Segundo a especialista em Sustentabilidade e Relações Governamentais da empresa, Márcia Sakamoto, o valor alto é para estimular investimentos em alternativas de baixo carbono
Mariza Louven
A Siemens já reduziu drasticamente a pegada de carbono de suas operações no Brasil, de 2.480 toneladas (ano-base de 2014) para 172 toneladas atualmente. Mas para descarbonizar ainda mais rápido as suas atividades no país e acelerar a meta net zero global, o conglomerado industrial alemão adotou a precificação interna de carbono, de US$ 240 a tonelada.
O chamado preço-sombra do CO2 é uma maneira de estimular investimentos em alternativas de baixo carbono como a eletrificação da frota de automóveis, por exemplo, informa ao Carbon Report a especialista em Sustentabilidade e Relações Governamentais da empresa, Márcia Sakamoto.
A Siemens instituiu, voluntariamente, a precificação de carbono no Brasil como forma de conscientizar e impulsionar a redução das emissões nas suas operações, explica Sakamoto. “É importante implementar um preço de CO2e (CO2 equivalente) para permitir a integração dos custos reais relacionados com as emissões na tomada de decisões de negócios”, acrescenta.
O preço do carbono deve ser alto o suficiente para desencadear uma mudança para tecnologias de baixo carbono, diz ela, assim como a regulação do mercado de carbono é essencial para cumprirmos com as promessas feitas no Acordo da COP21, de Paris.
Regulação pode tornar Brasil protagonista mundial
A adoção de um sistema de comércio de emissões do tipo cap and trade no mercado regulado de carbono poderá tornar o Brasil um dos principais protagonistas mundiais, opina. Na visão dela, como o país dispõe de um setor florestal com grande geração de créditos, este modelo permitirá vender esses títulos aos países mais emissores e ajudar a reverter a curva de emissões do mundo. “Teoricamente, é a melhor maneira de se gerir os recursos naturais e lidar com a poluição”, acrescenta.
Sakamoto também defende que seja estabelecida uma política climática clara e medidas para a promoção de finanças e instrumentos econômicos sustentáveis. “Tais medidas têm o potencial de contribuir para acelerar significativamente uma modernização dos sistemas econômicos e financeiros, que irá estimular uma estratégia empresarial que enderece os investimentos em descarbonização”, assinala.
Para Sakamoto, são necessárias políticas públicas que incluam incentivos fiscais, como redução de impostos ou créditos tributários para soluções em descarbonização (tecnológicas e natureza), subsídios e incentivos financeiros para impulsionar investimentos em projetos sustentáveis, como energia renovável, transporte limpo e tecnologias verdes.
Energia 100% renovável no Brasil
No ano fiscal de 2022, mais de 77% das aquisições globais de eletricidade do grupo consistiam em eletricidade de fontes renováveis. Como um resultado, as emissões (escopo 2) foram reduzidas de um total de 465 mil toneladas de CO2e por ano em comparação com o mix médio de eletricidade. No mesmo ano, a empresa passou a adquirir 100% de energia elétrica de fontes renováveis no Brasil, antecipando seu compromisso mundial relacionado ao insumo.
“Isso significa que 100% da energia elétrica consumida na sede da empresa, na localidade Anhanguera, e em Jundiaí, e na localidade Jundtech, são provenientes de fontes renováveis”. Segundo ela, a empresa optou por comprar parte da energia limpa no mercado livre incentivado para suas localidades.
A empresa já havia adotado soluções para ar-consicionado, controle de fluxo de água, de consumo de energia, entre outros, todos monitorados por ferramentas digitais. Além disso, sua sede na localidade de Anhanguera conta com 45 mil metros quadrados de Mata Atlântica preservada e segue investindo em soluções como energia solar.
A Siemens também tem atuado para ampliar a eficiência energética de suas localidades, com medidas como modernização e automação em iluminação e ar-condicionado, implementação de sensores de presença e trocas de lâmpadas para modelos de LED.
Caminho rumo ao net zero
Em 2015, a Siemens foi a primeira empresa industrial global a se comprometer com a neutralidade de carbono até 2030. Em 2021, reiterou seu compromisso ao aderir ao Science Basic Target initiative (SBTi) para apoiar o Acordo Climático de Paris, de limitar em até 1,5ºC o aquecimento global.
Para chegar ao net zero em 2030, a empresa precisará cortar 90% de suas emissões em comparação com 2019 e compensar o carbono remanescente com certificados de CO2e. O grupo tem uma diretriz interna definindo parâmetros para a posterior aquisição necessária de certificados de CO2e, com ênfase em títulos de alta qualidade que atendam aos padrões estabelecidos.
O investimento em sua própria descarbonização, até 2030, é estimado em 650 milhões de euros, especialmente por meio da implementação de tecnologias próprias.
“Estamos confiantes que o net zero será alcançado antes do programado”, afirma Sakamoto.
Desde 2015, quando assumiu o compromisso de zerar suas emissões até 2030, o grupo vem fazendo progressos no Brasil que contribuem para acelerar o resultado mundial. Só em 2022, a redução foi de 67% em suas emissões operacionais de CO2e no país. Considerando o ano-base de 2014, quando o total no país chegava a 2.480 toneladas, o avanço foi ainda maior.
Investimentos em ações de eficiência energética e otimização de processos ajudaram a empresa a registrar 520 toneladas de CO2e em 2019 e 172 toneladas de CO2e atualmente.
Resultados
A Siemens reduziu suas emissões operacionais de CO2e em 46%, em termos globais, na comparação com o ano-base de 2019. Hoje, o valor corresponde a 582 mil toneladas. Para criar uma transparência adicional ao longo do caminho até 2030, o grupo estabeleceu uma meta intermediária de cortar as emissões de sua operação em 55% até o final do exercício fiscal de 2025, em relação aos níveis de 2019. Na cadeia de suprimentos (emissões do escopo 3), a meta é eliminar 20% até 2030 e alcançar o net zero até 2050.
Os compromissos mundiais da Siemens com o EV100, EP100 e RE100 são os principais norteadores até 2030, informa.
Além do SBTi, a Siemens aderiu a três outras iniciativas do Climate Group, uma comunidade global de empresas que compartilham dos mesmos valores e objetivos até 2030: frota composta por 100% de veículos elétricos (EV100); possuir ou alugar apenas edifícios com emissões zero de carbono equivalente (EP100); e obter energia elétrica 100% renovável (RE100).
No Brasil, também se juntou ao Movimento Ambição Net Zero do Pacto Global, o Acordo Ambiental São Paulo e o posicionamento Empresários pelo Clima do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Descarbonização e eficiência de recursos
Segundo Sakamoto, a empresa se esforça para oferecer benefícios com seus produtos e aplicações. As atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) são voltadas para o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis para os clientes e para os negócios da Siemens e, simultaneamente, para fortalecer a sua competitividade.
“O amplo portfólio de tecnologia da Siemens oferece suporte ao setor público e privado com soluções inovadoras e modelos de negócios na transição para um futuro neutro em carbono, assinala.
As atividades de P&D como ferramentas de design, gêmeo digital, otimização de algoritmos e descarbonização (ferramentas para apoiar a transformação da sustentabilidade e a “fábrica verde”, transparência e otimização da pegada de carbono) foram adicionados ao core business.
No ano fiscal de 2022, foram relatadas as despesas totais de pesquisa e desenvolvimento de 5,6 bilhões de euros e 46.900 funcionários de P&D em suas operações contínuas. Em 30 de setembro do mesmo ano, a Siemens detinha aproximadamente 43.600 patentes concedidas em todo o mundo, respectivamente.
Tecnologias próprias
A aplicação de tecnologias próprias nas operações está em andamento nos projetos Anhanguera Green & Digital e no JundTech (localidades da empresa em São Paulo, na capital, e em Jundiaí, respectivamente). “O projeto Anhanguera Green & Digital é um bom exemplo de utilização de soluções tecnológicas na consolidação de operações sustentáveis, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, acrescenta.
Este projeto foi lançado em 2022 e prevê o desenvolvimento de soluções para as instalações da sede da empresa no Brasil, localizada em São Paulo, tais como controle de temperatura de ar-condicionado, de fluxo de água e de consumo de energia, entre outros, todos monitorados por ferramentas digitais. Embora já esteja em uma condição privilegiada em termos de emissões, a localidade segue investindo em soluções como energia solar, contribuindo para que a Siemens mundialmente se torne neutra em carbono.