Estão previstas discussões sobre o papel que o grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo, União Europeia e União Africana pode desempenhar no tratamento das tensões internacionais
21 de fevereiro de 2024
O Chanceler do Brasil, Mauro Vieira, incluiu as mudanças climáticas entre “as guerras que devemos travar em 2024”, durante o seu discurso de abertura da reunião dos Ministros de Relações Exteriores do G20, nesta quarta-feira (21/2), no Rio de Janeiro. O tema foi destacado pelo ministro brasileiro, junto com pobreza e desigualdade, como ameaça existencial, que demanda paz e cooperação para ser enfrentado.
Não podemos ignorar o fato de que a governança global precisa de profunda reformulação, disse ele, no discurso focado principalmente em uma das três prioridades do Brasil na presidência do G20: a reforma da governança global. As outras duas são o combate à fome, pobreza e desigualdade; e o desenvolvimento sustentável, em suas dimensões econômica, social e ambiental.
No encontro de dois dias, estão previstas discussões sobre o papel que o G20 pode desempenhar no tratamento das tensões internacionais em curso e a reforma da governança global. O G20 reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e, a partir deste ano, a União Africana.
Paz e cooperação para mobilização de recursos
“Sem paz e cooperação, será extremamente difícil alcançarmos a prometida mobilização em larga escala dos recursos necessários para enfrentar as ameaças existenciais que enfrentamos, em particular o combate à pobreza e à desigualdade e a proteção do meio ambiente”, disse ele.
O chefe do Itamaraty acrescentou que não é minimamente razoável que o mundo ultrapasse – e muito – a marca de US$2 trilhões em gastos militares a cada ano. A título de comparação, os programas de ajuda da Assistência Oficial ao Desenvolvimento permanecem estagnados em torno de US$60 bilhões por ano – menos de 3% dos gastos militares. Os desembolsos para combater mudanças climáticas, sob o amparo do Acordo de Paris, mal conseguem alcançar os compromissos de US$100 bilhões por ano, portanto menos de 5% dos gastos militares.
“Se a desigualdade e mudanças climáticas de fato constituem ameaças existenciais, não consigo evitar a sensação de que nos faltam ações concretas sobre tais questões.”, afirmou. “Temos problemas urgentes a resolver no tocante ao desenvolvimento e à luta contra a fome, a pobreza e a desigualdade; temos desafios gigantescos em relação às mudanças climáticas e ao meio ambiente; temos uma responsabilidade coletiva de liderar o mundo rumo à prosperidade para todos e todas. Essas são as guerras que devemos travar em 2024.”
Reforma da governança global
O ministro disse que, em todos esses esforços, é de fundamental importância a existência de um sistema multilateral moderno, eficaz e eficiente, guiado por normas e princípios rigorosamente seguidos por todos os países, com as Nações Unidas em seu centro.
“Não podemos ignorar o fato de que a governança global precisa de profunda reformulação. Nossas diferenças devem ser resolvidas ao amparo do multilateralismo e das Nações Unidas, utilizando como métodos o diálogo e a cooperação, e nunca por meio de conflitos armados.”
O ministro lembrou que o G20 foi concebido como um fórum para discussões sobre questões financeiras e de desenvolvimento. No entanto, acrescentou, o grupo “é hoje, possivelmente, o foro internacional mais importante onde países com visões opostas ainda conseguem se sentar à mesa e ter conversas produtivas, sem necessariamente carregar o peso de posições arraigadas e rígidas que têm impedido avanços em outros foros, como o Conselho de Segurança.”
Segundo ele, “o G20 pode e deve desempenhar um papel fundamental para a redução das tensões internacionais, bem como no avanço da agenda de desenvolvimento sustentável.”
Ministro Mauro Vieira discursa na abertura da reunião de chanceleres do G20. Foto: Audiovisual/G20