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Empresa quer oferecer infraestrutura para transformação do gás de efeito estufa em biogás

Empresa quer oferecer infraestrutura para transformação do gás de efeito estufa em biogás

Novo negócio será focado na captura do CH4 dos aterros sanitários urbanos, informa ao Carbon Report o vice-presidente de Sustentabilidade da Ocyan, Marcelo Mafra Borges de Macedo

22 de novembro de 2023

Mariza Louven

O metano ainda é o patinho feio da descarbonização, um termo genérico para resumir a redução das emissões de gases de efeito estufa, entre os quais estão o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e outros três principais responsáveis pelo aquecimento global. Para a Ocyan, porém, o metano 20 vezes mais poluente do que o gás carbônico poderá ser um importante protagonista na meta de neutralizar a sua pegada de carbono até 2050.

Em entrevista ao Carbon Report, o vice-presidente de Sustentabilidade da empresa, Marcelo Mafra Borges de Macedo, afirma que a Ocyan planeja diversificar suas atividades para ampliar a descarbonização em toda a sua cadeia produtiva. A estratégia é passar a oferecer ao mercado serviços e expertise na implementação de infraestruturas voltadas para a captura do metano em aterros sanitários urbanos e sua transformação em biogás.

Marcelo Mafra Borges de Macedo
O vice-presidente de Sustentabilidade da Ocyan, Marcelo Mafra Borges de Macedo, fala sobre os planos de descarbonização da empresa

O fornecimento e a implantação dessas estruturas abrem, ainda, a possibilidade de uma considerável redução do impacto no efeito estufa, pois o metano capturado será destinado à produção energética. Isso ocorrerá por meio de sua combustão, com geração de CO2, 20 vezes menos poluente do que o CH4, afirma Mafra.

Nos aterros sanitários das cidades, o gás metano é produzido naturalmente, devido à decomposição da matéria orgânica. A infraestrutura de aproveitamento do biometano permitirá reter esse gás que é 20 vezes mais nocivo, e o seu aproveitamento como insumo energético: “Quando queimado, o metano gera CO2, portanto muito menos poluente, entretanto o CO2 ainda é poluente. Mas o ganho desse projeto é eliminar o metano como poluente maximizador do efeito estufa, por meio do aproveitamento desse gás gerado nos lixões. O melhor aproveitamento do biometano aumentará a oferta de energia para as populações, indústrias e reduzirá substancialmente o efeito estufa.”

Projetos de captura de metano vão gerar créditos de carbono

A ideia é gerar créditos de carbono de alta qualidade, mais valorizados tanto para reduzir as emissões de gases de efeito estufa da própria empresa quanto dos participantes de sua cadeia de produção. Os créditos de CO2 resultantes da produção de biometano poderiam ser enquadrados na categoria de remoção, mais valorizada do que a de mitigação, porque resultariam de projetos que retirariam poluentes do ar.

O plano da Ocyan, uma fornecedora de soluções para a indústria do petróleo, é incluir o metano em seu cardápio de opções para o setor de óleo e gás, naturalmente considerado um mercado que possui enormes desafios para descarbonização. Com o desenvolvimento desse novo negócio, a empresa também contribuiria para resolver um grave problema ambiental nos centros urbanos, que são as emissões de metano provenientes dos lixões e aterros sanitários.

A Ocyan é uma empresa de capital fechado controlada pelo Grupo Novonor. Formado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mafra possui pós-graduação executiva em Petróleo e Gás pela COPPE/UFRJ. Antes da Ocyan, onde está desde abril deste ano, atuou na Petrobras, na Agência Nacional do Petróleo (ANP) e na SBM Offshore.

O que a Ocyan está fazendo para descarbonizar suas atividades?

Em 2023, a empresa adquiriu créditos de carbono equivalentes a 7.828 toneladas de CO2 junto à Carbonext. Isso permitiu neutralizar 20% das emissões de escopo 1 (atividades próprias) e 100% das emissões de escopo 2 (matriz energética) ocorridas em 2022, em comparação com o ano base de 2021 – este foi o ano em que a Ocyan firmou seu compromisso na busca pela neutralização das emissões de carbono em suas atividades.

Nas chamadas emissões do escopo 1, difíceis de serem contidas em atividades como as de petróleo, a meta é passar dos atuais 20% para 100% até 2035. De acordo com Mafra, o corte de mais 10 pontos percentuais por ano será obtido, principalmente, por meio de otimizações operacionais, desenvolvimento tecnológico e da aquisição de créditos de carbono.

“Estamos modernizando todas as nossas estruturas, muitas delas existentes há anos. Nossas plataformas foram projetadas antes de 2010, portanto, numa época em que essas preocupações com emissões não existiam ou não estavam tão presentes”, explica.

No que tange às emissões do escopo 2, ou seja, relacionadas à energia comprada e utilizada pela empresa, a equação já foi solucionada. A matriz energética da Ocyan tornou-se neutra em CO2 este ano, depois da realização de investimentos na substituição de fontes de energia do mercado cativo para o mercado livre, garantindo o fornecimento energético de fontes 100% renováveis (eólica, solar, PCH e hidrelétricas) e na melhoria da eficiência dos equipamentos e processos.

Em julho, a Ocyan obteve o selo Carbono Neutro pela compensação de 100% das emissões provenientes do seu consumo de energia. A compra de 1.591 MWh de eletricidade gerada por fontes renováveis permitiu um corte de aproximadamente 67,5 toneladas de CO2.

Metano deve ser aliado no desafio de descarbonizar a cadeia de valor

O mais complicado para qualquer empresa costuma ser a descarbonização em toda a sua cadeia produtiva, devido às dificuldades de influenciar os demais participantes e também de monitorar as emissões de terceiros. Para reduzir as emissões do escopo 3, a Ocyan iniciou campanha com seus fornecedores e identificou que 20% dos integrantes são responsáveis por mais de 80% das emissões. Eles serão os primeiros a serem abordados para monitoramento dos dados e avaliação de como atuar na redução.

Pescadores são remunerados para “pescar” resíduos

Com uma forte presença no Rio de Janeiro, a Ocyan firmou parceria com a BVRio para expandir à região portuária da cidade a coleta de resíduos despejados na Baía de Guanabara. O projeto “Baía Limpa” financia um grupo de pescadores de duas colônias tradicionais: a do Caju e a da Ilha do Governador.

Lixo coletado na Baía de Guanabara
Lixo coletado na Baía de Guanabara
Pescadores de resíduos do projeto Baía Limpa
Pescadores de resíduos do projeto Baía Limpa

A iniciativa prevê a remuneração desses profissionais pela “pesca” de resíduos em dois dias por semana, com meta de retirar 100 toneladas de lixo da Baía de Guanabara em 12 meses. “O apoio ao projeto reforça a preocupação da Ocyan com ações voltadas à proatividade ambiental e climática”, afirma Mafra.

A Baía de Guanabara é a terceira maior do litoral brasileiro e, por décadas, foi o principal acesso para terras brasileiras. É também onde estão localizados portos essenciais para o Rio de Janeiro e para as atividades de petróleo e gás.

“Sabemos que, para despoluir a Baía de Guanabara, é necessário um esforço coletivo que une o governo e a iniciativa privada, mas é importante que cada um faça a sua parte”, acrescenta André Luiz Barros, gerente de Comunicação, Responsabilidade Social e Diversidade da Ocyan.

Barros destaca que a iniciativa também representa uma ação social, já que apoia e incentiva financeiramente os pescadores locais, tendo ainda uma conexão com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (ONU): ODS 10, relativo à redução das desigualdades; e ODS 14, sobre vida na água.