal e de longo prazo com produtores de leite, construído ao longo dos 50 anos da Danone no Brasil.”
Maximização dos benefícios
Negócios que dependem da agricultura, como a Danone, estão no centro de grandes desafios, como as mudanças climáticas, escassez de água, perda de biodiversidade. O que a empresa está fazendo para reverter este quadro, principalmente em benefício dos 58.000 agricultores com os quais se relaciona em todo o mundo?
“Como uma empresa de alimentos e bebidas, uma das formas mais importantes de proporcionar um impacto ambiental e social positivo é por meio dos modelos agrícolas que escolhemos. Por isso, estamos firmemente comprometidos com a agricultura regenerativa.”
Quando adotada nas condições certas, esta abordagem pode maximizar os benefícios da agricultura, protegendo e melhorando a saúde do solo, a biodiversidade, a água recursos e o clima, promovendo simultaneamente o bem-estar dos animais e apoiando a resiliência agrícola e a rentabilidade a longo prazo.
Matriz energética em transição
Este ano, a Danone também lançou um Programa Global de Eficiência Energética, o “Re-Fuel Danone”, para transformar a pegada energética dos seus locais de produção em todo o mundo. “Já utilizamos 70,5% de eletricidade renovável em nossas operações e mudamos para fontes de energia renovável em mais de três localidades.”
Costa a fábrica de Nutrição Especializada, em Poços de Caldas, como exemplo de redução das emissões de gases de efeito estufa dos escopos 1 e 2 (da operação e da energia consumida). Esta planta faz uso de energia elétrica proveniente de fontes 100% renováveis, parte gerada por 1.500 painéis solares localizados na própria unidade industrial. Já para o escopo 3 (cadeia de valor), a empesa aplica capacitação dos fornecedores em agricultura regenerativa.
Em 2020, a Danone registrou globalmente quase 100% de fontes sustentáveis certificadas de commodities. De acordo com a gerente de Sustentabilidade da empresa, a companhia planeja acelerar esse processo, entregando cadeias de suprimentos com desmatamento zero verificado em cinco commodities prioritárias até 2025: soja, óleo de palma, ração animal, cacau e papel & papelão.
“Triple A” em mudanças climáticas, preservação florestal e segurança hídrica
Os esforços da Danone foram reconhecidos pelo Carbon Disclosure Project (CDP), que concedeu à empresa uma nota A para no quesito “Preservação Florestal” e, pelo quarto ano consecutivo, um “Triplo A” nas três áreas ambientais avaliadas: mudanças climáticas, preservação florestal e segurança hídrica.
Globalmente, os principais avanços são: 98% de óleo de palma certificado, sendo 100% até a moagem e 85% até a plantação; 80% de cacau certificado; papel e cartão 98% certificado para embalagens; 100% do papel e cartão rastreáveis até o país de origem, 90% até a moagem.
A companhia promove ainda a economia circular, com soluções para sustentáveis para a destinação de embalagens e redução de resíduos. A empresa assumiu o compromisso de oferecer embalagens 100% reutilizáveis, recicláveis, compostáveis até 2030. Até o fim desta década, também planeja reduzir em 50% o desperdício nas operações e em seus sete centros de distribuição no país.