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Agência calcula que crescimento médio da produção de 4% ao ano tem que passar a 13% anuais

Agência calcula que crescimento médio da produção de 4% ao ano tem que passar a 13% anuais

Apoio político será fundamental para garantir aumento da disponibilidade dos bioinsumos, que esbarra da restrição de matérias-primas e concorrência com alimentos

O ritmo atual de produção global de biocombustíveis líquidos não é suficiente para chegar à neutralidade das emissões de gases de efeito estufa em 2030. Mirando um cenário net zero, o crescimento precisa triplicar, passando da média de 4% registrada nos últimos cinco anos para 13%, prevê a Agência Internacional de Energia (AIE), em novo relatório publicado nesta terça-feira (26/9).

A AIE destaca que mais de 80% dos biocombustíveis são atualmente usados nos Estados Unidos, Brasil, Europa e Indonésia, onde uma combinação de regulamentações, incentivos financeiros e padrões técnicos apoiaram a sua expansão. Mas também precisam chegar a outras partes do mundo.

Nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento, a procura por biocombustíveis deve aumentar rapidamente. Na Índia, a participação do volume de etanol na gasolina saltou de 4% em 2019 para mais de 10% em 2022, o que proporciona um exemplo do que pode ser feito. No Brasil, o Projeto de Lei do Combustível do Futuro, encaminhado recentemente ao Congresso pelo governo, também aumenta a proporção de etanol misturado à gasolina, de 27,5% para 30%.

Na maioria dos países, porém, as taxas de mistura são baixas, devido ao elevado custo dos biocombustíveis líquidos e ao apoio político limitado. Outra barreira importante ao aumento da produção de biocombustíveis líquidos em termos globais é a disponibilidade limitada de matérias-primas.

Com que rapidez o uso de biocombustíveis poderá se expandir?

Os projetos existentes e anunciados cobririam metade do aumento da procura, assumindo que todos eles vão em frente. Como novas instalações levam apenas cerca de dois a três anos para serem construídas, significa que ainda há tempo para projetos adicionais preencherem a lacuna. Isso vai depender de decisões políticas, diz a AIE.

No cenário net zero, é necessária a produção de biocombustíveis a partir de um conjunto mais amplo de matérias-primas. Em 2030, 40% da produção será baseada nas chamadas matérias-primas avançadas, ou seja, materiais que não competem com a produção de alimentos para consumo humano e animal.

Entre elas estão resíduos agrícolas, florestais e de óleos, gorduras e graxas. Em 2050, sua participação na produção total chega a 75%.

Expandir a base de matérias-primas usadas para produzir biocombustíveis líquidos requer um foco em cinco grandes áreas:

Melhorar a produtividade da terra: cultivo consorciado, culturas de cobertura e em áreas marginais, além de melhoria do rendimento das colheitas, por exemplo, têm potencial para expandir a oferta de matérias-primas. Nos últimos dois anos, sete grandes empresas de energia, incluindo ExxonMobil, Eni, Chevron Corporation e BP, anunciaram projetos e parcerias para desenvolver essas matérias-primas.

Melhorar a coleta de resíduos: Estima-se que 20 milhões de toneladas de resíduos de óleos e gorduras são geradas anualmente. Graxas compatíveis com o biodiesel comercial e tecnologias de produção de diesel renovável poderiam ser direcionadas para produção de biocombustíveis. São também necessários esforços adicionais para usar os resíduos lenhosos da agricultura e da silvicultura. A coleta pode ser facilitada pela construção de instalações próximas das fontes de abastecimento, como as empresas estão fazendo em algumas usinas de açúcar no Brasil e na Índia, e em indústrias florestais dos Estados Unidos.

Implantar tecnologias que possam processar diversas matérias-primas: São necessários esforços globais para comercializar e expandir tecnologias que possam converter matérias-primas em biocombustíveis em grande escala. Brasil e Índia estão construindo sete projetos de etanol celulósico que utilizam resíduos agrícolas para criar etanol, enquanto uma planta que converte resíduos florestais em bioquerosene para aviação está sendo construído nos Estados Unidos.

Reduzir a intensidade das emissões do ciclo de vida dos biocombustíveis: captura do CO2 oriundo da produção de bioenergia e biocombustíveis (Carbon Capture Utilisation and Storage – CCUS), melhorias nas instalações e carbono sequestrado no solo também oferecem caminhos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa de cada litro de biocombustível produzido. Os Estados Unidos, por exemplo, estão planejando dutos de transporte de CO2 que conectariam cerca de 30 instalações de etanol com Armazenamento de carbono.

Desenvolver e implementar estruturas de sustentabilidade baseadas no desempenho: os esforços para expandir o fornecimento de matérias-primas precisa ser acompanhado de medidas que incluam metodologias de avaliação de carbono. O desenvolvimento de tais estruturas desempenhará um papel fundamental para garantir que os esforços para expandir os biocombustíveis são eficazes e sustentáveis.