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Temperaturas extremas causam chuvas mais fortes em algumas regiões do país e secas em outras

Temperaturas extremas causam chuvas mais fortes em algumas regiões do país e secas em outras

O estudo foi elaborado a pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para subsidiar as discussões para a atualização do Plano Clima – Adaptação

14 de novembro de 2023

Quem acha que o Brasil não vai ser tão afetado pelo aquecimento global, por já estar localizado numa parte do planeta naturalmente mais quente, está muito enganado. A atual onda de calor indica que as temperaturas também podem continuar a ficar mais extremas também nesta parte do globo. Para provar cientificamente que clima já está mudando e afeta o país de múltiplas formas, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), avaliaram as mudanças observadas no Brasil nos últimos 60 anos.

Como o Brasil tem dimensões continentais, enquanto em algumas regiões há aumento das temperaturas, em outras ocorrem mais chuvas intensas ou secas. O aumento e a redução nos índices de chuvas resultam em extremos climáticos estabelecidos por dois indicadores: de dias consecutivos secos (CDD) e de precipitação máxima em cinco dias (RX5day).

Além das tendências nas séries de dados sobre precipitação (chuvas) e temperatura máxima, três índices refletem os extremos climáticos: CDD, RX5day e ondas de calor (WSDI).

O estudo foi elaborado a pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para subsidiar as discussões para a atualização do Plano Clima – Adaptação. De acordo com os especialistas, conhecer as mudanças climáticas é fundamental para caracterizar a ameaça que ela representa e analisar os possíveis impactos, vulnerabilidades e necessidades de adaptação. Os dados confirmam o exercício executado para a Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção do Clima.

Mudança climática afeta todo o país

Os cálculos foram efetuados para todo o território brasileiro e consideraram o período de 1961 a 2020. Os especialistas estabeleceram os anos de 1961 a 1990 como referência, e efetuaram análises segmentadas sobre o que aconteceu com o clima para três outros períodos: 1991-2000, 2001-2010 e 2011-2020.

Entre 1991 e 2000, as anomalias positivas de temperatura máxima não passavam de cerca de 1,5°C. Porém, atingiram 3°C em alguns locais entre 2011 a 2020, especialmente na região Nordeste e proximidades. No período de referência, a média de temperatura máxima no Nordeste era de 30,7°C e sobe, gradualmente, para 31,2°C em 1991-2000, 31,6°C em 2001-2010 e 32,2°C em 2011-2020.

As anomalias de precipitação acumulada também são observadas nos três períodos avaliados, mas destacam-se duas regiões contrastantes entre 2011 e 2020. Enquanto houve queda na taxa média de chuvas, com variações entre –10% e –40% do Nordeste até o Sudeste e na região central do Brasil, foi observado aumento entre 10% e 30% na área que abrange os estados da região Sul e parte dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Extremos climáticos

No período de referência, entre 1961 e 1990, os dias consecutivos secos somavam, em média, de 80 a 85. O número subiu para cerca de 100 dias de 2011 a 2020 nas áreas que abrangem o norte do Nordeste e o centro do país.

Os mapas demonstram que a região Sul vem sendo a mais afetada pelas chuvas extremas ao longo das últimas décadas. No período de referência, a precipitação máxima em cinco dias era de cerca de 140 mm, mas passou a uma média de 160mm.

Ondas de calor extremo

Os dados indicam que houve aumento gradual das ondas de calor anormais ao longo dos períodos analisados, praticamente em todo o Brasil. Exclui-se a região Sul, a metade sul do estado de São Paulo e o sul do Mato Grosso do Sul. No período de referência, o número de dias com ondas de calor não ultrapassava sete, mas de 1991 a 2000 subiu para 20 dias; entre 2001 e 2010, atingiu 40 dias; e de 2011 a 2020, chegou a 52 dias.

“Essas informações são a fonte que podemos reportar como fidedignas daquilo que está sendo sentido no dia a dia da sociedade. Estamos deixando de perceber para conhecer. Esse é um diferencial de termos essa fonte de dados robusta”, afirmou o diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do MCTI, Osvaldo Moraes. “São dados relevantes para fazer a ciência climática dar suporte à tomada de decisão. Estamos deixando a percepção de lado para aprofundar o conhecimento”, complementou.

Observações em mais de 1.252 estações meteorológicas

Para o estudo, foram considerados dados de 1.252 estações meteorológicas convencionais, sendo 642 estações manuais e 610 automáticas e um total de 11.473 pluviômetros para os dados de precipitação.

A partir dessas informações críticas, foram analisados três extremos climáticos. O número de dias consecutivos secos (CDD) foi calculado estimando-se o número de dias seguidos com precipitação inferior a 1mm. O RX5day registra a maior quantidade de precipitação em 5 dias. O WSDI representa a soma de dias de ondas de calor no ano. Caracteriza-se como onda de calor o mínimo 6 dias consecutivos em que a temperatura máxima superou um limiar de ao menos 10% do que é considerado extremo, comparado ao período de referência.

“O mais recente relatório do IPCC destacou que as mudanças climáticas estão impactando diversas regiões do mundo de maneiras distintas. Nossas análises revelam claramente que o Brasil já experimenta essas transformações, evidenciadas pelo aumento na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos em várias regiões desde 1961 e irão se agravar nas próximas décadas proporcionalmente ao aquecimento global”, ressaltou o pesquisador do Inpe Lincoln Alves, que coordenou os estudos.