Florestas Kayapó protegidas evitam por ano emissões de gases de efeito estufa equivalentes às de 750 voos Brasília-Tóquio ou a 63 anos de emissões do município do Rio de Janeiro
24 de setembro de 2023
Mariza Louven
O povo Kayapó estoca cerca de 879 milhões de toneladas de carbono por ano em cinco territórios de tamanho maior do que o de Portugal, segundo estudo inédito realizado pelo projeto Tradição e Futuro na Amazônia (TFA), patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental e gerido pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). O objetivo é reforçar a importância histórica dos Kayapó para a preservação da floresta.
Apenas para ficar mais fácil entender, a quantidade de carbono estocado em território Kayapó representa o equivalente a 63 anos de emissões de CO2 pelo município do Rio de Janeiro, nos níveis atuais. Considerando o ritmo da devastação no entorno das terras indígenas, também calculado no estudo, os Kayapó evitam, por ano, o lançamento de 3,5 mil toneladas de CO2 na atmosfera, o equivalente às emissões de 750 viagens de avião entre Brasília e Tóquio.
A área Kayapó localizada no sul do Pará e no norte do Mato Grosso tem 11 milhões de hectares. Desse total, 653 milhões de toneladas de carbono estocado são compostas por biomassa viva, acima do solo – folhas, galhos e troncos vivos. Quando essa vegetação é derrubada ou queimada, o carbono é liberado na atmosfera em forma de gás carbônico (CO2), o mais abundante dos gases de efeito estufa causadores do aquecimento global.
“O estudo reforça a importância da conservação do território Kayapó para mitigar as mudanças climáticas. Ao manter a floresta de pé, os Kayapó evitam emissões de carbono, chave para conter o aumento de temperatura que já provoca eventos extremos em todo o planeta”, afirma Dante Novaes, gerente do projeto no Funbio.
Com o surgimento de novas metodologias de cálculo de créditos de carbono, como o Carbono Social, surge a perspectiva futura de tornar a conservação do território uma importante fonte de renda para os Kayapó. Este mecanismo leva em conta não apenas o desmatamento evitado pelos indígenas em seu território, mas também o componente socioambiental, como o papel que as comunidades tradicionais exercem na manutenção das florestas e da biodiversidade.
A partir do estudo, o TFA busca dar aos Kayapó e à sociedade brasileira informações que respaldem e valorizem o intenso trabalho de preservação feito por este e por outros povos indígenas, que mantêm uma relação espiritual e sustentável com o meio ambiente.
O TFA realiza ações para apoiar as comunidades Kayapó desde 2020, em parceria com três organizações representativas deste povo: os institutos Kabu e Raoni, e a Associação Floresta Protegida. Com atividades que incluem educação ambiental, agricultura sustentável, registro e transmissão de tradições e apoio à geração de renda e à gestão do território, a iniciativa beneficia mais de nove mil indígenas de 57 aldeias.
Entre as ações de apoio estão a construção do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da Terra Indígena (TI) Menkragnoti, no Pará, documento que orienta a administração de uma determinada terra indígena, observando a autonomia dos povos, o princípio da sustentabilidade e outras diretrizes da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI).
As iniciativas do projeto contemplam ações voltadas para a conservação e recuperação de florestas e áreas naturais, proteção da biodiversidade com foco em remoção e manutenção dos estoques de carbono e adaptação à mudança climática, gerando benefícios ambientais e sociais, além de estimular a educação ambiental.
Já o Funbio é uma organização social sem fins lucrativos, criada em 1996 com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e por iniciativa do governo federal para apoiar a implementação da Convenção sobre Diversidade Biológica. Tem extensa experiência na gestão de projetos e de ativos financeiros oriundos da cooperação internacional, de doações do setor privado e de obrigações legais do setor empresarial brasileiro.
Desde 2015, o Funbio é uma agência implementadora nacional do GEF e, em 2018, tornou-se agência do Fundo Verde do Clima (GCF). Desde então, adota as políticas de salvaguardas sociais e ambientais da Corporação Financeira Internacional, IFC. O Funbio já apoiou mais de 400 projetos que beneficiaram mais de 300 instituições em todo o país.
O Programa Petrobras Socioambiental investe em ações como conservação de ambientes e espécies, manutenção e recuperação de biomas, fixação de carbono e emissões evitadas, gestão de recursos hídricos, entre outras.
Fotos da Aldeia Kubenkokre, na Terra Indígena Menkragnoti (MT/PA): Gabriella Furtado/Funbio e Junio Esllei Martins de Oliveira