carbonreport.com.br

Oxfam diz que parcela 1% mais rica da população mundial emite 16% do CO2

Oxfam diz que parcela 1% mais rica da população mundial emite 16% do CO2

Documento pré-COP28 baseado em dados científicos calcula que quantidade de carbono lançada por 77 milhões de pessoas mais afortunadas é a mesma emitida pelos 5 bilhões de pessoas mais pobres

20 de novembro de 2023

O colapso climático e a extrema desigualdade são os dois principais desafios do mundo atual e não crises separadas: uma se alimenta da outra. A avaliação é do relatório “Igualdade Climática: um Planeta para os 99%”, baseado em dados globais produzidos por especialistas de todo o mundo. Segundo o estudo, as emissões de dióxido de carbono (CO2) da parcela 1% mais rica da população mundial (77 milhões de pessoas) representaram 16% do total do planeta em 2019. Isso equivale à mesma quantidade de carbono emitida por 66% da população pobre global, de 5 bilhões de pessoas.

A organização não governamental Oxfam atua contra pobreza, desigualdades e injustiça. A entidade internacional aponta que os mais ricos são os principais investidores em indústrias poluentes e têm estilos de vida que resultam em grandes emissões de CO2, impulsionando o aquecimento global.

O documento foi elaborado com dados do Stockholm Environment Institute (Instituto Ambiental de Estocolmo) e avalia as estatísticas nacionais de emissões de consumo de 196 países, entre 1990 e 2019, do Global Carbon Atlas (Atlas Global de Carbono), que cobre quase 99% das emissões globais. Os dados de renda nacional e os números populacionais foram obtidos do Penn World Table (PWT) e do Banco Mundial.

Emissões dos mais ricos podem causar 1,3 milhão de mortes pelo calor

Segundo o estudo, em 2019, as emissões da parcela 1% mais rica da população serão suficientes para causar mortes de 1,3 milhão de pessoas de 2020 a 2100. Isso seria provocado pelo aumento do calor.

“É inaceitável que o 1% mais rico continue liderando o mundo ladeira abaixo para um colapso planetário. E quem vem sofrendo o impacto dos danos dessa viagem é a maioria da população. São bilhões de pessoas impactadas por enchentes, secas, perdas de território, aquecimento e baixa de temperatura desproporcional, problemas de saúde e pobreza”, diz Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil.

O impacto da crise climática é desigual entre a população, atingindo mais quem vive na pobreza, mulheres e meninas, pessoas negras, comunidades indígenas, quilombolas e povos tradicionais nos países do Sul global. Esses efeitos aumentam as desigualdades entre os países e dentro deles.

Oxfam defende tributação dos super-ricos

As soluções, conforme a Oxfam, passam por medidas como a tributação dos super-ricos, investimento em serviços públicos e cumprimento das metas climáticas. Segundo cálculo da Oxfam, um imposto de 60% sobre a renda da parcela 1% mais rica do mundo arrecadaria US$ 6,4 trilhões, que poderiam ser utilizados para o enfrentamento da crise climática, por exemplo, financiando a transição energética e a preparação para países e regiões que têm grande parte de sua população afetada.

Outra projeção aponta que um imposto de 2% sobre a riqueza dos milionários, de 3% sobre aqueles com riqueza superior a US$50 milhões de 5% sobre os bilionários do mundo resultaria em um montante de US$1,726 trilhão em recursos para os governos.
“É preciso fazer a conexão entre o excesso de riqueza e o colapso climático. Está passando da hora dos super-ricos serem taxados mundialmente. Essa é uma forma de levantar recursos para enfrentar de maneira mais eficaz as mudanças climáticas e as desigualdades. E a sociedade deve se mobilizar e pressionar os governos para que essa taxação ocorra”, acrescenta Maia.

Desigualdade piora os impactos do clima extremo

As recomendações da Oxfam incluem o aumento radical da igualdade, por meio de políticas governamentais. Os países com altos índices de desigualdade sofrem sete vezes mais mortes por inundações do que países mais igualitários. De acordo com a Oxfam, “sociedades economicamente mais igualitárias são vitais para enfrentar desigualdades como gênero, raça, religião e casta. Sociedades mais igualitárias são capazes de gerir os enormes riscos e impactos das condições meteorológicas extremas de forma mais eficaz e justa.”

De acordo com a organização, é preciso substituir os combustíveis fósseis por renováveis e limpos. Segundo o texto, as nações ricas e poluentes devem eliminar “rápido e gradualmente o uso dos combustíveis fósseis e cessar imediatamente a emissão de quaisquer novas licenças ou a permissão da expansão da exploração, extração ou processamento de carvão, petróleo e gás”, tributando quem ganha com essas atividades.

A entidade defende ainda uma nova dinâmica para o sistema econômico atual, desvinculada do crescimento econômico, extração e consumo excessivos a qualquer custo.