Documento foi divulgado no mesmo dia em que a Comissão Europeia abriu consulta pública para obter feedback sobre produtos de investimento sustentável e melhorar o SFDR
Uma equipe formada por funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e da OCDE publicou nesta quinta-feira um novo relatório que compara métodos “para garantir que as atividades do setor financeiro funcionem a favor e não contra o Acordo de Paris”. O relatório que também recebeu contribuições de equipe do BIS visa, em última análise, a fornecer uma base mínima de compatibilidade entre as abordagens existentes e combater o greenwashing.
O documento foi publicado na mesma data em que a Comissão Europeia abriu uma consulta pública para obter feedback sobre novos produtos de investimento sustentável, destinada a melhorar o Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (SFDR). O objetivo é saber como o regulamento funciona na prática, incluindo os custos para o mercado financeiro, se está conseguindo canalizar recursos para o financiamento de atividades sustentáveis etc.
“Como um bem público global, a mitigação das alterações climáticas requer um nível sem precedentes de cooperação e coordenação política entre países. Este documento ajudará a ampliar o financiamento climático, contribuindo para a concepção de um quadro de financiamento de transição aplicável aos mercados emergentes e às economias em desenvolvimento”, disse a autora principal do Banco Mundial, Fiona Stewart.
De acordo com o texto, o estudo visa ajudar os tomadores de decisão, desde políticos e reguladores e entidades do setor privado, a melhorar as “abordagens de alinhamento” sobre o financiamento sustentável, identificando os principais elementos de concepção e implementação que possam fornecer uma base mínima de comparabilidade entre abordagens.
Apoio ao financiamento para reduzir emissões de carbono
Aumentar o financiamento privado para apoiar a transição para emissões líquidas zero de carbono significa fornecer informações mais confiáveis aos investidores. O documento ressalta a importância de os investidores terem os meios para identificar os investimentos de baixo carbono e de transição, bem como avaliar as estratégias de investimento voltadas para a redução das emissões de gases de efeito de estufa.
Essas estruturas utilizam diversas ferramentas (tais como taxonomias, metodologias de pontuação, divulgação e estruturas de planejamento de transição). E partilham características comuns: transparência baseada na ciência, benchmarking para fins de alocação de capital, planejamento de transição e tomada de decisões de investimento, e têm a função de combater o greenwashing ou lavagem verde, diz o texto.
No entanto, muitos países – especialmente economias emergentes e em desenvolvimento, nem sempre dispõem de quadros robustos ou carecem de dados e indicadores que os sustentem. “Onde existem quadros e dados, raramente são interoperáveis, tornando difícil para os investidores comparar os riscos relacionados com o clima e as necessidades e oportunidades de financiamento entre os mercados”, diz o documento.
A falta de comparabilidade e interoperabilidade entre países e regiões agrava as inconsistências dos dados, conduzindo à fragmentação do mercado e a custos de transação mais elevados. Também prejudica os esforços para avaliar com precisão se o financiamento contribui para alcançar, ou prejudica, os objetivos do Acordo de Paris, falhando, em última análise, o objetivo de alinhamento.
Orientação para setores de difícil descarbonização
Ao desvendar diferentes abordagens de alinhamento, o novo relatório pretende aumentar a compreensão de como e quando elas se interligam. Fornece sugestões técnicas sobre como abordar a concepção e implementação de abordagens.
“As abordagens de alinhamento podem informar a concepção (e a prestação de contas para a responsabilização) de planos de transição críveis e comparáveis por parte de investidores ou outras empresas a montante. A combinação de abordagens voltadas para o passado e para o futuro também poderia contribuir para cobrir a transição climática de toda a economia, incluindo os setores intensivos em carbono e os emissores baseados em EMDE, onde grande parte do potencial de financiamento dos processos de descarbonização permanece inexplorado”, afirmou a autora principal do FMI, Charlotte Gardes-Landolfini.
O relatório também fornece orientação técnica aos decisores políticos sobre a identificação e priorização das necessidades de financiamento climático, incluindo em setores de difícil descarbonização, e aos investidores sobre a devida diligência relacionada com outros objetivos ambientais e sociais, incluindo a consistência climática nas cadeias de abastecimento.
Além disso, como muitas empresas financeiras e não financeiras começaram a desenvolver planos que demonstram como irão atingir os seus objetivos relacionados com o clima, o documento apresenta ferramentas para melhorar a credibilidade, a responsabilização e a adoção do planejamento de transição. Este processo abrange atividades e projetos intensivos em carbono que precisam passar por uma descarbonização significativa ou serem eliminados gradualmente.